Folha de S. Paulo
Argentina renova parte do Congresso em
outubro e tem teste eleitoral neste domingo
No final de outubro, ocorre a primeira
eleição legislativa nacional na Argentina sob Javier Milei.
A avaliação de "El Loco" é a mais baixa desde a posse, em dezembro de
2023. Pode ter baixado mais, por causa do escândalo de (suposta) corrupção que
envolve sua irmã,
Karina Milei, secretária geral da presidência, "a chefe".
Quem sabe o ambiente tenso por variações grandes de juros e câmbio e o crescimento quase zero nos últimos quatro meses também tenham prejudicado Milei. O espanto é que seu prestígio esteja em nível razoável depois de 20 meses de arrocho violento; que seu partido seja favorito nas eleições legislativas da província ("estado") de Buenos Aires, neste domingo, votação que não inclui a cidade de Buenos Aires. O eleitorado da província é de 37% do eleitorado nacional.
Segundo pesquisa da Universidade Torcuato di
Tella, a nota média que argentinos deram a Milei em agosto foi de 42,4% do
total possível de pontos (48,4% entre homens, 36% entre mulheres). É menor do
que a nota dos primeiros 20 meses de Maurício Macri, presidente de 2015 a 2019
(49,6%), do PRO, ora aliado, e maior do que a do peronista Alberto Fernández
(43,4%), que governou de 2019 a 2023.
Em julho, Milei tinha 49%. Na posse, 57,2%. O
ponto mais baixo anterior foi em setembro de 2024, com 43,2%.
Em 2024, o gasto público federal (afora
juros) caiu 27%, em termos reais no Brasil, equivaleria a cortar o Bolsa Família inteiro
e metade da Previdência. Milei cortou 15% da despesa com Previdência e 22% do
gasto com funcionários públicos. Cortou ainda investimento, transferências para
as províncias e subsídios de energia e transporte.
O gasto federal em relação ao PIB baixou a
15,6% do PIB (na média de Fernández, 20%; sob Macri, 22,5%). Em 2024, o governo
teve superávit primário (despesa menor do que receita); 2025 também deve ser
superavitário. Milei desregulamenta a economia, cancelando coisas que seriam
estranhas até no Brasil de 30 anos atrás. Libera controles de câmbio, malucos
como no Brasil de mais de meio século passado.
O partido de Milei, A Liberdade Avança, tinha
36 de 257 cadeiras da Câmara quando chegou ao poder federal, 15% do total (o
bloco do governo agora tem 17%). Mesmo aliado ao PRO, é minoritário. Depende de
alianças pontuais e precárias. Governa por meio de um decretão (uma megamedida
provisória), com a ajuda de veto presidencial (muito difícil de derrubar, na
Argentina).
O salário médio é ainda 0,8% inferior ao de
quando Milei tomou posse, segundo o Centro de Economia Política Argentina.
A inflação é
de 36% ao ano (foi de 118% em 2024, 211% em 2023). O PIB deve crescer 5% neste
ano, superando a perda acumulada nas quedas de 2023 e 2024 (de 3,3%).
O Banco Central é heterodoxo e tem reservas
internacionais negativas (deve mais do que tem). Sem dinheiro do FMI, o país
daria calote na dívida externa. Está com câmbio supervalorizado, até para
controlar a inflação, o que é problema: com retomada de algum crescimento e
peso caro, pode não ter saldo comercial bastante e dificuldade aumentada para
juntar dólares, pagar contas externas e intervir no câmbio é risco de rolo. Não
há mercado de dívida pública para financiar eventual déficit do governo.
Em suma, Milei fez arrocho brutal, a pobreza
aumentou, é minoritário no Congresso e mantém avaliação razoável. A continuar
assim, pode inspirar um governo "liberal"-bolsonarista que vencesse
no Brasil em 2026.
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