O Globo
Alcolumbre ajuda presidente a não acumular
nova derrota, de olho em indicação de aliado ao Senado
Não foi pequeno o refresco que o governo
obteve graças à ação do presidente do Senado, Davi Alcolumbre. Aos poucos, ele
vai somando créditos importantes junto a Lula e se credenciando como o
principal avalista do Executivo no Congresso. O adiamento da votação dos vetos
presidenciais, que evitou a esperada derrota do governo na queda de braço em
torno da questão do licenciamento ambiental, foi providencial.
Não que alguém no Planalto acredite que seja possível, no prazo que for, mudar o ânimo da maioria do Parlamento em relação a esse tema. Ele conta com amplo apoio nas duas Casas para uma flexibilização geral dos critérios. Mas uma nova derrota agora, uma semana depois de a Medida Provisória destinada a tapar o buraco do IOF caducar, seria uma reversão muito grande da maré positiva que o governo vem tentando aproveitar para melhorar sua avaliação e as chances de reeleição de Lula.
O roteiro dos sonhos dele é deixar essa
questão indigesta para depois do até aqui não confirmado encontro com Donald
Trump e da aprovação, pelo próprio Senado de Alcolumbre, da isenção do Imposto
de Renda para quem ganha até R$ 5 mil.
Com essas duas vitórias no portfólio, a
comunicação de Sidônio Palmeira alardeará um presidente que enfrentou o boicote
internacional da família Bolsonaro ao Brasil com altivez, defendendo os
interesses do país, e que assegurou, com o Congresso, a correção de uma
distorção histórica em que aqueles de menor renda eram excessivamente
tributados.
Se conseguir armazenar essas cartas na manga,
arriscam aliados de Lula, até o mau humor persistente do mercado, do
agronegócio, dos evangélicos e do Centrão tende a arrefecer. Caso esse cálculo
se confirme ou se aproxime da realidade, há quem, no entorno presidencial, diga
que até a derrubada geral de vetos poderia ser evitada. Parece torcida
exagerada, com os dados da realidade atual. Mas, com tudo o que está no
tabuleiro e a quantidade de acontecimentos potencialmente positivos, ganhar
tempo equivale a obter uma vitória.
Não se sabe de que maneira a dobradinha com
Alcolumbre terá força para movimentar peças em outras frentes em curso. Ou para
influenciar na relação do governo com a Câmara. Num primeiro momento, Hugo
Motta não gostou nada de o Senado ter bancado o bonzinho e derrubado a PEC da
Blindagem depois de, nos bastidores, trabalhar por ela. P
assado o mal-estar inicial, no entanto, o
próprio Motta parece se mover para uma posição de maior proximidade com Lula,
provavelmente percebendo a desarrumação no campo da direita e intuindo a partir
de sua base eleitoral, o Nordeste, que o poder de recuperação do petista é
real. Tanto que até o “pito” deselegante que Lula passou no Congresso diante de
Motta foi relevado por ele, e a relação com Fernando Haddad, que andou
distante, tem melhorado nas últimas semanas.
O outro contencioso em que Alcolumbre pode
ter influência é a indicação do sucessor de Luís Roberto Barroso ao STF. Ele
não faz questão nenhuma de ser discreto no lobby pelo antecessor, Rodrigo
Pacheco, também convencido a sair da postura de esfinge e ir à luta para
mostrar que está no páreo pela cadeira.
No momento em que o favoritismo de Jorge
Messias se evidencia, com direito a uma espécie de culto com a presença do
advogado-geral da União, do próprio Lula e de representantes de igrejas
evangélicas dentro do Planalto, só o cálculo de que o trânsito com o Congresso
dependeria da escolha de Pacheco pode ser um argumento capaz de virar o jogo. É
nesse convencimento que o prestativo Alcolumbre atua de maneira explícita neste
momento.
Com tantos movimentos interligados em curso,
não ter de se preocupar com a análise de vetos neste momento é um presente
antecipado de aniversário para Lula. O tipo de presente em que a etiqueta vem
com o preço.
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