Folha de S. Paulo
Estratégia de Eduardo Bolsonaro para salvar o
pai só piorou a situação da família
Prisão domiciliar parece mais longe e
capacidade de influenciar eleição é declinante
Se você ou um familiar seu está prestes a ir
para a cadeia, a última pessoa com a qual você deve indispor-se é o juiz de
execuções penais, a quem cabe decidir sobre regime de encarceramento, concessão
de benefícios etc. Esse truísmo se torna ainda mais ululante quando o local em
que a prisão se cumprirá ainda está em aberto, indo de cela em presídio comum
a domiciliar.
À luz dessas considerações, parece contraproducente a estratégia de Eduardo Bolsonaro de tentar salvar o pai estimulando Donald Trump a impor sanções ao Brasil e ao ministro do STF Alexandre de Moraes, que será o responsável por supervisionar o cumprimento de pena de Jair.
E Dudu fez pior. Ao convencer os EUA de que
as sanções da Lei Magnitsky deveriam
ser estendidas para a família de Moraes, ele potencializou a indisposição do
magistrado em relação aos Bolsonaros. Pelo que leio nas colunas de bastidores,
conversas com vistas a permitir que Jair cumprisse pena em casa foram
descontinuadas. O próprio Eduardo acaba de ser
denunciado pelo crime de coação em processo.
As trapalhadas do filho trinigênito não se
limitam ao campo jurídico. Elas também têm repercussões políticas. Num segundo
revés pessoal para Eduardo, o presidente da
Câmara rejeitou sua indicação para líder da minoria, manobra que
poderia evitar sua cassação por excesso de faltas.
O timing da nova leva de
sanções dos EUA jogou ainda mais água na proposta de anistia
ampla a Bolsonaro, que já fora rebaixada a um PL que reduziria as penas
impostas aos golpistas.
E há mais. A sucessão de malogros sofridos
pela família reduz seu poder de influenciar o campo da direita na sucessão
presidencial. É cada vez menos provável que o vice na chapa conservadora
carregue o sobrenome Bolsonaro.
Se a ideia de Dudu era salvar o pai, os
resultados práticos de suas ações deverão ser um regime prisional mais duro e a
redução da força política do clã. Nenhum desses efeitos pode ser descrito como
surpresa, daí a conclusão de que a investida eduardiana foi rematadamente
estúpida.
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