O Estado de S. Paulo
A liderança da China se torna mais fácil com as fraturas ocasionadas por Trump no Ocidente
A China celebrou esta semana a consolidação
de seu poder sobre Eurásia e África, a massa de terra cujo domínio, segundo a
geopolítica clássica, permite “governar o mundo”. Xi Jinping avançou na direção
de combinar poderio militar e econômico, ao lançar mais um banco de
desenvolvimento destinado a substituir o dólar.
Em ensaio de 1904, que prenunciou a 1.ª
Guerra, Halford Mackinder escreveu: “Quem governa a Europa Oriental, domina o
heartland; quem governa o heartland, domina a IlhaMundo; quem governa a
IlhaMundo, domina o mundo.”
O heartland corresponde às vastas planícies da Rússia e Ásia Central. Com a Europa e a África, esse núcleo forma o que Mackinder chama de IlhaMundo – a maior massa continental do globo, detentora das maiores riquezas naturais.
A cúpula da Organização de Cooperação de
Xangai (OCX) e o desfile militar que se seguiu reuniram em Pequim líderes dos
principais países dessa massa continental. Xi pôde exercer o papel histórico
dos imperadores chineses: receber governantes de terras distantes que convergem
à capital do Império do Meio para reiterar sua condição de “nações
tributárias”.
A parada militar exibiu maravilhas
tecnológicas como o míssil nuclear DF 5C,visto pela primeira vez, capaz de
atingir qualquer ponto do globo. Tem múltiplas ogivas independentes que atingem
alvos diversos simultaneamente e estrutura modular, que permite o transporte em
três seções, e a preparação mais rápida para o lançamento.
O míssil hipersônico YJ 19, manobrável e
praticamente impossível de interceptar, também foi mostrado. Assim como o
sistema de defesa composto por canhão de mísseis, laser de alta energia e
micro-ondas potentes, capaz de neutralizar enxames de drones com eficiência e
baixo custo. Montado em navios ou em terra, o laser LY 1 também intercepta
mísseis e aeronaves, e “frita” sistemas eletrônicos inimigos.
O bloco não é livre de contradição. O premiê
da Índia, Narendra Modi, participou da cúpula, mas não ficou para a parada
militar. Os dois países têm disputas territoriais e a
China ainda apoia o Paquistão, adversário da
Índia.
Modi, com seus gestos de afeto por Xi e pelo
russo Vladimir Putin, quis mostrar que tem alternativas a Donald Trump, que
impôs tarifa extra de 25% à Índia por comprar petróleo da Rússia. Para elevar o
magnetismo do bloco e futuramente contestar o domínio do dólar, Xi anunciou a
injeção de bilhões de dólares em um novo banco para a OCX. A liderança da China
se torna mais fácil com as fraturas ocasionadas por Trump no Ocidente.
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