Folha de S. Paulo
Manifestações, alguns senadores, mais
processos e até Trump dão ajuda ao contragolpe
PEC da Bandidagem é vital para a cúpula do
centrão-direitão e não será enterrada facilmente
"É campeão! É campeão", gritavam na
semana passada uns tipos que são deputados federais. Comemoravam na
Câmara vitórias
contra a decência mínima na política, como a PEC
da Bandidagem. Aprovaram também a urgência para o projeto de anistia
a Jair
Bolsonaro e o resto da camarilha.
Na maratona de rasteiras, conspirações, acordões e golpes que tem sido a política do Brasil, pareciam dias de reação vitoriosa do partido da corporação parlamentar e da insurreição permanente da extrema direita.
Houve contragolpes, porém. Pode também ter
havido até um golpe de sorte, talvez um vento que passou pela biruta política
de Donald
Trump. Na ONU,
o presidente americano disse
ao mundo que quer conversar com Luiz Inácio Lula da Silva. Pode ser cilada;
pode ser mudança de rumo. Até o início desta noite, não havia informação
suficiente a respeito —mais sobre isso mais adiante. Mas Trump ignorou os
Bolsonaro. Obrigou a turma a malabarismos para contar suas histórias de terror
fantástico nas redes.
No domingo, houve manifestações
de rua relevantes contra a bandidagem e o golpe. Na segunda, Eduardo
Bolsonaro (PL-SP)
foi denunciado pela Procuradoria-Geral da República, acusado de tentar coagir a
Justiça açulando Trump. Nesta terça, foi
parar no Conselho de Ética da Câmara —pode perder o mandato. Para
reanimar as tropas dos golpes contra a decência, o ex-juiz, bolsonarista
reincidente e senador Sergio Moro (União Brasil-PR)
apresentou emenda
para salvar algo da PEC da Bandidagem.
Essa história vai longe. Boa parte do
centrão-centrão, o centrão-direitão e a extrema direita podem até se fingir de
mortos, mas vão brigar para não deixar essa PEC morrer. É assunto antigo, um
dos acordos mais transados deste ano e interessa à cúpula do centrão-direitão,
aquela que governou no semipresidencialismo de avacalhação sob Bolsonaro.
Ainda assim, neste trecho da maratona, as
direitas golpistas sofreram derrotas. Pode ser pior, caso o convite de Trump a
Lula não seja cilada.
O presidente americano falou sobre o Brasil
por pouco menos de dois minutos, quase no final de lenga-lenga de uma hora na
ONU. Na metade das palavras do trecho brasileiro, Trump foi simpático com o
"líder do Brasil". Disse quase lamentar que tivesse de criticar o
país logo depois de ter abraçado Lula. Na outra metade do trecho brasileiro,
disse que o Brasil levou um tarifaço porque interfere em "direitos e
liberdades de nossos cidadãos americanos"; "então, lamento muito
dizer isso, que o Brasil vai mal"; assim não o será se "eles [nós]
trabalharem conosco".
Ainda nesta terça, Trump virou
do avesso sua política para a Ucrânia (isto é, a política do mês
passado). Disse que, com apoio da União Europeia e da Otan, os
ucranianos podem ganhar a guerra e até tirar território da Rússia, que
estaria quebrada. Teria acontecido algo parecido com o caso do Brasil?
Trump vai abrir mão de punir o Brasil por
condenar golpistas, como ele próprio? Vai desagradar o secretário de Estado,
Marco Rubio, que desde sempre teve como projeto atacar qualquer esquerda
latino-americana? Ainda que fizesse tudo isso, o que exigiria para cantar
vitória no embate?
O caso é muito difícil, pois. De alto risco.
Mas, até a manhã desta terça, não havia caminho para o Brasil evitar as
agressões dos EUA, açulados pelos Bolsonaro.
Como costuma dizer o povo do Banco Central,
por ora o "balanço de riscos" piorou para o lado do golpismo-banditismo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário