O Estado de S. Paulo
Não há chances de consenso político sobre como combater o crime organizado
Os profissionais que lidam com a questão do
crime organizado são unânimes em afirmar que o problema é muito pior do que se
imagina. Essa constatação é comum no mundo acadêmico, empresarial, no ambiente
dos investigadores, nas polícias e nos Executivos estaduais.
O crime organizado é descrito como problema
muito maior do que a já preocupante percepção de violência – aquela diretamente
atrelada à taxas de criminalidade como assaltos, estupros e furtos. Seu impacto
na economia é estimado em torno de R$ 600 bilhões por ano, mais de R$ 1 bilhão
por dia.
Nas palavras do presidente do Banco Central, em recente evento sobre segurança pública, o crime organizado tem efeitos na economia que podem ser medidos até no spread bancário (leia-se juros ao consumidor). E é visto por investidores externos como uma espécie de imposto a ser calculado, que torna mais caro ainda o custo de capital no Brasil. Já influi na direção e intensidade do investimento estrangeiro direto (FDI), com o México sofrendo ainda mais.
A questão da atribuição fundamental de
combate ao crime foi levantada pelo próprio ministro da Justiça. A discussão se
popularizou em torno da expressão “SUS da segurança pública”, derivada de uma
figura de linguagem criada por Raul Jungmann, que já foi ministro nessa pasta.
“Imagine um SUS sem Ministério da Saúde, essa é a situação da segurança
pública”, alertou.
Em outras palavras, o que propõe o ministro
da Justiça é uma mexida no pacto federativo para conceder à União um papel
definido constitucionalmente de coordenação de políticas no setor. Foi
imediatamente combatido por governadores, entre eles possíveis presidenciáveis.
“Não venham dizer aos governadores o que têm
de fazer, eles sabem muito melhor”, declarou Ronaldo Caiado, de Goiás.
Foi apoiado por veteranos especialistas como
o coronel reformado da PM paulista José Vicente Filho, para o qual a questão
não é apenas de verbas, mas de capacidade de gestão e criação de serviços de
inteligência integrados, e treinamento de polícias estaduais de acordo com
padrões mínimos. Que a União poderia fazer sem tirar qualquer autonomia dos
Estados.
Ocorre que a questão deixou há muito tempo de
ser “técnica” e hoje é exclusivamente política. No ambiente atual, há escassa
possibilidade de se estabelecer qualquer tipo de consenso sobre causas e
possíveis formas de combate ao crime organizado, que já é um tema eleitoral no
topo de todas as campanhas.
Em outras palavras, o que já é ruim tende
apenas a piorar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário