O Estado de S. Paulo
Ministra enfrenta prova de fogo no governo,
mas diz que não pensa na próxima eleição
“Me respeite, ministra! Se ponha no teu
lugar!” Foi assim que o senador Marcos Rogério (PL-RO) se dirigiu ontem à
titular do Meio Ambiente, Marina Silva, em sessão marcada por intenso
bate-boca, na Comissão de Infraestrutura do Senado. Foram horas de desrespeito
transmitidas ao vivo, sem que a base do governo defendesse Marina à altura dos
ataques contra ela.
Marcos Rogério presidia a sessão em que a ministra foi convidada para explicar o motivo da criação de uma unidade de conservação ambiental marinha na Margem Equatorial da foz do Rio Amazonas. A Petrobras reivindica autorização do Ibama para prospectar petróleo naquela área e os senadores avaliam que Marina cria obstáculos para dificultar a exploração.
Sem um pedido de desculpas do líder do PSDB,
Plínio Valério, que em março já havia dito ter vontade de enforcá-la, Marina
acabou se retirando da sessão. Pouco antes, o mesmo senador tinha feito o
seguinte comentário: “Ao olhar para a senhora, estou vendo uma ministra, não
estou falando com uma mulher. Porque a mulher merece respeito; a ministra,
não”.
Soube-se que, horas depois, o presidente
Lula, a primeira dama Janja e outros ministros telefonaram para Marina e se
solidarizaram com ela. Não basta.
Não é de hoje que a situação de Marina, uma
ex-petista, passa por um teste de resistência no governo. De um lado, ela
enfrenta a oposição de uma ala da Esplanada e do Congresso que, por trás do
discurso em defesa da exploração mineral, respalda interesses empresariais. De
outro, vê Lula adotar retórica dúbia a respeito de temas sobre os quais não
deveriam pairar incertezas.
“Eu não faço o meu trabalho pensando nas
próximas eleições”, disse a ministra no Senado, deixando no ar quem seria o
destinatário da frase.
Lula já reclamou do “lengalenga do Ibama”.
Faz tudo para atender o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, que é do Amapá e
quer ver o imbróglio com a Petrobras resolvido antes de novembro, quando os
holofotes mundiais estarão voltados para a COP-30, em Belém.
Sem maioria no Congresso, Lula depende de
Alcolumbre para aprovar projetos de interesse do Palácio do Planalto.
No show de horrores de ontem, outro que se
destacou foi Omar Aziz. “A senhora atrapalha o desenvolvimento do nosso país”,
gritou o senador.
Marina avalia que saiu fortalecida do embate
por não se intimidar. Em 2008, após confrontos com a então chefe da Casa Civil,
Dilma Rousseff, ela entregou uma carta de demissão a Lula alegando ter
enfrentado “crescentes resistências” no governo e na sociedade. Dezessete anos
depois, o que mudou? •
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