PRÓLOGO
Este livro consiste numa tentativa de interpretação de uma extensa época histórica, abarcando cerca de um século e meio, que pode ser delimitada, grosso modo, entre 1848 — aberta com a entrada no cenário político de trabalhadores fabris e intelectuais socialistas, coincidente com a publicação do projeto inaugural do movimento socialista, o Manifesto do partido comunista, de autoria de Karl Marx e Friedrich Engels — e 1989, com a explosão da crise, latente e/ou crônica, que abalou a socialdemocracia e o Welfare State, concomitante ao colapso do socialismo real e do Movimento Comunista Internacional.
No decorrer desse longo processo histórico, o
movimento socialista — em suas diferentes versões e matizes — desempenhou
protagonismo primordial nas transformações operadas nas sociedades capitalistas
ou não capitalistas. Conquanto não tenha realizado de modo congruente suas
promessas capitais — instalação de uma sociedade libertária, emancipada,
equânime, fraterna, venturosa —, foi, em grande medida, responsável por
sensíveis melhoras das condições de existência de uma parcela significativa dos
trabalhadores em, praticamente, todo o mundo — de outro modo, em vários países
e/ou regiões (periféricas) contribuiu, inclusive e de modo perceptível, para a
expansão e/ou modernização capitalista.
Demais disso, mobilizou muitos milhões de
seres sociais, homens e mulheres, trabalhadores fabris e rurais, intelectuais e
manuais e de serviços em geral, em torno de uma utopia deveras generosa —
devotos de uma doutrina de fé ou informados por uma teoria social, foram
convertidos em sujeitos de uma práxis social, prenhes de esperança na
construção de um paraíso terreno.
Movimento errático, entretanto, com suas
virtudes e vicissitudes, incapaz de atualizar sua práxis e sua cultura
política, perdeu-se no caminho — sem norte, viu-se privado do fascínio que
exerceu no passado e seu horizonte parece ter sido tornado nebuloso e/ou
inacessível; desencantouse.
A interpretação lógico-sistemática daquele
processo histórico-político, presumimos, fornece elementos e subsídios
necessários para a compreensão
de seus múltiplos aspectos, tanto
particulares como universais. Logo, a pequena síntese histórica — de
antagonismo e consonância, de transformação e regulação dos liames entre
capitalismo e socialismo — exposta nos nove capítulos que compõem o nosso estudo
e que podem ser lidos como uma totalidade complexa e una ou, se decompostos,
serem examinados e/ou compreendidos isoladamente, apartados uns dos outros —
observe-se que muitas das questões, postas em uns, são retomadas e/ou
reiteradas em outros. A propósito, é válido consignar que essa breve história
foi elaborada visando servir à geração formada nas três últimas décadas, nos
anos posteriores, portanto, à crise dos projetos e experimentos socialistas —
para os experts, é possível que não apresente nenhuma contribuição original
para sua compreensão; mas, para os não iniciados no conhecimento dessa
história, poderá vir, acreditamos, a ser uma contribuição útil, inclusive para
despertá-los para a necessidade do exercício da práxis política como cidadãos
ativos, como sujeitos transformadores.
Foi, por outro lado, realizado tendo como
substrato uma bibliografia clássica, conjuminada com outras obras que contêm
contribuições analíticas expressivas — a ela foram apensadas teses,
possivelmente com alguma originalidade; atente-se ainda para o fato de que boa
parte das obras que compõem a análise e que constam das referências
bibliográficas não são simplesmente meros testemunhos e documentos ou
interpretações e formulações sociopolíticas de agentes, stricto sensu, daquela
história, mas sobretudo personificação dos elementos constituintes do processo
históricopolítico das relações entre capitalismo e socialismo — ou seja,
serviram como instrumentos promotores da práxis histórica e encarnação de sua
cultura política.
Saliente-se, ainda, que este livro é
resultado de leituras e pesquisas, debates e palestras, intervenções políticas
e intelectuais realizadas nas quatro ou cinco décadas precedentes. E por fim
devo agradecer aos muitos colegas e/ou amigos, companheiros de militância e na
práxis política, interlocutores políticos e/ou intelectuais de longa data.
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