Correio Braziliense
Mesmo que os recentes reconhecimentos do
Estado da Palestina tenham chancela pura e simplesmente simbólica, eles abrem
um ambiente para que a criação de um Estado floresça
Gaza é o próprio inferno na Terra. Todos os dias recebo fotos e vídeos de crianças com os corpos despedaçados; de pais urrando de dor sobre os cadáveres dos filhos; de seres humanos transformados apenas em pele e ossos; de cidades reduzidas a pilhas de ruínas; de bombardeios a esmo; de gente desesperada, esfomeada e sem esperança. Não existe lugar pior do que a Faixa de Gaza. É a prova cabal de que vingança e ódio semeiam horror. Fechar os olhos para o que acontece em Gaza é ser cúmplice e conivente com a matança. Por desvios ideológicos, acreditar que todo palestino merece ser tratado como terrorista é falta de caráter e de informação.
A comunidade internacional tem o dever moral
imperativo de conter a sanha assassina de Israel. Não existe justificativa que
minimamente possa ser usada para uma guerra de carnificina desigual. Pelos
números extraoficiais — apesar de divulgados pelo Ministério da Saúde de Gaza,
controlado pelo movimento islâmico Hamas —, cerca de 60 mil palestinos tiveram
a vida ceifada desde 7 de outubro de 2023. Uma matança deliberada sob o
pretexto de resguardar a segurança do Estado judeu.
Para qualquer pessoa com a mínima capacidade
de raciocínio, é razoável perceber que violência planta violência, ódio semeia
ódio. Não é fácil deduzir que os órfãos e as viúvas da guerra encontrarão a
possibilidade de vingança nas fileiras do Hamas, da Jihad Islâmica e de outras
facções palestinas. Não existe possibilidade de paz no Oriente Médio se a
ocupação israelense não for encerrada e não se abrir espaço para a criação de
um Estado palestino independente, soberano, com fronteiras definidas e com a possibilidade
de prosperar.
A direita precisa entender que não existe
equivalência entre apoiar a causa palestina e defender o terrorismo. Uma coisa
nada tem a ver com a outra. Nesta semana, lideranças mundiais começaram a
entoar, em alto e bom som, que a guerra de Israel é indecente. Em discurso
durante conferência internacional na Organização das Nações Unidas para debater
uma solução para o conflito árabe-israelense baseada em dois Estados, o
presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi contundente: "O que está
acontecendo na Faixa de Gaza não é só o extermínio do povo palestino, mas uma
tentativa de aniquilamento de seu sonho de nação".
França, Reino Unido, Portugal, Austrália e
Canadá somaram-se aos cerca de 150 países que reconhecem o Estado da Palestina.
Mesmo que tal reconhecimento tenha chancela pura e simplesmente simbólica, ele
abre um ambiente para que a criação de um Estado floresça. O premiê israelense,
Benjamin Netanyahu, disse que "não haverá Estado palestino". Tanto
Israel quanto EUA temem que o Hamas seja recompensado. Um raciocínio
incoerente. Apenas dois Estados coexistindo de forma harmônica e respeitosa
pode assegurar um futuro de paz no Oriente Médio. Persistir no ódio, na
vingança e na matança desenfreada apenas tornará insuportável a vida de judeus
e de palestinos.
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