domingo, 7 de setembro de 2025

Resiliente, mas sem brilho. Por José Roberto Mendonça de Barros

O Estado de S. Paulo

O crescimento do ano, mais uma vez, decorrerá da vitalidade do setor de recursos naturais

Este é o quadro da economia brasileira expresso nos dados do PIB, recentemente divulgados. Em relação a 2024, o País cresceu nos primeiros seis meses 2,5%, mas com uma clara desaceleração na ponta. Ao contrário dos dois anos anteriores, o desempenho do País será em linha com o que foi projetado no início do ano, algo entre 2% e 2,2%, e não maior.

Naturalmente, isto é o resultado de uma política monetária bastante restritiva que vem desde o ano passado e que se tornou necessária após uma relevante expansão da inflação.

Esta, por sua vez, começou a apontar para um movimento em direção às metas nas últimas semanas, também resultado da grande safra agrícola que colhemos neste exercício, que levou a uma queda apreciável da inflação de alimentos. A forte depreciação do dólar frente aos parceiros comerciais, o que incluiu o real, completou o quadro. Esta depreciação é um fruto direto das estripulias da política econômica dos Estados Unidos.

O crescimento do ano, mais uma vez, decorrerá da vitalidade do setor de recursos naturais: no semestre passado a agropecuária cresceu 10,1% e o grupo do petróleo e minérios, 5,4%. Nos serviços, o dado positivo, mais uma vez, é o segmento de informação e comunicação com um sólido 6,7%. Infelizmente, a indústria de transformação e a construção civil caminham de forma bem mais lenta.

Do lado da demanda, o consumo expandiu 2,2% e o investimento, 6,6%, sendo que este último contou com a participação crescente de equipamentos importados. É importante destacar que o tarifaço aplicado recentemente pelo governo dos EUA pouco vai afetar nosso crescimento. Não só boa parte das exportações ficaram isentas (petróleo e suco de laranja), como a parcela das vendas para lá é hoje muito modesta, apenas 12% do total. Mais ainda, mesmo que as tarifas sejam mantidas, muitos produtos acabarão sendo encaminhados para terceiros mercados.

Naturalmente, o País e as empresas devem continuar a tentar reverter as tarifas, tanto quanto redobrar os esforços para novos acordos comerciais com outros países e regiões, como é o caso da Europa. Olhando também por este lado, nosso crescimento será modesto, mas resiliente. Coisa mais ambiciosa fica para quando a questão fiscal for tratada como restrição central a impedir um desenvolvimento mais acelerado e sustentável.

Delírio e insensatez. Apenas isto descreve o movimento na Câmara, propondo projeto que habilitaria doutos parlamentares a destituir diretores do Banco Central.

 

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