O Globo
Mesmo com um bom cenário de indicadores, não
será um ano fácil. O Ministério da Fazenda terá várias batalhas pela frente
Este ano vai ser diferente daquele que
passou. O crescimento não será concentrado em um único setor, nem apenas em um
período do ano. A agropecuária, que sustentou o PIB de 2023, deve
entrar na conta do produto com o sinal negativo. O primeiro trimestre, que foi
o mais forte no ano, pode ser mais fraco agora. O ano terá um crescimento mais
espalhado pelos trimestres. A queda dos juros vai ocorrer ao longo de várias
reuniões e isso deve ajudar a atividade. A economia também será favorecida pela
melhora da renda, pelo aumento real do salário mínimo e pela própria atividade.
Apesar de serem menores do que no ano passado, a safra e o saldo comercial
serão importantes para manter o ritmo econômico.
Pela natureza da estatística de crescimento, o PIB é sempre a comparação de um período contra o outro. A agricultura apesar de poder registrar queda, colherá a segunda melhor safra da história. O saldo comercial que deu um pulo de US$ 62 bilhões para perto de US$ 100 bilhões no ano passado será menor este ano, mesmo assim será o segundo maior da história. É o que prevê a MB Associados que tem uma projeção de US$ 87 bilhões.
O que há dificuldade de prever é o tempo,
como sempre instável e afetado pelos nossos erros. O clima continua afetado por
mudança climática e pelo El Niño.
É que o fenômeno, que sempre aconteceu, também mudou sua natureza. O El Niño,
com suas secas e chuvas, pode provocar perdas de safra em vários pontos do
país. Não se espera nada desastroso, mas algumas coisas já estão contratadas,
como a perda na safra de trigo do Sul e a redução da produção de algodão. Mas a
safra em geral continuará sendo grande e tendo impacto positivo na economia.
No ano passado houve uma forte desinflação de
alimentos e até deflação. Não se espera esse mesmo fenômeno agora. Os preços
vão aumentar e haverá inflação de alimentos. Mas não se espera uma grande
pressão de preços, exceto nas hortaliças que têm mesmo sazonalidade com altas e
quedas mais pronunciadas.
A inflação teve um comportamento muito melhor
do que o esperando no ano passado e entra em 2024 com várias indicações
positivas. Não é apenas o número em 12 meses que está baixo, em torno de 4,5%,
mas o índice de difusão caiu muito, isso significa que um número menor de
preços, entre os pesquisados, está subindo.Se o cenário inflacionário continuar
benigno, os juros podem chegar na casa dos 9%.
O relaxamento monetário e o Desenrola devem
melhorar o ambiente de negócios e o de consumo.
A dúvida sobre o déficit fiscal do ano de
2024 permanece, com o ministro Fernando
Haddad perseguindo a meta de equilibrar as contas, e as
projeções de que haverá déficit. Mas se houver o que o mercado projeta é que
fique em torno de 0,7% a 0,8% do PIB. Não será um déficit explosivo, pelo
contrário, o país estará cumprindo uma redução ano a ano.
O único momento recente em que contabilmente
houve superávit nas contas públicas foi 2022, mas o número do último ano do
governo Bolsonaro não é confiável. Ele reprimiu despesas incomprimíveis, ainda
deu o calote nos precatórios e não contabilizou despesas. Em resumo, pedalou e
não foi punido por isso.
Mesmo com um bom cenário de indicadores
econômicos, não será um ano fácil. O Ministério da Fazenda terá várias batalhas
pela frente e a primeira parece perdida. A MP baixada no dia 28 pode até ser
devolvida. Como o ministro Fernando Haddad misturou a desoneração da folha de
pagamento a proposta de programar o uso dos créditos tributários e mais a
reoneração de isenções concedidas ao setor de eventos, a MP inteira
pode nem chegar a tramitar.
O governo tem prazo de 90 dias para
apresentar a segunda etapa da Reforma
Tributária que muda a forma de taxação sobre renda das
empresas, das pessoas físicas, e a cobrança de impostos sobre o trabalho. Ao
mesmo tempo estará formulando as propostas de regulamentação da reforma dos
tributos sobre consumo que tem que entregar em 120 dias.
Para além da economia, há desafios enormes
para se perseguir o projeto racional de proteger o meio ambiente e os
indígenas. O Congresso está em plena onda de aprovação de medidas ofensivas
nessas duas áreas. O governo terá que melhorar a articulação política, agravada
pelo fato de que será um ano eleitoral. Na área internacional o Brasil
comandará o G20 e estará preparando o grande evento do ano que vem. Em 2025
a Amazônia será
o centro do mundo nas negociações globais do clima.
Um comentário:
Verdade.
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