O Estado de S. Paulo
A conversa do chanceler Mauro Vieira com o
secretário de Estado Marco Rubio consolidou a determinação de Donald Trump em
perseguir séria e objetivamente as negociações e a aproximação com o Brasil. “É
para valer”, concluíram participantes da reunião. Trump não estava brincando,
Rubio não está trucando e o pragmatismo unirá os dois países.
Se esse foi considerado pelo lado brasileiro como o principal resultado político do encontro de uma hora no Eisenhower Building, ao lado da Ala Oeste da Casa Branca, houve também avanços práticos, como a decisão de definir o cronograma de reuniões e os representantes dos dois lados para tratar de temas técnicos.
Helicópteros dos EUA se aproximavam da
Venezuela no mesmo dia do encontro, depois de Trump autorizar a atuação da CIA
e investidas por terra no país, o que Planalto, Defesa e Itamaraty consideram
inaceitável. Se Vieira e Rubio trataram da questão, foi nos 15 minutos a dois,
cercado de discrição. Nada na reunião com assessores.
Também chegou a Brasília que o quase
ex-deputado Eduardo Bolsonaro e o “influencer” Paulo Figueiredo, que estão por
trás dos ataques de Trump ao Brasil, se encontraram com Rubio na quartafeira.
Até a noite desta quinta, porém, o Itamaraty só conseguiu confirmar que os dois
foram ao Departamento de Estado, mas não o quê e com quem falaram. Com Rubio?
A evolução dos contatos entre os dois países
mostra que os EUA conferem importância ao Brasil nas Américas e também como é a
estratégia de Trump, que primeiro ataca, depois pinça “enviados especiais” para
sentir o clima e, por fim, quando convencido de que vale a pena, estabelece
negociações institucionais.
Apesar das suspeitas e das versões
bolsonaristas diante do anúncio de Rubio como negociador chefe, a entrada dele
em cena marca exatamente a mudança de patamar no processo, quando as conversas
deixaram de ser de bastidores, sigilosas, e passaram a ser anunciadas e
públicas, assumindo o status de compactuação entre dois governos, ou dois
Estados.
É hora de Brasil e EUA formalizarem suas
condições, com a disposição, mais ou menos dissimulada, de, eventualmente,
ceder, seja para recuar de uma ou outra de suas propostas, seja para acatar as
do outro lado. Isso exige tempo, paciência e o “approval” dos presidentes.
O Brasil foca em comércio e sanções a
autoridades, mas avaliando o quanto ceder a Trump em: abertura ao etanol dos
EUA, regulamentação das redes sociais e defesa de uma moeda dos Brics
alternativa ao dólar. Além de definir perdas, ganhos e parâmetros de um acordo
de cooperação para a exploração de terras raras brasileiras, que, consumado,
terá de ser muito bem explicado para o mundo e para os brasileiros.
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