Folha de S. Paulo
Não é papel do presidente fazer juízo público
de valor sobre o desempenho de outro Poder
Lula não gostaria de ouvir dos chefes do
Legislativo ou do Judiciário a desqualificação do ministério
Imprudente, para dizer o mínimo; deselegante,
para usar um termo ameno. Arrogante, para expressar a impressão que dá o
presidente da República dizer em público, nas barbas do presidente da Câmara,
que nunca houve um Congresso
Nacional de tão baixo nível.
Tal juízo é voz corrente, mas nem tudo o que se diz e se constata pode ser repetido em quaisquer situações, de qualquer maneira. Há freios de civilidade na vida cotidiana. E, quando envolve autoridades públicas, à contenção acrescentam-se as regras da institucionalidade.
Imaginemos que amanhã ou depois os
presidentes da Câmara, do Senado ou
do Supremo Tribunal Federal resolvessem dizer aos microfones, em solenidade com
plateia amiga, que o nível do ministério é o pior de todos os tempos. O chefe
da equipe se sentiria afrontado, com razão.
Pois foi o
que fez o presidente Luiz Inácio da Silva (PT), na quarta-feira
(15), em cerimônia no Rio de Janeiro para professores da rede municipal, um
público francamente amigável. Sentado atrás dele, Hugo Motta (Republicanos-PB)
ouviu, claro, sem nada poder dizer em defesa do colegiado que o elegera há oito
meses e que era ali desqualificado.
A atitude do presidente foi covarde pela
evidente impossibilidade de reação de Motta. Imprudente para quem precisa de
votos no Parlamento, deselegante por ferir mínimas normas da boa educação e
arrogante por revelar salto alto decorrente da recuperação gradual da
popularidade. Acrescentemos a incoerência, considerando as ocasiões em
que Lula agradeceu
a "colaboração" do Congresso.
Na tentativa de modular a fala, em seguida o
presidente referiu-se à "extrema direita". Sim, que não integra o
Legislativo por geração espontânea. Chegou lá, nunca é demais repetir o óbvio,
pela mesma via que pôs Lula na Presidência: a legitimidade da eleição.
Ninguém gosta de perder, mas é o presidente
mesmo quem se orgulha de ter tido ao longo da vida e da trajetória política
resistência a derrotas. Se assim ele dá a conhecer, assim precisa ser a sua
prática.
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