quarta-feira, 24 de setembro de 2025

O dever moral do mundo. Por Rodrigo Craveiro

Correio Braziliense

Mesmo que os recentes reconhecimentos do Estado da Palestina tenham chancela pura e simplesmente simbólica, eles abrem um ambiente para que a criação de um Estado floresça

Gaza é o próprio inferno na Terra. Todos os dias recebo fotos e vídeos de crianças com os corpos despedaçados; de pais urrando de dor sobre os cadáveres dos filhos; de seres humanos transformados apenas em pele e ossos; de cidades reduzidas a pilhas de ruínas; de bombardeios a esmo; de gente desesperada, esfomeada e sem esperança. Não existe lugar pior do que a Faixa de Gaza. É a prova cabal de que vingança e ódio semeiam horror. Fechar os olhos para o que acontece em Gaza é ser cúmplice e conivente com a matança. Por desvios ideológicos, acreditar que todo palestino merece ser tratado como terrorista é falta de caráter e de informação.

A comunidade internacional tem o dever moral imperativo de conter a sanha assassina de Israel. Não existe justificativa que minimamente possa ser usada para uma guerra de carnificina desigual. Pelos números extraoficiais — apesar de divulgados pelo Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo movimento islâmico Hamas —, cerca de 60 mil palestinos tiveram a vida ceifada desde 7 de outubro de 2023. Uma matança deliberada sob o pretexto de resguardar a segurança do Estado judeu.

Para qualquer pessoa com a mínima capacidade de raciocínio, é razoável perceber que violência planta violência, ódio semeia ódio. Não é fácil deduzir que os órfãos e as viúvas da guerra encontrarão a possibilidade de vingança nas fileiras do Hamas, da Jihad Islâmica e de outras facções palestinas. Não existe possibilidade de paz no Oriente Médio se a ocupação israelense não for encerrada e não se abrir espaço para a criação de um Estado palestino independente, soberano, com fronteiras definidas e com a possibilidade de prosperar.

A direita precisa entender que não existe equivalência entre apoiar a causa palestina e defender o terrorismo. Uma coisa nada tem a ver com a outra. Nesta semana, lideranças mundiais começaram a entoar, em alto e bom som, que a guerra de Israel é indecente. Em discurso durante conferência internacional na Organização das Nações Unidas para debater uma solução para o conflito árabe-israelense baseada em dois Estados, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi contundente: "O que está acontecendo na Faixa de Gaza não é só o extermínio do povo palestino, mas uma tentativa de aniquilamento de seu sonho de nação".

França, Reino Unido, Portugal, Austrália e Canadá somaram-se aos cerca de 150 países que reconhecem o Estado da Palestina. Mesmo que tal reconhecimento tenha chancela pura e simplesmente simbólica, ele abre um ambiente para que a criação de um Estado floresça. O premiê israelense, Benjamin Netanyahu, disse que "não haverá Estado palestino". Tanto Israel quanto EUA temem que o Hamas seja recompensado. Um raciocínio incoerente. Apenas dois Estados coexistindo de forma harmônica e respeitosa pode assegurar um futuro de paz no Oriente Médio. Persistir no ódio, na vingança e na matança desenfreada apenas tornará insuportável a vida de judeus e de palestinos.

 

Nenhum comentário: