Valor Econômico
Primeiros acordos celebrados entre Brasil e
Estados Unidos envolvendo nossas reservas de minerais críticos proporcionaram
ganhos aos americanos
Em setembro, durante entrevista ao final da
Assembleia-Geral da ONU, em Nova York, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva
(PT) revelou que estava lendo muito sobre terras raras e minerais críticos
porque não queria ser enganado. A propósito do interesse dos Estados Unidos
sobre nossas reservas, alertou que “tem que ser um acordo de ganha-ganha”.
Não foi, entretanto, o que ocorreu no passado. Os primeiros acordos celebrados entre Brasil e Estados Unidos envolvendo nossas reservas de minerais críticos proporcionaram ganhos aos americanos, e nenhum retorno estratégico ao país. O acordo de assistência militar entre as duas nações, firmado em 1952, que contemplava a exploração de areias monazíticas, essenciais para a indústria de Defesa, foi tão controverso que rachou os militares, e levou o ministro da Guerra, general Estillac Leal, da ala nacionalista do Exército, a pedir demissão.
Antes, entre 1945 e 1948, vigorou um acordo
secreto que dava acesso exclusivo às jazidas de areias monazíticas, e permissão
para importá-las ao preço de US$ 200 por tonelada. Depois de processadas em
solo americano, alcançavam o valor de US$ 1 mil por tonelada.
A memória desses acordos vem à tona com a
primeira reunião do Conselho Nacional de Política Mineral (CNPM), realizada
nessa quinta-feira, com a presença de Lula. Ao fim, o ministro de Minas e
Energia, Alexandre Silveira, anunciou a publicação de uma consulta pública
sobre o Plano Nacional de Mineração 2050, e a criação de um conselho especial
para tratar dos minerais críticos. Ele afirmou que a pauta será tratada com o
secretário de energia americano, Chris Wright, no Canadá, no encontro do G7,
prometendo “convergência dos interesses entre o potencial brasileiro no setor e
o capital americano para a exploração, respeitando a soberania nacional do
Brasil”.
O Brasil tem a segunda maior reserva de
terras raras do mundo, mas não tem tecnologia para processá-las, além de vastas
reservas de recursos essenciais para o futuro da economia global, como nióbio,
lítio, grafite, urânio.
O acordo de cooperação militar assinado entre
Brasil e Estados Unidos no dia 15 de março de 1952, no Rio de Janeiro, pelo
chanceler João Neves da Fontoura e pelo embaixador americano Herschel Johnson,
na presença do chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, general Pedro Aurélio
de Góes Monteiro, estabelecia o fornecimento de material norte-americano para o
Exército brasileiro em troca de minerais estratégicos, principalmente, urânio e
areias monazíticas.
Os dispositivos eram notadamente
desfavoráveis ao Brasil, que reeditou a exclusividade aos americanos do acordo
sigiloso anterior. O documento previa que o Brasil não poderia transferir para
qualquer outra nação, sem o prévio consentimento dos Estados Unidos, a posse do
material estratégico que fosse objeto do acordo. Em bom português, nenhum
mineral crítico poderia ser negociado com outro país sem o aval de Washington.
Ao mesmo tempo, o Brasil removeu obstáculos legais que haviam à exploração das
jazidas de manganês no Amapá, definiu um limite de importação da monazita
bruta, entre outras facilitações.
Os termos desse acordo geraram polêmica, e
retardaram a votação no Congresso Nacional, a começar pela reação da comunidade
científica. A norma contrariou as recomendações do Conselho Nacional de
Pesquisas (CNPq), que havia sido criado no ano anterior. A orientação era de
que o fornecimento de minerais estratégicos deveria obedecer compensações
específicas, como estudos para o desenvolvimento de um programa nuclear
brasileiro, com a instalação de reatores no país, a produção nacional de urânio
enriquecido e o intercâmbio de cientistas e técnicos especializados, mas isso
não constava do documento. Mesmo assim, o acordo foi celebrado, o Congresso o
ratificou um ano depois, mas, em paralelo, o Brasil começou a negociar a compra
de ultracentrífugas para enriquecer urânio e o intercâmbio de tecnologia e de
especialistas com a Alemanha.
A conjuntura internacional influenciou na
redação de um acordo que muito pouco agregou ao Brasil. No ano anterior, o
então presidente americano Harry S. Truman havia solicitado, diretamente, ao
presidente Getúlio Vargas que enviasse tropas brasileiras para a Guerra da
Coreia, que os americanos consideram uma luta contra o comunismo no contexto da
guerra fria. Estavam em jogo financiamentos estimados em até US$ 300 milhões
para obras de infraestrutura no Brasil, que também ajudariam a aliviar a crise
cambial. Vargas negou o envio de soldados, obrigando o Brasil a afrouxar as
regras do acordo. Embora desastroso, ele só seria revogado no governo do
presidente Ernesto Geisel em 1977.
Evangélicos
A se confirmar a nomeação do ministro Jorge Messias para o Supremo Tribunal
Federal (STF), Lula terá feito um cálculo mais eleitoral do que político. Para
além do critério da confiança pessoal, o presidente considera o aceno aos
eleitores evangélicos, que seguem fiéis ao ex-presidente Jair Bolsonaro. Espera
contar com o respaldo da bancada evangélica para compensar a frustração do
presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), padrinho de Rodrigo Pacheco
(PSD-MG).
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