O Globo
US$ 90 bi para armas são 2.000 vezes o valor que Biden prometeu para conter o desmatamento da Amazônia, mas o Congresso barrou
Com o ensino público básico decadente, uma infraestrutura ultrapassada e sem um sistema de saúde público similar ao de nações avançadas, o governo de Joe Biden, com o apoio de quase todos os senadores democratas e a maioria dos republicanos, arrumou dinheiro e aprovou uma multibilionária ajuda militar a seus aliados Ucrânia, Israel e, em escala muito menor, Taiwan. O valor ultrapassa US$ 90 bilhões, sendo duas mil vezes maior do que o presidente prometeu para conter o desmatamento da Amazônia, mas não conseguiu aprovar. Isso mesmo, a preservação do meio ambiente vale 0,5 milésimo do suporte dado a conflitos armados. É um fato.
Apenas para a Ucrânia, serão mais de US$ 60
bilhões, que se somam a outros mais de US$ 100 bilhões enviados para o governo
de Volodymyr Zelensky ao longo de dois anos de guerra contra a Rússia. Verdade
que, sem esse suporte, provavelmente o regime de Vladimir Putin teria mais
avanços e talvez conseguido uma vitória total. Ao mesmo tempo, os ucranianos
não têm sucesso em reconquistar áreas ocupadas pelos russos. Até quando os EUA
sustentarão a Ucrânia no que parece ser um conflito congelado? É o que perguntam
membros da direita do Partido Republicano ligados a Donald Trump, que adotam
postura mais crítica em relação a Kiev e preferem que o dinheiro do
contribuinte seja gasto com a proteção das fronteiras americanas, e não das
ucranianas.
O apoio militar a Israel será de cerca de US$
20 bilhões, que se somam a outros cerca de US$ 4 bilhões enviados ao país
anualmente ao longo de décadas. Alguns raros senadores como Bernie Sanders,
independente de esquerda, criticam esse suporte em um momento em que as forças
israelenses levam adiante uma feroz ação militar em Gaza, com mais de 34 mil
mortos, sendo 14 mil menores, de acordo com a ONG Save the Children. A maior
parte das edificações de Gaza foi destruída, incluindo a quase totalidade de hospitais
e escolas. Nos próximos dias, o governo de Benjamin Netanyahu deve iniciar uma
ofensiva em Rafah, para onde se deslocou a maior parte da população do
território palestino depois da quase completa destruição da Cidade de Gaza.
Outros milhares devem morrer.
O governo Biden se defende com o argumento de
que a ajuda focará na defesa de Israel contra ataques de grupos hostis como o
Hamas e o Hezbollah e de ações do Irã. Os críticos, porém, afirmam que Israel
usa armamentos fornecidos pelos EUA para ataques com enorme número de vítimas
civis em Gaza. Para completar, o novo pacote suspende a ajuda à agência de
refugiados palestinos da ONU, a UNRWA. A suspensão ocorreu mesmo após uma
investigação independente concluir que Israel não tinha provas de ligação da entidade
com o Hamas — países como a Alemanha anunciaram que retomarão a ajuda à
agência, que também opera em Líbano, Síria, Cisjordânia e Gaza.
Mesmo após fiascos no Iraque e no
Afeganistão, a indústria bélica segue poderosa nos EUA. Enquanto isso, cidades
como Nova York sofrem com metrôs caindo aos pedaços e demissões de professores.
Mesmo quatro décadas após a Europa começar a implementar trens de alta
velocidade, os EUA ainda não conseguiram construir um ligando Washington a Nova
York. Em São Francisco e Los Angeles, há acampamentos de pessoas viciadas em
opioides não muito diferente da Cracolândia em São Paulo. E, claro, a ajuda
humanitária para países pobres da África e da América Latina continua uma
fração minúscula da enviada em armas a Ucrânia e Israel.
Um comentário:
Excelente coluna! A "grande democracia" sempre se rendeu à indústria bélica, que manda e desmanda na política estadunidense! Os EUA sempre apoiaram as ditaduras que lhes interessavam, e hoje apoiam o Estado TERRORISTA de Israel e seu governo CRIMINOSO E GENOCIDA!
Postar um comentário