quarta-feira, 24 de setembro de 2025

Lula atinge objetivos no câmbio e emprego. Por Fernando Exman

Valor Econômico

Governo federal alcança dois marcos considerados cruciais na economia

Incertezas em relação à robustez do sistema elétrico assombram qualquer governo. Isso aconteceu com Fernando Henrique Cardoso, Dilma Rousseff e Jair Bolsonaro. Na última disputa pela Prefeitura de São Paulo, as seguidas crises no fornecimento de luz também se tornaram tema central do período eleitoral. Em Brasília, aliados do presidente Luiz Inácio Lula da Silva passaram a acompanhar com atenção o tema, tendo em vista um potencial problema para a campanha à reeleição. Comemoram, por outro lado, o fato de o governo federal ter alcançado dois objetivos considerados cruciais na economia.

São eles a estabilização por enquanto da taxa de câmbio abaixo de R$ 5,40 e a taxa de desemprego na mínima histórica. A aposta no governo é que esses dois indicadores-chave serão fundamentais para assegurar que o brasileiro entre em 2026 com uma maior sensação de bem-estar e, por isso, esteja mais receptivo à propaganda dos programas federais.

No trimestre encerrado em julho, informa o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a taxa de desemprego chegou a 5,6%. O rendimento médio real da população cresce, o que é bom para o consumo e a sensação de bem-estar da população. Mas, como mostrou o Valor recentemente, representa um desafio adicional para o Banco Central (BC) em sua missão de combater a inflação.

Segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho e Emprego, há geração líquida de vagas em todas as regiões do país. O mesmo ocorre quando se analisa individualmente os setores da economia - serviços; agropecuária, produção florestal, pesca e aquicultura; indústria geral; construção; e comércio, reparação de veículos automotores e motocicletas.

A outra notícia vem do dólar. É verdade que há um movimento global de enfraquecimento da moeda americana, o qual tende a continuar favorecendo o real. Após sinais de recuperação até o começo de agosto, a moeda americana voltou a perder força, refletindo apostas de corte nos juros já em setembro pelo Banco Central dos Estados Unidos, o Federal Reserve (Fed), o que acabou se confirmando.

Entre integrantes do primeiro escalão da administração Lula, é crescente a insatisfação com a condução da política monetária pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central. A Selic permanece em 15% ao ano e tudo indica que só deve começar a cair no ano que vem. A taxa básica de juros está, sem dúvida, em um nível restritivo, até porque o governo tem se esforçado para aquecer a economia o quanto possível e desta forma atrapalha os esforços do BC. Mas, por outro lado, é preciso ponderar que o elevado diferencial de juros doméstico também ajuda a dar suporte ao real.

Taxa de câmbio mais baixa significa menos pressão inflacionária, o que tem sido motivo de comemoração nos bastidores do Palácio do Planalto. Porém, o discurso oficial segue sendo o de que o câmbio é flutuante e, portanto, não existe uma meta para o valor de conversão entre real e dólar.

Na mais recente edição do Valor 1000, premiação do Valor às maiores empresas que atuam no Brasil, por exemplo, o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, foi perguntado durante “talk show” sobre o patamar ideal da taxa de câmbio, uma vez que o dólar mais fraco ajuda a desacelerar a inflação, mas, em contrapartida, dificulta o trabalho dos exportadores brasileiros. Como era de se esperar, evitou comprometer-se com alguma sinalização concreta. Mas registrou: “É uma ‘escolha de Sofia’, mas o fato é o seguinte: boa notícia. A inflação em queda, o preço de comida em queda, o dólar, que chegou a R$ 6,20, fechou em R$ 5,32”, comentou na segunda-feira (15), referindo-se ao tenso momento observado no mercado no fim do ano passado.

Este é, aliás, um período do ano potencialmente mais turbulento e que mais uma vez se aproxima. É quando há tradicionalmente uma demanda maior por dólares devido a remessas de lucros e dividendos feitas por empresas a suas matrizes.

Na visão de autoridades do governo Lula, houve no fim de 2024 um movimento maior do que o observado em anos anteriores. À época, uma das conclusões de integrantes da equipe econômica foi que multinacionais podem ter se antecipado a medidas que estavam sendo discutidas no Brasil a fim de combater o planejamento tributário. Outra hipótese levantada foi que “big techs” movimentaram recursos depois da sinalização de que suas atividades passariam a ser taxadas. Foi preciso o BC entrar em campo para assegurar a liquidez do mercado.

Pelo menos por enquanto, um cenário desses não está no radar de interlocutores do Planalto. Mas considera-se estratégico que o câmbio permaneça abaixo de R$ 5,40.

Nessa terça-feira (23), o dólar à vista fechou o pregão no menor patamar desde 6 de junho de 2024, cotado a R$ 5,2791, após queda de 1,10%. O alívio nas tensões entre Estados Unidos e Brasil ajudou, embora nada garanta que as sinalizações de Donald Trump a Lula evoluam para uma real reaproximação entre os dois países. A estratégia está em curso, mas não assegura que o Palácio do Planalto fique imune a todos os riscos que se apresentam no horizonte.

 

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