Correio Braziliense
A presença do Brasil na cúpula da Asean é um
gesto de confiança na força do diálogo político como instrumento de
transformação, com decidido apoio da diplomacia presidencial
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva
realiza, na atual visita à Ásia, mais uma missão diplomática inédita: será o
primeiro presidente brasileiro a participar de uma reunião de cúpula da
Associação de Nações do Sudeste Asiático (Asean). A visita inaugura uma nova
etapa nas relações entre o Brasil e uma das regiões mais dinâmicas e
estratégicas do mundo. A Asean é um exemplo de grande êxito na construção de
confiança entre os países do Sudeste Asiático, por meio do diálogo político e
da expansão de laços econômicos, em especial nas últimas três décadas.
Em 2023, durante visita a Jacarta, tive a honra de inaugurar oficialmente a Parceria de Diálogo Setorial Brasil-Asean, a única que a associação mantém com um país da América Latina. Desde então, em minhas viagens à região, pude constatar sua impressionante pujança econômica e diversidade. Com cerca de 680 milhões de habitantes e um PIB de aproximadamente US$ 4 trilhões, os 10 países-membros da Asean, em conjunto, equivalem à quarta economia do planeta.
Trata-se de uma das mais dinâmicas fronteiras
no mundo para o aumento da presença do Brasil e para a promoção dos interesses
do país.
O dinamismo da região e a competitividade
brasileira têm impulsionado um intercâmbio comercial vigoroso. Em 2024, as
trocas entre o Brasil e a Asean superaram US$ 37 bilhões, consolidando o bloco
como o quinto maior parceiro comercial do nosso país e responsável por 20% do
superavit total da balança comercial brasileira. Cabe lembrar que em 2002 o
fluxo comercial com o bloco era de apenas US$ 2,9 bilhões. Nesse contexto de
aproximação, o presidente Lula também participa da Cúpula Empresarial da Asean,
à frente de expressiva missão do empresariado brasileiro.
É revelador das novas dinâmicas da economia
global que, nos últimos dois anos, o Brasil tenha exportado mais para cinco
países da Asean do que para cinco das sete economias do G7. Em 2024, o Brasil
exportou US$ 24,1 bilhões para Singapura, Malásia, Indonésia, Vietnã e
Tailândia e obteve um superavit comercial de US$ 13,8 bilhões com esses membros
da Asean. No mesmo período, o Brasil exportou US$ 21,9 bilhões para Alemanha,
Japão, Itália, Reino Unido e França, mas, com esses cinco integrantes do G7, o
resultado foi um deficit comercial de US$ 12,8 bilhões.
Para o Brasil, que tem na diversificação de
parcerias um dos pilares da sua política externa, é estratégico consolidar cada
vez mais sua presença no Sudeste Asiático, em coordenação com o setor privado.
Um dos caminhos para isso é fortalecer a cooperação com a Asean e com seus
países-membros no plano econômico-comercial e também em áreas que vão além da
economia.
As oportunidades abertas pela Parceria de
Diálogo Setorial Brasil-Asean nos inspira a propor iniciativas concretas de
cooperação em bioenergia, educação, ciência e tecnologia, saúde pública e
desenvolvimento sustentável. Também aprofundaremos o diálogo sobre transição energética,
segurança alimentar e nutricional, inclusão social e combate às desigualdades —
desafios comuns aos países do Sul Global. A experiência brasileira exitosa no
campo das energias renováveis destaca-se entre as áreas de interesse para a
cooperação com os países do Sudeste Asiático. Nesse contexto promissor de
aproximação, a presença do Brasil na cúpula da Asean é um gesto de confiança na
força do diálogo político como instrumento de transformação, com decidido apoio
da diplomacia presidencial.
A visita do presidente Lula tem esse forte
componente político e diplomático no delicado momento que atravessa a ordem
internacional. Vivemos um tempo de tensões geopolíticas, de recrudescimento do
protecionismo e de crise do multilateralismo político e comercial. Nesse
cenário, o Brasil reafirma seu compromisso histórico com o multilateralismo,
com o diálogo entre iguais e com a cooperação internacional para o
desenvolvimento. O Sudeste Asiático, por sua trajetória de integração regional
bem-sucedida na Asean, é parceiro natural do Brasil nesse esforço de construção
conjunta.
A participação do presidente Lula na 47ª
Cúpula da Asean é evidência concreta de que o Brasil não se limita a adotar
postura meramente reativa às transformações em curso no plano externo. Nossa
diplomacia segue buscando continuamente, e de forma criativa, alternativas
viáveis para melhor posicionar o Brasil frente aos desafios contemporâneos,
sempre orientada pelo objetivo de contribuir para o desenvolvimento sustentável
com justiça social.

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