Valor Econômico
A descrença nos Parlamentos foi a que mais
aumentou nas últimas décadas globalmente
A confiança nos Parlamentos foi a que mais desmoronou
em quase 40 anos, segundo uma pesquisa que a Organização Internacional do
Trabalho (OIT) menciona em relatório publicado hoje. O documento coincide com o
debate no Brasil sobre a PEC da Blindagem, que aumenta o sentimento de
impunidade e provocou manifestações de protesto no fim de semana.
A OIT se apoia na Pesquisa Mundial sobre Valores (WSV, na sigla em inglês), uma rede global de cientistas sociais que estudam a mudança de valores e o seu impacto na vida social e política, com secretariado em Estocolmo, na Suécia. A WVS consiste em pesquisas em quase 100 países, incluindo entrevistas com quase 400 mil pessoas.
A pesquisa que a OIT menciona no relatório
sobre o Estado da Justiça Social 2025 compara o sentimento popular nas
instituições no período 1984-2022.
No caso dos Parlamentos, a confiança caiu de
55,2% para 31,3%, ou seja, quase pela metade. O documento não dá detalhes por
país ou região.
A confiança em relação aos governos também
continuou em baixa, caindo de 50% para 39% dos consultados.
Com exceção das forças armadas (54% para
64,1%), os níveis de confiança diminuiram para as instituições em todo o mundo,
embora os sindicatos e as empresas tenham permanecido relativamente estáveis
mas em níveis abaixo de 50%.
Uma função crítica das instituições é nos
guiar para o futuro. Mas o que se constata é que a confiança nas instituições recua
no mundo desde 1982, reflexo de um sentimento crescente de injustiça. O
contrato social que une as pessoas mostra sinais de desgaste. A OIT insiste
que, sem reforço do contrato social, essa erosão poderá por em risco a
legitimidade dos sistemas democráticos e da cooperação internacional.
A pesquisa mencionada pela OIT mostra que,
embora as pessoas valorizem cada vez mais a igualdade, elas também acreditam
que o trabalho árduo não compensa.
Os resultados se refletem em outras pesquisas
e levantamentos. A OIT nota que alguns cientistas políticos demonstraram a
ligação entre o aumento da desigualdade e a crença de que o sistema é
manipulado.
Observa que, na América Latina, a baixa e
decrescente confiança nas instituições foi documentada tanto pela World Values
Survey quanto pelo Latinobarómetro, e um relatório recente do Banco
Interamericano de Desenvolvimento associa isso à baixa percepção de justiça.
Na Europa, o declínio da confiança no governo
foi constatado em 20 dos 24 países na pesquisa online Living, Working and
COVID-19. Quando o projeto Fairness Across the World pediu às pessoas que
explicassem a desigualdade em seus países, a desigualdade de oportunidades e a
falta de igualdade de condições, em vez da falta de trabalho árduo ou
habilidades, foram apontadas como as principais culpadas.
Com o sentimento cada vez maior que seus
esforços não estão sendo recompensados e que a sociedade é injusta, a
consequente desconfiança nas instituições ameaça diminuir a capacidade de as
pessoas se adaptarem às transformações sociais e torna o progresso na justiça
social menos alcançável, alerta a entidade.
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