Folha de S. Paulo
Livro de jornalista negro iniciou
historiografia do mais importante gênero da música brasileira
Você conhece o Assumano Mina do Brasil? O Mirandella, o João da Gente, o Marinho Que Toca? Ao lado de nomes mais badalados —Sinhô, Donga, Pixinguinha, João da Baiana—, são personagens de "Na Roda do Samba", de Francisco Guimarães, o Vagalume, que após 90 anos do lançamento volta às livrarias.
Filho de africanos escravizados e líder religioso da comunidade negra, Assumano vendia azeite de dendê na Cidade Nova. Cantor e compositor, Mirandella integrava o Clube dos Democráticos. João da Gente era repórter do Correio da Manhã e autor de canções carnavalescas. Também conhecido como Amor, Marinho forneceu sambas de sucesso para o cantor Francisco Alves. Para lançar seu olhar sobre a vida cultural carioca no início do século 20, Vagalume privou de intimidade com todos eles.
Um olhar de dentro da roda. Colunista do
Jornal do Brasil e espécie de José Ramos Tinhorão avant-garde, Vagalume viveu o
cotidiano das favelas e os costumes dançantes e musicais dos trabalhadores
afrodescendentes. Deles fez um registro em primeira mão, muitas vezes
desabusado e birrento, destacando os artistas de sua preferência. Os outros
eram "sambestros".
Seu maior desacerto foi não perceber os
benefícios da interação do samba com a indústria fonográfica, tendo como alvo
predileto a figura branca e bem-vestida de Francisco Alves: "O Chico Viola
não é um plagiário. Ele é apenas o padrasto, o pai adotivo de uma infinidade
de sambas de
gente dos morros da Mangueira, Favela, São Carlos, Querosene".
Com linguagem simples, "Na Roda do Samba" deu início à historiografia do mais importante gênero da música brasileira. Falta agora relançar "Samba", de Orestes Barbosa, que apareceu naquele mesmo mês de agosto de 1934 com a vantagem de tocar num ponto desprezado pelo livro de Vagalume: o surgimento em meados dos anos 1920 da turma do Estácio, Heitor dos Prazeres e Ismael Silva à frente.
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