O Globo
País chega ao 7 de Setembro diante de
encruzilhada histórica; democracia precisa responsabilizar quem tentou
destruí-la
Num 7 de Setembro como hoje, o presidente da
República chamou as eleições de “farsa”, anunciou que não cumpriria mais ordens
da Justiça e disse que só sairia do poder “preso ou morto”. Aconteceu em 2021,
quando Jair Bolsonaro usou a data cívica para atacar a democracia e o Supremo
Tribunal Federal.
Quatro anos depois, o país se vê diante de
uma encruzilhada histórica. Ou aplica a lei e pune os extremistas, em
julgamento que será retomado na terça-feira, ou aceita ficar preso a um passado
de golpes, autoritarismo e tutela militar.
Em 2021, Bolsonaro amargava uma queda na popularidade, agravada pela gestão caótica da pandemia e pelo aumento da inflação e do desemprego. Em vez de enfrentar os problemas, o chefe do governo escolheu afrontar a Constituição.
No primeiro discurso do dia, em Brasília,
anunciou um “ultimato para todos que estão na Praça dos Três Poderes”. Seu alvo
era o ministro Alexandre de Moraes, que havia decretado a prisão de radicais de
direita por ameaças ao Judiciário.
“Esse ministro do Supremo perdeu as condições
mínimas de continuar dentro daquele tribunal”, vociferou o então presidente.
“Ou o chefe desse Poder enquadra o seu ou esse Poder pode sofrer aquilo que nós
não queremos”, acrescentou.
Ele ainda anunciou que convocaria o Conselho
da República, colegiado que pode recomendar a decretação de estado de sítio,
suspendendo liberdades e garantias individuais.
À tarde, em São Paulo, Bolsonaro chamou
Moraes de “canalha” e exigiu o arquivamento de investigações sobre aliados.
“Dizer a esse ministro que ele tem tempo ainda para se redimir. Tem tempo ainda
de arquivar seus inquéritos. Ou melhor, acabou o tempo dele”, sentenciou.
O capitão também atacou o ministro Luís
Roberto Barroso, que comandava o Tribunal Superior Eleitoral. Após incitar os
seguidores contra as urnas eletrônicas, deu a entender que boicotaria as
eleições do ano seguinte. “Não posso participar de uma farsa como essa
patrocinada pelo presidente do TSE”, justificou.
No comício da Avenida Paulista, Bolsonaro
deixou claro que não pretendia sair da cadeira presidencial em caso de derrota
nas urnas. “Só Deus me tira de lá”, avisou, a um ano e quatro meses do fim do
mandato. “Nós temos três alternativas, em especial para mim: preso, morto ou
com vitória. Dizer aos canalhas que nunca serei preso”, arrematou.
Na denúncia que mandou o ex-presidente para o
banco dos réus, a Procuradoria-Geral da República mostra que as declarações de
setembro de 2021 eram apenas a parte mais visível de uma trama golpista em
curso. “As investigações da Polícia Federal revelaram que o pronunciamento não
era mero arroubo impensado e inconsequente”, afirma.
Naquela época, Bolsonaro já tinha um plano de
fuga do país a ser usado “se porventura lhe faltasse o apoio armado com que
contava”. A escalada autoritária ainda se agravaria até a tentativa de golpe e
a invasão das sedes dos três Poderes em 8 de janeiro de 2023. Agora a
democracia tem a chance de responsabilizar quem tentou destruí-la.
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