Folha de S. Paulo
Desde que assumiu o cargo, suspeita de
corrupção amedronta o governador
O escritor Gore Vidal, referindo-se a políticos em geral e a Richard
Nixon em particular, dizia que "se você não puder ser honesto, seja
cuidadoso". É uma variação da assaz citada sentença sobre a mulher de
César.
O governador do Rio, Cláudio Castro (PL), é tudo o que você possa imaginar. Menos cuidadoso. Desde seus primeiros dias no cargo, recebido de mão beijada com o afastamento de Wilson Witzel, a suspeita de corrupção o amedronta. Em 2019, ele foi filmado caminhando pela Barra, mochila vazia às costas. Depois de visitar uma empresa que mantém contratos milionários de assistência social com o governo, Castro aparece num elevador com a mochila entupida. Um funcionário da empresa o acusa de ter recebido R$ 100 mil cash. Tremendo batom na cueca que, no entanto, não impediu sua reeleição em primeiro turno com quase 60% dos votos.
Para explicar tamanho êxito, só voltando à
análise de Gore Vidal e insistindo na comparação (meio esdrúxula, reconheço)
entre o governador fluminense e o ex-presidente dos EUA: "As pessoas não
são estúpidas. Elas sabiam que Nixon era daquele jeito, mas contavam que ele nunca
seria apanhado".
Acontece que, no Rio, os buracos estão sempre
mais embaixo. Estúpidas ou não, as pessoas esperam e até torcem para que
políticos sejam presos. E a realidade caminha ao lado delas: nos últimos anos,
cinco governadores entraram em cana e outro foi afastado. "Zum, zum, zum/
Zum, zum, zum/ Tá faltando um", canta a velha marchinha.
Alvo mais uma vez de ação da Polícia Federal por desvios de verba, o STJ autorizou
a quebra dos sigilos bancários, fiscais e telemáticos do governador. Os podres
começam a vir à tona, como o uso de um funcionário fantasma da Câmara Municipal
para pagar parcelas de um carro negociado no final de 2016. É o manjado esquema de rachadinha, especialidade da família
Bolsonaro, a quem Castro nunca foi tão fiel como agora.
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