quarta-feira, 24 de setembro de 2025

Dias de derrotas para as direitas golpistas. Por Vinicius Torres Freire

Folha de S. Paulo

Manifestações, alguns senadores, mais processos e até Trump dão ajuda ao contragolpe

PEC da Bandidagem é vital para a cúpula do centrão-direitão e não será enterrada facilmente

"É campeão! É campeão", gritavam na semana passada uns tipos que são deputados federais. Comemoravam na Câmara vitórias contra a decência mínima na política, como a PEC da Bandidagem. Aprovaram também a urgência para o projeto de anistia a Jair Bolsonaro e o resto da camarilha.

Na maratona de rasteiras, conspirações, acordões e golpes que tem sido a política do Brasil, pareciam dias de reação vitoriosa do partido da corporação parlamentar e da insurreição permanente da extrema direita.

Houve contragolpes, porém. Pode também ter havido até um golpe de sorte, talvez um vento que passou pela biruta política de Donald Trump. Na ONU, o presidente americano disse ao mundo que quer conversar com Luiz Inácio Lula da Silva. Pode ser cilada; pode ser mudança de rumo. Até o início desta noite, não havia informação suficiente a respeito —mais sobre isso mais adiante. Mas Trump ignorou os Bolsonaro. Obrigou a turma a malabarismos para contar suas histórias de terror fantástico nas redes.

No domingo, houve manifestações de rua relevantes contra a bandidagem e o golpe. Na segunda, Eduardo Bolsonaro (PL-SP) foi denunciado pela Procuradoria-Geral da República, acusado de tentar coagir a Justiça açulando Trump. Nesta terça, foi parar no Conselho de Ética da Câmara —pode perder o mandato. Para reanimar as tropas dos golpes contra a decência, o ex-juiz, bolsonarista reincidente e senador Sergio Moro (União Brasil-PR) apresentou emenda para salvar algo da PEC da Bandidagem.

Essa história vai longe. Boa parte do centrão-centrão, o centrão-direitão e a extrema direita podem até se fingir de mortos, mas vão brigar para não deixar essa PEC morrer. É assunto antigo, um dos acordos mais transados deste ano e interessa à cúpula do centrão-direitão, aquela que governou no semipresidencialismo de avacalhação sob Bolsonaro.

Ainda assim, neste trecho da maratona, as direitas golpistas sofreram derrotas. Pode ser pior, caso o convite de Trump a Lula não seja cilada.

O presidente americano falou sobre o Brasil por pouco menos de dois minutos, quase no final de lenga-lenga de uma hora na ONU. Na metade das palavras do trecho brasileiro, Trump foi simpático com o "líder do Brasil". Disse quase lamentar que tivesse de criticar o país logo depois de ter abraçado Lula. Na outra metade do trecho brasileiro, disse que o Brasil levou um tarifaço porque interfere em "direitos e liberdades de nossos cidadãos americanos"; "então, lamento muito dizer isso, que o Brasil vai mal"; assim não o será se "eles [nós] trabalharem conosco".

Ainda nesta terça, Trump virou do avesso sua política para a Ucrânia (isto é, a política do mês passado). Disse que, com apoio da União Europeia e da Otan, os ucranianos podem ganhar a guerra e até tirar território da Rússia, que estaria quebrada. Teria acontecido algo parecido com o caso do Brasil?

Trump vai abrir mão de punir o Brasil por condenar golpistas, como ele próprio? Vai desagradar o secretário de Estado, Marco Rubio, que desde sempre teve como projeto atacar qualquer esquerda latino-americana? Ainda que fizesse tudo isso, o que exigiria para cantar vitória no embate?

O caso é muito difícil, pois. De alto risco. Mas, até a manhã desta terça, não havia caminho para o Brasil evitar as agressões dos EUA, açulados pelos Bolsonaro.

Como costuma dizer o povo do Banco Central, por ora o "balanço de riscos" piorou para o lado do golpismo-banditismo.

 

Nenhum comentário: