O Globo
Presidentes divergem em tudo, mas combinaram
conversa na semana que vem
Num momento em que líderes mundiais medem
palavras para não melindrar Donald Trump, o presidente do Brasil desembarcou em
Nova York com outra estratégia.
Lula foi à ONU disposto a confrontar a Casa Branca. Sem citar o nome de Trump, bateu firme no isolacionismo, na perseguição a imigrantes e no apoio ao massacre de palestinos em Gaza. Também demarcou diferenças em temas como crise climática, desigualdade tributária e regras de comércio.
No trecho mais duro do discurso, o presidente
condenou as sanções impostas ao Brasil para tentar livrar Jair Bolsonaro da
cadeia. E defendeu o julgamento que condenou o capitão por tentativa de golpe.
“O Brasil deu um recado a todos os candidatos a autocratas e àqueles que os
apoiam: nossa democracia e nossa soberania são inegociáveis”, sentenciou.
Lula ainda cobrou a regulação das plataformas
digitais, cujos donos se aliaram ao republicano, e criticou a equiparação entre
o narcotráfico e o terrorismo, usada como pretexto para justificar intervenções
militares na América Latina. Interrompido três vezes por aplausos, desceu da
tribuna como um anti-Trump.
O petista tinha razões para não aliviar. Num
ato de provocação explícita, a Casa Branca esperou sua chegada aos Estados
Unidos para anunciar novas sanções contra autoridades brasileiras. Daí a
surpresa geral com o gracejo do republicano no segundo discurso de ontem.
Em fala de improviso, Trump disse que ele e
Lula se cumprimentaram e tiveram uma “química excelente” nos bastidores da ONU.
“Ele gostou de mim, eu gostei dele. Eu só faço negócios com pessoas de quem eu
gosto”, elogiou, antes de anunciar uma nova conversa na semana que vem.
De volta ao teleprompter, o americano
justificou as agressões ao Brasil e acusou o país de “censura”, “repressão” e
“corrupção judicial”. O endosso à retórica bolsonarista sugere que é arriscado
apostar num acordo entre os dois presidentes. Mas Lula pode ter acertado no
tom. Trump não costuma respeitar quem já se aproxima de cabeça baixa.
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