Correio Braziliense
Os ODS têm servido como um roteiro para alcançar um mundo socialmente justo, pacífico e sustentável. Sobre trabalho decente e crescimento econômico, alcançamos apenas dois terços dos indicadores
Há 30 anos, 186 países se reuniram em
Copenhague para a primeira Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Social. À
época, o encontro foi a maior reunião de líderes mundiais já realizada. Ao
final da Cúpula, a mensagem era clara: os desafios enfrentados por nossas
sociedades são globais, e as soluções, também.
Em resposta, os governos se comprometeram a colocar as pessoas no centro do desenvolvimento global. Reconheceram que a justiça social deve ser a base do progresso econômico, se este pretende ser sustentável. Isso significa garantir que todas as pessoas, independentemente de gênero, nacionalidade, origem ou local de nascimento, tenham o direito de viver com dignidade e de contar com igualdade de oportunidades para trabalhar, prosperar e alcançar êxito. Sociedades fundadas na equidade funcionam melhor, geram mais confiança e se fortalecem.
O consenso da Cúpula tornou-se a pedra
angular da Agenda de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas e de seus 17
Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Desde 2015, os ODS têm servido
como um roteiro para alcançar um mundo socialmente justo, pacífico e
sustentável. O prazo para sua concretização foi estabelecido para 2030.
Desde aquela primeira Cúpula, nosso mundo
mudou, em muitos aspectos, para melhor. Um novo relatório da OIT, O Estado da
Justiça Social, mostra que a pobreza extrema caiu de 39% para 10% da população
mundial. O trabalho infantil entre crianças com menos de 14 anos foi reduzido
pela metade e, pela primeira vez na história, mais da metade da população
mundial conta com algum tipo de proteção social, como aposentadoria ou
seguro-desemprego.
Mas, apesar de décadas de esforços, o
relatório deixa claro que persistem grandes desigualdades. O local de nascimento
de uma pessoa ainda determina mais da metade de sua renda ao longo da vida.
Globalmente, mais de 800 milhões de pessoas sobrevivem com menos de três
dólares por dia. É por isso que o alcance das metas dos ODS até 2030 está em
risco. Por exemplo, no caso do ODS 8, sobre trabalho decente e crescimento
econômico, estamos bem atrás, tendo alcançado apenas dois terços, ou 66% dos
indicadores.
Se quisermos melhorar as condições de vida de
todas as pessoas e alcançar a justiça social, acelerar a implementação dos ODS
é crucial. O trabalho decente é um fio condutor essencial que conecta os ODS,
porque ele é mais do que a garantia do sustento: é um termômetro de quão bem
estamos indo como sociedade em geral, incluindo saúde, educação, igualdade,
consumo e produção responsáveis. Quando o trabalho é produtivo, justamente
remunerado, seguro, equitativo e inclusivo, escolhido livremente e com
direitos, temos justiça social.
Mas o trabalho decente não simplesmente
"acontece". A história mostra que, sem instituições fortes, os ganhos
de produtividade não se traduzem em vidas melhores. As instituições fortalecem
direitos humanos básicos, como o direito à educação e a um meio ambiente
saudável, e garantem igualdade de oportunidades, distribuição justa e voz tanto
para trabalhadores quanto para empregadores. O diálogo social é a forma mais
eficaz de equilibrar os interesses de trabalhadores e empregadores e de ajudar
a tornar o crescimento mais equitativo.
Neste momento, nossas instituições estão
sendo testadas. Três grandes transições estão transformando o mundo do trabalho
em todos os lugares: o impacto de um planeta mais quente e a transição para uma
economia mais verde, a revolução digital e a mudança demográfica. Essas
transformações estão criando empregos e eliminando outros. Elas têm o potencial
de trazer novas oportunidades, mas também correm o risco de aprofundar divisões
já existentes. A forma como essas mudanças se desenrolarão depende, em grande
medida, das escolhas que as sociedades fizerem hoje.
Em novembro de 2025, a segunda Cúpula Mundial
sobre Desenvolvimento Social será realizada em Doha. Esse encontro global
reunirá novamente representantes de governos, trabalhadores, empregadores e da
sociedade civil, três décadas e meia após a primeira Cúpula. Trata-se de um
momento decisivo para transformar promessas passadas em mudanças reais.
Devemos reafirmar a promessa feita em
Copenhague: a de que a justiça social e o desenvolvimento econômico inclusivo
são responsabilidade e interesse de todos. Mas, acima de tudo, precisamos agir
de forma decisiva. A Coalizão Global para a Justiça Social, liderada pela OIT,
oferece uma plataforma para nos ajudar a avançar na direção certa. Ela já reúne
governos, organizações de empregadores e de trabalhadores, além de outros
parceiros, para acelerar a ação e a cooperação rumo à conquista da justiça
social e do trabalho decente para todas as pessoas.
Se tivermos êxito, poderemos ajudar a
garantir que a produtividade econômica e o progresso social caminhem juntos.
Porque, no fim das contas, a justiça social não é um ideal impossível. É o
único caminho possível para um futuro sustentável para todos nós.
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