domingo, 7 de setembro de 2025

A economia dos EUA perdendo fôlego. Por Celso Ming

O Estado de S. Paulo

Quem não acompanha as manhas da economia pode não entender por que a estatística de crescimento de empregos nos Estados Unidos mexe tanto com as finanças globais e com o humor do presidente Donald Trump.

Nesta sexta-feira, saiu o chamado payroll, o barômetro do mercado de trabalho dos Estados Unidos. E veio um número baixíssimo: em agosto, foram criadas apenas 22 mil vagas fora do setor agropecuário. Volume bem abaixo das previsões.

Há um mês, o presidente Trump tinha ficado tão decepcionado com a criação de apenas 79 mil empregos em julho que demitiu sumariamente a economista Erika McEntarfer, encarregada do levantamento estatístico. Para Trump, o tarifaço e a política anti-imigratória se encarregariam de alavancar o mercado de trabalho e os negócios. Pois, em agosto, o tombo das contratações foi ainda maior. Falta saber quem será agora o bode expiatório.

O mercado financeiro olha mais para o preço do dinheiro que desse novo dado possa advir. Os números dizem que a atividade econômica desacelera e o principal impacto disso se desloca para a política monetária, que deve ser revista no dia 18 pelo FOMC, o Copom de lá. Agora, se espera queda de juros de 0,75 ponto porcentual ao ano.

Juros mais baixos na maior economia do mundo deveriam encadear consequências globais. Não só baratear o crédito e ajudar a empurrar a atividade econômica (e o emprego), mas também tenderiam a deslocar trilhões de dólares aplicados em títulos de renda fixa para ativos mais arriscados. Ou seja, a queda dos juros poderia mudar o totem do mercado de ações: poderia substituir o urso, que ataca de cima para baixo ( bear market), pelo touro, que ataca de baixo para cima ( bull market).

Mas o comportamento das bolsas dos Estados Unidos não refletiu esse movimento porque prevaleceu o risco de estagnação, embora tenha ajudado a empurrar a bolsa brasileira.

Esse fator não será o único a mexer com as finanças globais, porque há mais coisas fervendo no caldeirão: o aumento do rombo fiscal nos Estados

Unidos, os efeitos perversos do tarifaço e das guerras da Ucrânia e de Gaza, além da tentativa do presidente Trump de tomar a administração do Fed, que pode acelerar a perda de confiança no dólar.

No Brasil, que terá as decisões do Copom no próximo dia 17, há outros materiais na fervura: o efeito do avanço mais baixo do PIB; a escalada do rombo fiscal e da dívida; e o impacto político e econômico do julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro pelo Supremo Tribunal Federal. Em compensação, o tombo do dólar em reais pode ajudar a empurrar a inflação para a meta e a derrubar os juros.

 

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