Folha de S. Paulo
Diagnosticado com Parkinson em 1988, o
sambista foi em frente e enfrentou a doença no palco
Operado no Einstein, voltará a tocar como
antes e roubar comida na geladeira sem derrubar tudo
Moacyr Luz não cabe num verbete de
enciclopédia. Sambista, cantor, compositor, autor, com parceiros queridos, de
"Vida da Minha Vida", "Pra Que Pedir Perdão", "Choro
das Ondas", "Som de Prata", "Saudades da Guanabara" e
muitas mais. Gourmet da baixa gastronomia carioca, expert em asas de galinha e
bochecha de porco e padroeiro de botequins pelo país. Veio ao mundo para fazer
amigos. Encontra-os onde quer que esteja. Mas só os 500 mais íntimos o chamam
de Moa.
O samba lhe deve uma multidão de convertidos. Desde 2005, eles cruzam a cidade ou as fronteiras dos estados para comparecer ao Samba do Trabalhador, sua roda de toda segunda-feira no Clube Renascença, no Andaraí. A roda extrapolou para São Paulo, aos sábados, no restaurante Pirajá, fora as frequentes incursões a Lisboa, Paris e, se duvidarem, Adis Abeba. Mas o que, no começo, era só o trabalho de um artista para ganhar a vida tornou-se, para Moacyr, sua maneira de salvar a vida.
Em 2008, aos 50 anos, ele foi diagnosticado
com Parkinson. Desde então, a rigidez no corpo, as dores, o tremor, a
dificuldade motora, começaram seu lento e cruel processo. Mas, em vez de
entregar-se, Moacir resolveu lutar. Em todos esses anos, nunca faltou ao Samba
do Trabalhador. Embora tudo tenha se tornado difícil, continuou a enfrentar a
rotina de aeroporto, avião e hotel e o desafio de cantar e tocar violão com a
voz e os dedos que às vezes fogem de seu controle. Nunca escondeu a doença ou
se escondeu. Sua luta se passa no palco, para plateias que, quando percebem sua
condição, torcem por ele.
Nesta terça-feira (14), a ciência juntou-se à
sua bravura. Moacyr submeteu-se a uma cirurgia de estimulação cerebral
profunda, no Einstein, em São Paulo. As chances de recuperação são enormes. Aos
poucos, voltará aos estágios mais toleráveis da doença.
O suficiente, segundo ele, para voltar a
tocar e cantar com desembaraço e, de madrugada, "roubar comida da
geladeira sem derrubar tudo". Mas ele não vai esperar. Daqui a 15 dias,
tem show de novo.
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