O Estado de S. Paulo
Quem não acompanha as manhas da economia pode
não entender por que a estatística de crescimento de empregos nos Estados
Unidos mexe tanto com as finanças globais e com o humor do presidente Donald
Trump.
Nesta sexta-feira, saiu o chamado payroll, o barômetro do mercado de trabalho dos Estados Unidos. E veio um número baixíssimo: em agosto, foram criadas apenas 22 mil vagas fora do setor agropecuário. Volume bem abaixo das previsões.
Há um mês, o presidente Trump tinha ficado
tão decepcionado com a criação de apenas 79 mil empregos em julho que demitiu
sumariamente a economista Erika McEntarfer, encarregada do levantamento
estatístico. Para Trump, o tarifaço e a política anti-imigratória se
encarregariam de alavancar o mercado de trabalho e os negócios. Pois, em
agosto, o tombo das contratações foi ainda maior. Falta saber quem será agora o
bode expiatório.
O mercado financeiro olha mais para o preço
do dinheiro que desse novo dado possa advir. Os números dizem que a atividade
econômica desacelera e o principal impacto disso se desloca para a política
monetária, que deve ser revista no dia 18 pelo FOMC, o Copom de lá. Agora, se
espera queda de juros de 0,75 ponto porcentual ao ano.
Juros mais baixos na maior economia do mundo
deveriam encadear consequências globais. Não só baratear o crédito e ajudar a
empurrar a atividade econômica (e o emprego), mas também tenderiam a deslocar
trilhões de dólares aplicados em títulos de renda fixa para ativos mais
arriscados. Ou seja, a queda dos juros poderia mudar o totem do mercado de
ações: poderia substituir o urso, que ataca de cima para baixo ( bear market),
pelo touro, que ataca de baixo para cima ( bull market).
Mas o comportamento das bolsas dos Estados
Unidos não refletiu esse movimento porque prevaleceu o risco de estagnação,
embora tenha ajudado a empurrar a bolsa brasileira.
Esse fator não será o único a mexer com as
finanças globais, porque há mais coisas fervendo no caldeirão: o aumento do
rombo fiscal nos Estados
Unidos, os efeitos perversos do tarifaço e
das guerras da Ucrânia e de Gaza, além da tentativa do presidente Trump de
tomar a administração do Fed, que pode acelerar a perda de confiança no dólar.
No Brasil, que terá as decisões do Copom no
próximo dia 17, há outros materiais na fervura: o efeito do avanço mais baixo
do PIB; a escalada do rombo fiscal e da dívida; e o impacto político e
econômico do julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro pelo Supremo Tribunal
Federal. Em compensação, o tombo do dólar em reais pode ajudar a empurrar a
inflação para a meta e a derrubar os juros.
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