quarta-feira, 24 de setembro de 2025

A confiança nas instituições continua a diminuir. Por Assis Moreira

Valor Econômico

A descrença nos Parlamentos foi a que mais aumentou nas últimas décadas globalmente

A confiança nos Parlamentos foi a que mais desmoronou em quase 40 anos, segundo uma pesquisa que a Organização Internacional do Trabalho (OIT) menciona em relatório publicado hoje. O documento coincide com o debate no Brasil sobre a PEC da Blindagem, que aumenta o sentimento de impunidade e provocou manifestações de protesto no fim de semana.

A OIT se apoia na Pesquisa Mundial sobre Valores (WSV, na sigla em inglês), uma rede global de cientistas sociais que estudam a mudança de valores e o seu impacto na vida social e política, com secretariado em Estocolmo, na Suécia. A WVS consiste em pesquisas em quase 100 países, incluindo entrevistas com quase 400 mil pessoas.

A pesquisa que a OIT menciona no relatório sobre o Estado da Justiça Social 2025 compara o sentimento popular nas instituições no período 1984-2022.

No caso dos Parlamentos, a confiança caiu de 55,2% para 31,3%, ou seja, quase pela metade. O documento não dá detalhes por país ou região.

A confiança em relação aos governos também continuou em baixa, caindo de 50% para 39% dos consultados.

Com exceção das forças armadas (54% para 64,1%), os níveis de confiança diminuiram para as instituições em todo o mundo, embora os sindicatos e as empresas tenham permanecido relativamente estáveis mas em níveis abaixo de 50%.

Uma função crítica das instituições é nos guiar para o futuro. Mas o que se constata é que a confiança nas instituições recua no mundo desde 1982, reflexo de um sentimento crescente de injustiça. O contrato social que une as pessoas mostra sinais de desgaste. A OIT insiste que, sem reforço do contrato social, essa erosão poderá por em risco a legitimidade dos sistemas democráticos e da cooperação internacional.

A pesquisa mencionada pela OIT mostra que, embora as pessoas valorizem cada vez mais a igualdade, elas também acreditam que o trabalho árduo não compensa.

Os resultados se refletem em outras pesquisas e levantamentos. A OIT nota que alguns cientistas políticos demonstraram a ligação entre o aumento da desigualdade e a crença de que o sistema é manipulado.

Observa que, na América Latina, a baixa e decrescente confiança nas instituições foi documentada tanto pela World Values Survey quanto pelo Latinobarómetro, e um relatório recente do Banco Interamericano de Desenvolvimento associa isso à baixa percepção de justiça.

Na Europa, o declínio da confiança no governo foi constatado em 20 dos 24 países na pesquisa online Living, Working and COVID-19. Quando o projeto Fairness Across the World pediu às pessoas que explicassem a desigualdade em seus países, a desigualdade de oportunidades e a falta de igualdade de condições, em vez da falta de trabalho árduo ou habilidades, foram apontadas como as principais culpadas.

Com o sentimento cada vez maior que seus esforços não estão sendo recompensados e que a sociedade é injusta, a consequente desconfiança nas instituições ameaça diminuir a capacidade de as pessoas se adaptarem às transformações sociais e torna o progresso na justiça social menos alcançável, alerta a entidade.

 

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