quarta-feira, 24 de setembro de 2025

Trump e o anti-Trump. Por Bernardo Mello Franco

O Globo

Presidentes divergem em tudo, mas combinaram conversa na semana que vem

Num momento em que líderes mundiais medem palavras para não melindrar Donald Trump, o presidente do Brasil desembarcou em Nova York com outra estratégia.

Lula foi à ONU disposto a confrontar a Casa Branca. Sem citar o nome de Trump, bateu firme no isolacionismo, na perseguição a imigrantes e no apoio ao massacre de palestinos em Gaza. Também demarcou diferenças em temas como crise climática, desigualdade tributária e regras de comércio.

No trecho mais duro do discurso, o presidente condenou as sanções impostas ao Brasil para tentar livrar Jair Bolsonaro da cadeia. E defendeu o julgamento que condenou o capitão por tentativa de golpe. “O Brasil deu um recado a todos os candidatos a autocratas e àqueles que os apoiam: nossa democracia e nossa soberania são inegociáveis”, sentenciou.

Lula ainda cobrou a regulação das plataformas digitais, cujos donos se aliaram ao republicano, e criticou a equiparação entre o narcotráfico e o terrorismo, usada como pretexto para justificar intervenções militares na América Latina. Interrompido três vezes por aplausos, desceu da tribuna como um anti-Trump.

O petista tinha razões para não aliviar. Num ato de provocação explícita, a Casa Branca esperou sua chegada aos Estados Unidos para anunciar novas sanções contra autoridades brasileiras. Daí a surpresa geral com o gracejo do republicano no segundo discurso de ontem.

Em fala de improviso, Trump disse que ele e Lula se cumprimentaram e tiveram uma “química excelente” nos bastidores da ONU. “Ele gostou de mim, eu gostei dele. Eu só faço negócios com pessoas de quem eu gosto”, elogiou, antes de anunciar uma nova conversa na semana que vem.

De volta ao teleprompter, o americano justificou as agressões ao Brasil e acusou o país de “censura”, “repressão” e “corrupção judicial”. O endosso à retórica bolsonarista sugere que é arriscado apostar num acordo entre os dois presidentes. Mas Lula pode ter acertado no tom. Trump não costuma respeitar quem já se aproxima de cabeça baixa.

 

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