quinta-feira, 29 de maio de 2014

Opinião do dia: Leôncio Martins Rodrigues

“Os sindicalistas (hoje) possuem cargos, fazem parte do poder. Eles não podem fazer greves contra eles mesmos.”

Leôncio Martins Rodrigues, cientista político. “Crise de representatividade no Brasil atinge sindicatos”, O Globo, 29 de maio de 2014

Protestos levam o governo a rever segurança da Copa

• Confronto da última terça-feira entre PMs e índios acende o sinal de alerta no Planalto, que promoverá encontros com os secretários de segurança das capitais com jogos do Mundial. Especialistas apontam gargalos na preparação

Paulo de Tarso Lyra e Renata Mariz – Correio Braziliense

Após a manifestação que parou o trânsito no Eixo Monumental na última terça-feira, terminou com um confronto entre policiais e índios e suspendeu a exibição da taça de campeão da Copa do Mundo para a população, a presidente Dilma Rousseff ordenou ao ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, que fosse, pessoalmente, conversar com os secretários de segurança pública das 12 cidades sedes para fazer um pente-fino nos preparativos de cada uma delas. Além disso, ficou acertado que, para evitar problemas no desembarque das delegações, as seleções e as autoridades estrangeiras chegarão às respectivas bases aéreas de cada estado e deixarão o local em rotas alternativas. A determinação presidencial estendeu-se também aos ministros da Casa Civil, Aloizio Mercadante, e da Secretaria de Relações Institucionais, Ricardo Berzoini, responsáveis pela interlocução com os estados para evitar baderna durante o Mundial.

Ontem, depois da terça-feira de flechas e bombas na Esplanada, o governo não foi poupado de novos protestos. Um grupo de 100 quilombolas se manifestou em frente ao Palácio do Planalto, pela manhã. Eles pediram por agilidade na demarcação de terras. O ato ocorreu no momento em que a presidente Dilma Rousseff anunciava novas regras para o comércio de diesel.

Segundo o articulador geral do Movimento Quilombola do Maranhão, Gil Quilombola, as comunidades de nove estados estão reunidas em Brasília para pedir o título das terras que ocupam. Ele alega que o período médio para a liberação dos documentos varia muito e, em alguns casos, como em Bacuri, no Maranhão, já leva mais de 19 anos. "Queremos chamar a atenção das pessoas para a nossa causa", diz.

Problemas fundiários também levaram cerca de 500 indígenas para a Esplanada dos Ministérios. Eles se concentraram em frente ao espelho d"água do Congresso para repudiar matérias em tramitação no Legislativo, entre elas a PEC 215, que passa do Executivo para parlamentares federais a prerrogativa de demarcar terras indígenas.

Um grupo de 20 lideranças indígenas se reuniu com os presidentes da Câmara dos Deputados, Henrique Eduardo Alves, e do Senado, Renan Calheiros. Ambos se comprometeram a não colocar em votação nenhuma das matérias listadas pelos índios enquanto não houver consenso. Eles vieram a Brasília de várias partes do país para a semana de manifestações.

Segundo os organizadores do ato, os custos chegaram a R$ 98 mil, bancados por associações regionais de índios e associações ligadas ao tema, como o Centro Indigenista Missionário (Cimi). Eles garantiram que não há dinheiro público no montante, exceto passagens aéreas pagas pelo governo federal a 20 participantes, que vieram à capital para reuniões em conselhos na Funai e no Ministério da Saúde. O restante veio de ônibus. Eles deixarão Brasília hoje.

O ministro da Justiça já esteve na Bahia na segunda, no Rio na terça e correrá contra o tempo para se reunir com os secretários de Segurança de todas as outras sedes da Copa até a data de início do evento. Ontem, ele afirmou que manifestantes que cometerem "abusos" durante o Mundial serão punidos, ao mesmo tempo em que assegurou a segurança aos turistas do exterior. "Os estrangeiros devem se sentir seguros, sim", afirmou, em cerimônia no Conselho Nacional do Ministério Público.

Na mesma ocasião, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, anunciou a instalação de um gabinete de crise, entre ministérios públicos Federal e estaduais, para agir no caso de excessos nas manifestações, "de um lado e de outro".

Do controle à dispersão
Saiba quais os pontos nevrálgicos na preparação das forças de segurança para lidar
com possíveis manifestações durante a Copa e como o Brasil está em cada um deles, segundo analistas

» Comando das operações
Os protestos do ano passado levaram à elaboração de um protocolo de conduta das polícias. Com isso, os comandos das forças policiais estaduais, sobretudo da Polícia Militar, foram bem treinados para conduzir a tropa durante as manifestações. O temor é que, nas operações integradas, em que várias instituições participam, como Polícia Federal e Exército, os comandantes de cada uma dessas corporações não se entendam.

» Disposição da tropa
Os últimos protestos têm mostrado que a polícia está aprendendo a se posicionar melhor durante as manifestações. A falta de sintonia, vista nas manifestações de junho, teria diminuído, enquanto estratégias para contenção de grupos que depredam patrimônio ou usam de violência contra os agentes de segurança são testadas. Uma delas é o chamado cercado, usado, não sem controvérsia, pela polícia de São Paulo.

» Identificação de lideranças
Embora a PF venha trabalhando na identificação de lideranças black blocs, segundo noticiado recentemente, não se sabe, ainda, se as polícias estaduais fizeram o dever de casa nesse sentido. Acredita-se que conhecer quem são as pessoas-chave, os organizadores dos protestos, em cada cidade facilitaria o trabalho de diálogo, persuasão e dispersão de aglomerações.

» Comunicação
O sistema de comunicação entre os agentes de segurança — inclusive de diferentes instituições envolvidas nas operações da Copa — preocupa. A falta de equipamentos modernos ligados em rede pode atrapalhar a comunicação, deixando a forças de segurança reféns de celulares que nem sempre funcionam, sobretudo se houver um distúrbio que leve muita gente a usar o telefone ao mesmo tempo.

» Bloqueio de vias
A fluidez do trânsito, já prejudicada pela falta de obras de mobilidade urbana, pode se agravar caso manifestantes decidam bloquear ruas importantes das cidades sedes. Para evitar que isso ocorra, a polícia deverá disciplinar os protestos, abrindo faixas exclusivas para os grupos ou exigindo o aviso prévio às autoridades, conforme prevê a lei brasileira. Para fazer isso sem soar truculenta, entretanto, terá de identificar lideranças, para dialogar, e usar estratégias de contenção previamente definidas.

Colaboraram Diego Abreu, Étore Medeiros e Grasielle Castro

Exército assumirá a segurança de seleções

• Tropas atuarão em aeroportos, hotéis e ruas por onde circularão delegações

• Apoio extra na Copa foi acertado na reunião terça-feira no Rio com o ministro da Justiça e o coordenador de ações de defesa da Copa

Jailton de Carvalho, Bruno Dalvi – O Globo

BRASÍLIA E VITÓRIA - Um dia após a presidente Dilma Rousseff reclamar das falhas na proteção do ônibus usado para transportar jogadores da seleção brasileira, o governo federal decidiu que as tropas do Exército assumirão a responsabilidade pela segurança dos aeroportos, dos hotéis e das ruas por onde deverão circular delegações com as equipes estrangeiras, representantes de governos estrangeiros e dos dois principais dirigentes da Fifa. O apoio extra dos militares no período da Copa do Mundo foi acertado na reunião de anteontem, no Rio, entre o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, o coordenador de ações de defesa da Copa, general José Carlos De Nari, e o secretário estadual de Segurança Pública, José Mariano Beltrame. O secretário extraordinário de Grandes Eventos, Andrei Passos Rodrigues, também participou do encontro.

A intervenção do Exército foi acertada a partir de uma sugestão da presidente. Pelo que ficou acertado, as tropas militares deverão marcar forte presença nas 12 cidades-sede e nos 15 estados que abrigam centros de treinamentos das seleções estrangeiras. A ideia é evitar brechas que exponham a risco ou a constrangimentos atletas e e representantes das delegações.

— Essa é a contribuição da presidenta aos estados — disse ao GLOBO uma das autoridades que participou das negociações.

A cúpula da segurança na Copa reafirmou também a importância da interação entre as autoridades federais e estaduais em cada um dos estados por onde passarão as delegações estrangeiras. Pelo acerto, generais, secretários de Segurança e superintendentes da Polícia Federal de cada estado deverão estar em permanente contato para facilitar deliberações, especialmente sobre o uso em larga escala de tropas militares. Essas autoridades civis e militares formarão grupos para resolver questões em tempo real e problemas complexos que necessitem do apoio das diversas estruturas de poder.

O governo federal decidiu mudar o desenho da segurança da Copa e atribuir papel mais abrangente aos militares um dia após o cerco do ônibus da seleção brasileira, no Rio, por professores que estão em campanha por reajuste salarial. A presidente não gostou de ver as imagens em que manifestantes se aproximaram com facilidade do ônibus e determinou a Cardozo e a De Nardi que viessem ao Rio para corrigir eventuais falhas.

O aumento das tropas já vinha sendo pensado como uma alternativa desde o ano passado, quando surgiram as primeiras ameaças de greve de agentes, escrivães e papiloscopistas da Polícia Federal.

O Departamento de Comunicação da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) informou que, desde a primeira reunião sobre a segurança da Copa do Mundo, foi definido que os batedores usados nos deslocamentos da seleção seriam da Polícia Federal. No entanto, a entidade disse não fazer distinção sobre o uniforme a ser usado e informou que a mudança não afetará a rotina da seleção brasileira.
Segundo a assessoria da CBF, dentro da Granja Comary, em Teresópolis, o controle é feito por 30 seguranças particulares contratados pela entidade. A entidade lembrou ainda que na apresentação da seleção brasileira, na última segunda-feira, a equipe se deslocou do Rio de Janeiro para Teresópolis, num percurso de cerca de 90 quilômetros, escoltada por batedores e um helicóptero da Polícia Federal.

No espírito santo, esquema já em ação
No Espírito Santo, o Exército vai atuar na defesa da seleção da Austrália, que chegou ontem à noite e ficará hospedada no estado durante a Copa. Ontem, 120 militares foram distribuídos em pontos estratégicos de Vitória por onde a delegação passou, segundo o secretário estadual de segurança pública André Garcia. O Exército também enviou nove homens exclusivamente para acompanhar o comboio das delegações que ficarão em território capixaba. A equipe conta com um veículo e oito motos.

Outros 24 militares do Exército já fizeram revistas antiterroristas no Aeroporto de Vitória, hotéis, centros de treinamentos e outros locais da Região Metropolitana que serão frequentados pelas delegações de Austrália e Camarões. A delegação da Austrália ficará hospedada no Hotel Ilha do Boi e treinará no Estádio Engenheiro Araripe, em Cariacica. A delegação de Camarões ficará hospedada no Hotel Sheraton, na Praia do Canto, em Vitória, e treinará no Estádio Kleber Andrade, também em Cariacica. Os camaroneses chegarão no próximo dia 7.

Ministro da Justiça diz que forças policiais garantirão a lei durante a Copa

• Não permitiremos abusos’, afirmou Cardozo, que tranquilizou os turistas que vierem para o Mundial; procurador-geral anuncia que sedes terão gabinete de crise

Jorge Macedo - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - Após a manifestação que tumultuou o Distrito Federal nesta terça-feira, 27, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, reiterou que quem vier para o Brasil acompanhar a Copa do Mundo poderá ficar tranquilo quanto à segurança. "Todos os turistas, incluindo os estrangeiros, podem se sentir seguros porque as forças policiais estarão presentes para garantir o cumprimento da lei. As pessoas são livres para se manifestar, mas não permitiremos abusos", enfatizou. Nesta terça, a presidente Dilma Rousseff afirmou a empresários que não seria permitido "baderna" na ruas.

Na terça-feira, um grupo de aproximadamente 2,5 mil pessoas protestou contra o Mundial no Brasil. Quando se aproximavam do Estádio Mané Garrincha, os manifestantes foram impedidos de seguir pela Cavalaria da Tropa de Choque da Polícia Militar, que entrou em conflito com os indígenas que estavam à frente do ato.

Durante a confusão, um cabo da PM foi atingido na perna por uma flechada. Além do policial, que não sofreu ferimento grave, oito pessoas ficaram feridas - entre elas 6 indígenas - e 3 manifestantes foram detidos.

Questionado sobre a utilização de arcos e flechas em futuros protestos, Cardozo afirmou que qualquer um tem o direito de ir às ruas, desde que aja conforme a lei. "A Constituição assegura que todos têm a garantia democrática para se manifestar livremente, mas sem armas. Tudo isso deve ser posto dentro do que nosso plano de segurança coloca. Manifestação é manifestação, não importa qual seja a natureza. O uso do arco e flecha é um caso pontual que deve ser analisado. Só então é que serão adotadas as medidas cabíveis", ressaltou.

O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, também expressou sua opinião em relação às manifestações contra a Copa. De acordo com ele, o que aconteceu no Distrito Federal não deve assustar quem pretende assistir aos jogos do Mundial. "O Brasil é um país amigo e seguro. Manifestações de rua ocorrem em todo o mundo. Acredito que episódios como esses não afetarão a grandeza do evento nem devem retirar a certeza dos estrangeiros de que estão em um país tranquilo", reforçou.

Gabinetes de crise. Janot aproveitou para anunciar que, na próxima semana, o Ministério da Justiça e o Ministério Público Federal deverão criar gabinetes de crise nas sedes da Copa. O objetivo é garantir o pronto atendimento e a aplicação da Justiça em casos de excessos cometidos durante o torneio. "A constituição do gabinete assegura que quem cometer abusos será punido com rapidez, de um lado e do outro." Os gabinetes de crise serão compostos por procuradores, promotores, juízes, policiais, advogados e defensores públicos.

Mesmo após serem reprimidos pela polícia, os manifestantes que organizaram o protesto de terça-feira prometeram novos atos para os próximos dias. Durante entrevista coletiva concedida em Brasília, na tarde desta terça, alguns líderes dos movimentos sociais presentes nos protestos reafirmaram que a ação policial foi descabida e sem propósito, e a repressão empregada pelas forças de segurança só motiva e reforça o desejo da população de ocupar as ruas novamente.

Tiago Ávila, representante do Comitê Popular da Copa, questionou o comando da Polícia Militar no DF. "Conversamos com o coronel responsável pela operação. A polícia estava ciente do nosso trajeto e garantiu que não haveria nenhum tipo de repressão. O movimento era simbólico e pacífico. No meio do caminho, eles mudaram de postura e começaram a disparar bombas contra todos nós", alegou.

O cacique Marcos Xucuru fez questão de ressaltar que não foram os índios que iniciaram a confusão que ocorreu próximo do estádio da Copa. "É tradição indígena levar nossos adereços para todos os rituais que fazemos e os arcos e flechas fazem parte disso. Estávamos à frente do protesto com nossas danças quando fomos surpreendidos pela cavalaria. Em nenhum momento partimos para o confronto. Os cavalos ficaram assustados e daí os policiais lançaram bombas de gás e balas de borracha contra nós", explicou.

Xucuru afirmou ainda que os indígenas não sabem quem foi o responsável por atirar a flecha que feriu um dos policiais durante a confusão.

Os milhões (de reais) em ação na Copa

• Estrangeiros devem serminoria entre os turistas esperados para os jogos da Copa na Capital, mas devem ser responsáveis pela maior parte dos desembolsos no comércio e nos serviços,estimados em R$ 290 milhões

Caio Cigana - Zero Hora (RS)

Mesmo minoria entre os mais de 100 mil turistas esperados em cada uma das cinco partidas da Copa do Mundo em Porto Alegre, serão os estrangeiros os responsáveis pela maior parte dos recursos injetados com a realização do Mundial. Pesquisa da Federação do Comércio de Bens e de Serviços do Estado do Rio Grande do Sul (Fecomércio-RS) indica que, entre Capital, região metropolitana e Serra, a circulação de visitantes deve movimentar R$ 360 milhões em hospedagem, alimentação, lazer e compras. Desse total, R$ 290,5 milhões serão gastos por estrangeiros, calcula Lucas Schifino, economista da entidade.

Pouco mais de duas semanas antes de a bola rolar no Beira-Rio, a soma de vários estudos e sondagens de diferentes entidades empresariais sobre as expectativas de negócios para Copa começa a mostrar de forma mais nítida quem se beneficiará mais, quem pode ver as vendas murchar e de onde virá a maior parte do dinheiro extra que circulará graças ao Mundial.

Por enquanto, o jogo das projeções indica que o setor de serviços deve ganhar de goleada em faturamento, empurrado por uma enxurrada de dólares e euros.

– Os números que colocamos são bem realistas. Pode ser que sejam superados – diz Schifino, lembrando que as despesas com passagens aéreas e ingressos para os jogos estão excluídas do cálculo.

Também atenta ao impacto da Copa nas vendas, a Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) da Capital chegou a um número não muito distante – e restrito a Porto Alegre. Para a entidade, o resultado pode chegar até R$ 323,1 milhões. Dessa soma, R$ 101,8 milhões poderiam ser deixados no comércio e a maior parte, R$ 221,3 milhões, entraria no caixa do setor de serviços.

– Acreditamos que no comércio podem vender bem vestuário e artigos alusivos à Copa e ao Brasil. Lembranças também. Como nossa cultura é forte, produtos regionais devem sair bem – avalia Alcides Debus, vice-presidente da CDL.

Ponto facultativo pode levar clientes para lojas
Sondagem do Sindilojas com os associados aponta a expectativa de vendas 7% superiores durante o período da Copa. Para o presidente da entidade, Paulo Kruse, vai se sair melhor quem decorar seu estabelecimento com motivos relacionados à Copa e que tiver funcionários aptos a se comunicar com os visitantes.

– Estamos aconselhando que pelo menos se contrate temporariamente pessoas com noções de inglês – afirma Kruse.

O ponto facultativo para os funcionários municipais em Porto Alegre após o meio-dia em dias com partidas no Beira-Rio e jogos da Seleção não deve ser problema. Tanto Sindilojas quanto CDL apostam que o maior tempo livre também reverterá em mais gente no comércio. Um ponto de interrogação, porém, é se acontecerem protestos na cidade.

– O potencial de perda é grande se houver violência e depredação – alerta Schifino.

Hora de virar o jogo
Para a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), o varejo nacional tende a ver menos negócios no período do Mundial -R$ 1,5 bilhão deve ser a perda de faturamento no comércio varejista no período da Copa.

-No setor do comércio, as maiores perdas devem estar no segmento de venda de combustíveis e lubrificantes, cerca de R$ 705 milhões, seguido por farmácias e perfumaria, em torno de R$ 300 milhões.

-O segmento que mais ganha é o de eletroeletrônicos, que deve faturar cerca de R$ 826 milhões a mais.

Intelectuais fazem manifesto contra protestos com bloqueios

• Grupo defende direito a reivindicações, mas também o de ir e vir

Vera Araújo – O Globo

RIO DE JANEIRO E SÃO PAULO - A onda de greves que se espalhou pelo país, de funcionários públicos, como professores, ou de categorias privadas, como rodoviários e vigilantes, acendeu um debate sobre os limites de cada lado: de um, o trabalhador, que reivindica melhorias, do outro, a própria população, que sofre as consequências da paralisação dos serviços. A questão chegou a um ponto tal de ebulição que, na última segunda-feira, antropólogos, sociólogos e pesquisadores de várias instituições brasileiras assinaram um manifesto público pedindo um basta nos abusos, como o bloqueio de vias públicas, em especial nos horários do rush, que afeta diretamente o direto de ir e vir. Até ontem, o documento já reunia mais de 300 assinaturas.

O manifesto ressalta que o direito de manifestação, assim com o de greve, deve ser preservado dentro dos limites legais. “Exigimos que nossos direitos constitucionais sejam garantidos, não aceitamos vê-los usurpados por pequenos ou grandes grupos que têm direito de se manifestar, mas não de impor seus pontos de vista”, diz o texto.

Efeito negativo para a cidade
Um dos que encabeçam o movimento é o presidente do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade (IETS), o sociólogo e cientista político Simon Schwartzman. Ele diz que andar no Rio de Janeiro ficou “insuportável” e chama a atenção para os problemas causados pela greve dos rodoviários na rotina da cidade.

— Acho que não podemos permitir que os protestos e as greves não aconteçam, mas, definitivamente, eles não vêm ocorrendo da forma adequada. As pessoas têm o direito de greve, de se expressar. É legítimo. Mas há uma estrutura legal e democrática para que sejam atendidas as reivindicações dos grevistas. Não se pode colocar toda uma sociedade envolvida nisso. Se você para os ônibus, as pessoas não vão estudar nem trabalhar. A sociedade também tem o direito de não ser prejudicada — defende, acrescentando que a negociação salarial compete a operários e patrões e não pode prejudicar a sociedade. — Há regras que precisam ser seguidas: um tribunal para decidir se a greve é abusiva, uma Justiça que determina o dever de manter os serviços essenciais em funcionamento. O que temos visto é que a economia está sendo sacudida pelas sucessivas greves. Se você cria uma situação de caos, traz um efeito negativo para a cidade.

Antropóloga da UERJ, Alba Zaluar também é uma das signatárias do manifesto. Ela afirma que não estão sendo respeitados critérios para garantir o fluxo de vias públicas essenciais:

— Todo mundo é prejudicado. Analiso isso como um abuso. Muitas vezes, são 100 ou 200 manifestantes que se acham no direito de fechar tudo e influenciar a vida das pessoas que estão indo para o trabalho ou para um tratamento no hospital. Já vi um monte de ambulância pelo caminho.

Sem contar o prejuízo que causa à cidade, o estresse, que mexe com o psicológico da população. Façam as suas reivindicações, mas não há necessidade de se fechar o trânsito.

Para o professor de estatística do Instituto de Matemática da UFRJ Dani Gamerman, há uma inversão de valores perigosa.

— As pessoas têm o direito de se manifestar, mas é um absurdo um grupo que, às vezes, não passa de 50 pessoas, interferir no direito de ir e vir de milhares de cidadãos. E o poder público achar normal. O Estado tem que exercer o monopólio da força para garantir a rua para todos — critica.

O não cumprimento de regras legais — como, por exemplo, avisar sobre a greve com antecedência

— está por trás de boa parte dos problemas. A opinião é do professor de estatística do Instituto de Matemática da USP, Carlos Alberto Bragança Pereira, outro que aderiu ao manifesto.

— Algumas manifestações são legítimas. Outras, não. No caso dos rodoviários de São Paulo, ninguém sabia sequer com quem negociar. Estão faltando regras claras, punições exemplares. Isso cria uma situação ruim para quem não tem nada a ver com aquele evento — afirma Pereira.

No meio jurídico, não faltam críticas. Professor de Penal da PUC, Breno Melaragno diz que as manifestações têm criado um transtorno permanente:

— Há de haver um equilíbrio entre o direto de livre manifestação e o direito de ir e vir. Não são manifestações isoladas. Elas ocorrem o tempo todo.

Daniel Andrés Raizman, professor de Direito Constitucional da UFF, é outro inconformado com os abusos:

— É preciso garantir a prestação do serviço. O princípio da razoabilidade tem que ser respeitado.

(Colaboraram: Luiz Ernesto Magalhães (RJ) e Flávio Freire (SP)

Crise de representatividade no Brasil atinge sindicatos

• Para especialistas, greves promovidas por dissidentes mostram distanciamento entre líderes e base

Sérgio Roxo – O Globo

SÃO PAULO - A crise de representatividade detectada na raiz de diversas manifestações ocorridas pelo país desde junho do ano passado parece estar atingindo agora os sindicatos. Essa é pelo menos a opinião de alguns especialistas que estudam o setor e que enxergam nas paralisações lideradas, nos últimos dias, por dissidentes sindicais no Rio de Janeiro e em São Paulo um distanciamento da base em relação a suas lideranças sindicais. Elas estariam inclusive sendo colocadas em xeque em algumas categorias.

— É evidente que o contexto social (da proximidade da Copa do Mundo) é propício a manifestações — avalia Ricardo Antunes, professor de sociologia do Trabalho da Unicamp: — Mas há uma crise de representação na sociedade brasileira que atinge também o movimento sindical.

Nas situações mais extremas, diz o especialista, surgiram movimentos grevistas dissidentes da direção de seus próprios sindicatos.

— Os organismos de representação que não falam pelo conjunto da categoria geram um mal-estar em setores descontentes — destaca Antunes, lembrando que isso foi visto tanto na paralisação de garis do Rio quanto na dos motoristas de ônibus em São Paulo na semana passada.

Para Adalberto Cardoso, diretor do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), as dissidências também são resultados das disputas internas travadas nos sindicatos:

— Há sim uma correspondência entre os movimentos de rua e parte das greves que está acontecendo: os sindicalistas descobriram que as novas tecnologias de informação permitem uma organização para além e por fora do sindicato.

Cardoso não acredita, no entanto, em um movimento das bases contra os dirigentes sindicais.
— O que está acontecendo é a facilidade das oposições poderem operar como se fossem sindicato. Trata-se de uma disputa das elites sindicais.

O cientista político Leôncio Martins Rodrigues acredita, por sua vez, que os dissidentes podem estar, sim, buscando espaço.

— A radicalização é uma estratégia comum para chegar ao poder — lembra ele.

‘Hoje o sindicato não nos representa’
O motorista Hélio Alfredo Teodoro, de 40 anos, é um dos líderes do grupo de dissidentes dos rodoviários do Rio. Ele afirma não ter pretensão de assumir o comando oficial da categoria e conta que sua única participação na política sindical foi ter ajudado na campanha da chapa que hoje está no poder.

— Hoje, o sindicato não nos representa — diz ele: — Não admitimos que o sindicato aceite uma proposta dos patrões sem perguntar à categoria. A classe acordou agora.

O motorista não relaciona a onda de manifestações que acontece desde junho de 2013 com a dissidência dos rodoviários.

— São anos apanhando, chega uma hora que você explode — diz.

Mas os especialistas destacam como a proximidade da Copa do Mundo se tornou um trunfo importante nas negociações de classe.

— Todos nós buscamos o melhor momento para conseguir o que queremos. E, para os grevistas, a Copa é esse momento. Tudo nesse período tem que ser definido rapidamente. O país está na vitrine — diz Antunes.

— As categorias de trabalhadores esperam os momentos mais favoráveis para fazer greve. A Polícia Federal sempre faz greve quando um evento está para acontecer — acrescenta Adalberto Cardoso.

Para ele, é natural que os grevistas tentem provocar o maior dano possível à imagem do governo, o que ele considera “legítimo”. Cardoso não acredita, no entanto, que esteja ocorrendo um aumento do número das greves e sim uma maior visibilidade para as paralisações que são encampadas.

O panorama de hoje parecer diferente do vivido em 2002. Depois da eleição de Lula, muitos sindicalistas passaram a fazer parte do poder.

— Os sindicalistas (hoje) possuem cargos, fazem parte do poder. Eles não podem fazer greves contra eles mesmos — analisa o cientista político Leôncio Martins Rodrigues.

A Central Única dos Trabalhadores (CUT), a maior das centrais sindicais, historicamente ligada ao PT, foi a que mais mudou a forma de atuação, dizem os especialistas.

— A CUT não deixou de exercer seu papel, mas não exerceu como nos anos 1980 e 1990 — destaca Antunes.

O estudioso acredita que a participação do ex-presidente Lula foi fundamental para que se consolidasse essa mudança de postura.

— O Lula é um mestre da cooptação, e houve cooptação de setores da CUT, com ex-dirigentes que foram para ministérios. A CUT sofre com esse difícil papel de ser, ao mesmo tempo, governo e uma central que defende os interesses dos trabalhadores.

Adalberto Cardoso não concorda que o país tenha vivido um período de calmaria sindical:

— Não é verdade essa história de que o sindicato não reivindica. Se a direção do sindicato não faz greve ou não consegue aumento, perde a eleição. Desde 2005, 80% das categorias obtiveram aumento acima do INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor).

Claiton Gomes, secretário-geral do Sindicato dos Profissionais de Ensino de São Paulo (Sinpeem), filiado à CUT, reconhece que alguns sindicatos não souberam lidar com a chegada do PT ao poder.

— Muitos ficaram meio perdidos e confundiram o governo com o movimento — afirma Gomes, que esteve na diretoria da entidade.

Dilma analisa plano de criar controle econômico da mídia

• Presidente estuda incorporar a suas propostas de campanha ações contra oligopólios; ela nega que vá mexer em conteúdos

Tânia Monteiro - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - O programa do PT que será apresentado à presidente Dilma Rousseff defende o controle de conteúdo da mídia. O assunto ainda não chegou às reuniões de coordenação da pré-campanha reeleitoral, mas a regulamentação econômica da mídia será um dos temas de debate na hora da preparação do programa de governo, a ser levado para discussão com os partidos aliados.

Dilma, sempre que indagada, afirma que é a favor da regulamentação do controle econômico da mídia, mas ressalva que jamais concordaria com controle de conteúdo. "O melhor controle é o controle remoto", reitera a presidente, sempre que este assunto vem à baila. Embora defenda a regulamentação econômica da mídia, qualquer tratativa mais profunda sobre o tema, de acordo com interlocutores da presidente, será feita no Congresso.

O tema é considerado "muito polêmico" e de baixo dividendo político. Além disso, quando a discussão chegar ao Congresso, terá de enfrentar muitos parlamentares que são donos de empresas de comunicação, além de outros que não querem comprar a polêmica. Ainda assim, antes que se pudesse pensar em encaminhá-lo ao Congresso, interlocutores da presidente lembram que o projeto teria de ser discutido com a sociedade.

Um dos interlocutores da presidente Dilma disse que a proposta apresentada pelo PT foi "genérica". Mas ressaltou que a ideia é discutir a democratização da mídia e sugeriu como modelo a regulamentação que existe nos Estados Unidos, onde um empresário do setor precisa escolher se quer ter uma rádio, uma empresa de jornal ou uma de televisão.

Há quatro anos, Franklin Martins, ex-ministro de Comunicação Social do governo Luiz Inácio Lula da Silva, elaborou uma proposta, que deixou no Planalto para ser levada ao Congresso. Dilma, no entanto, embora desde aquela época reiterasse o discurso de que é a favor da regulação econômica e contra a de conteúdo, preferiu deixar o polêmico projeto de lado.

Nos últimos dias, Lula voltou a pregar o controle social da mídia. Mas qualquer nova investida no tema necessitaria de elaboração de um novo projeto porque o deixado por Franklin já estaria desatualizado, sem incorporar questões fundamentais de mídias digitais, como os mecanismos de busca do Google.

Um projeto deste teor teria de ser feito para regulamentar dois artigos da Constituição 220 e 221, que estabelecem que os meios de comunicação não podem ser objeto de monopólio ou oligopólio, que parlamentares não podem ser donos de emissoras e que precisa existir uma cota para produção regional e independente.

Preocupação. "A interferência no conteúdo dos meios de comunicação é abominável e, felizmente, a presidente Dilma não tem dado guarida a isso", afirmou o presidente da Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert), Daniel Slaviero. O problema da regulamentação econômica do setor, segundo ele, é o "viés retrógrado" que o PT dá ao assunto.

"É com preocupação que vemos que o partido usa o argumento da regulação econômica para voltar com os eufemismos do controle social da mídia. É um retrocesso." Slaviero diz que a entidade está aberta para debater a regulação do setor, desde que seja uma regulação que olhe para o "futuro".

Em nota, o diretor administrativo da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), Orpheu Santos Salles, afirmou que a entidade é "contrária a tudo que restringe a liberdade de opinião e expressão e a qualquer monopólio ou oligopólio que venha a ferir as liberdades como configurado na Constituição".

A Associação Nacional de Jornais (ANJ) informou que só se manifestaria sobre o tema após a divulgação oficial da proposta petista de regulação do setor.

PT e PMDB divergem sobre proposta de regulação da mídia

• Aliados dizem que programa de Dilma ainda está em construção

Fernanda Krakovics – O Globo

BRASÍLIA - A proposta de regulação dos meios de comunicação, apresentada na segunda-feira pela Executiva do PT como proposta para o programa de governo de Dilma, divide aliados da presidente Dilma Rousseff. O documento com sugestões de diretrizes sobre 15 temas foi elaborado pelo assessor especial da Presidência da República, Marco Aurélio Garcia, e recebeu emendas do partido. Marco Aurélio, junto com o ex-presidente da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex) Alessandro Teixeira, também será o responsável pela elaboração da proposta oficial de governo para um eventual segundo mandato de Dilma, que ainda será debatida com os partidos aliados.

Apesar de a proposta de regulação constar do documento, assessores da presidente afirmam que, como o governo é de coalizão, outros partidos vão apresentar suas propostas, e apenas o que for consenso chegará à versão final do programa. O PMDB, por exemplo, não concorda com a proposta.

Por meio de sua assessoria, o vice-presidente da República, Michel Temer, que deve ser novamente indicado para compor a chapa, informou que a defesa da liberdade de imprensa é uma tradição do PMDB e que não deve haver mudança sobre esse ponto no programa que o partido apresentará para a coligação de Dilma.

“As diretrizes não se confundem com o programa de governo, ainda em elaboração, que nossa candidata Dilma Rousseff defenderá na próxima eleição presidencial”, ressalta trecho do documento divulgado na última segunda-feira pelo PT.

A chamada “democratização” dos meios de comunicação, por meio da regulação da mídia, é uma bandeira histórica do PT e causou polêmica na campanha de 2010. No documento deste ano, no entanto, o partido abandonou a ideia de criar um Conselho Nacional de Comunicação Social, que abria brechas para controle de conteúdo, e conquistou o apoio da presidente Dilma Rousseff para a regulação econômica dos meios de comunicação, mais especificamente para a regulamentação dos artigos 220 e 221 da Constituição.

“A democratização da sociedade brasileira exige que todas e todos possam exercer plenamente a mais ampla e irrestrita liberdade de expressão, o que passa pela regulação dos meios de comunicação — impedindo práticas monopolistas — sem que isso implique qualquer forma de censura, limitação ou controle de conteúdos”, diz o documento aprovado pela Executiva Nacional do PT na última segunda.

Dilma falou do tema com jornalistas
Em jantar com jornalistas mulheres no início do mês, Dilma afirmou ser contra o controle de conteúdo, mas defendeu a regulação econômica:

— Não tenho a menor vontade (de controlar a mídia). Sempre defendi a liberdade de imprensa. E da internet. Briguei para aprovar o marco regulatório e a neutralidade da rede. Eu não quero regular conteúdo de mídia nenhuma. Mas, como qualquer outro setor, a mídia é passível de controle econômico. É uma concessão. Isso acontece na Inglaterra, em Portugal, nos Estados Unidos.

Em 2010, quando o tema surgiu na campanha, os mais próximos assessores da presidente agiram para retirar a questão do programa apresentado ao TSE. O cerne da questão é a regulamentação dos artigos 220 e 221 da Constituição, que estabelecem que os meios de comunicação social não podem, direta ou indiretamente, ser objeto de monopólio ou oligopólio. Esses artigos também fixam os princípios para a produção e a programação das emissoras de rádio e televisão, como promoção da cultura nacional e regional.

“Uma nova regulação dos meios de comunicação deve proteger e promover os direitos humanos e combater os monopólios, atualizando as conquistas cidadãs da Constituição Federal, regulamentando o que já é previsto na mesma em relação às rádios e televisão brasileiras”, afirma o documento do PT.

Campeões olímpicos de vôlei, Giba e Giovani apoiam Aécio Neves

• Filiados ao PSDB, ex-atletas defendem bandeiras de projetos para formação de competidores

Maria Lima – O Globo

BRASÍLIA — O ex-atacante Ronaldo Fenômeno, artilheiro e campeão da Copa do Mundo de Futebol, provocou nesta semana uma ciumeira entre os petistas, ao anunciar que será um atuante cabo eleitoral do tucano Aécio Neves. E o candidato do PSDB não pretende parar por aí. Ele está formando um time de atletas campeões olímpicos como candidatos puxadores de votos em vários estados, com a defesa de bandeiras sobre projetos de incentivo a formação de competidores, e um bom legado para as Olimpíadas de 2016. Além de Ronaldo e do ex-técnico da seleção de vôlei Bernardinho, que não disputarão mandatos, os bicampeões olímpicos Giovani Gávio, candidato a deputado por Minas Gerais; e Giba, já filiado ao PSDB do Paraná, integram o time.

Giba ainda não anunciou a candidatura oficialmente, articulada por Aécio. Mas Giovani já está em campanha e viajando ao lado do pré-candidato à presidência. Eles já viajaram juntos para os estados de Alagoas e Maranhão.

— A gente tem um povo sedento de esporte e tem muito pouca opção a sua disposição. Temos que ter projetos atrativos para formação de atletas de base para disputar a criançada com o videogame e outros hábitos pouco saudáveis. Um dos projetos que vou defender é que a educação física volte a ser obrigatória nas escolas — disse Gávio, que está voltando a Minas Gerais para estruturar sua campanha.

Sobre a dobradinha com Aécio, o ex-jogador de vôlei diz que Aécio é um parceiro antigo e está entrando na disputa política por causa dele. Sobre o assédio feminino na campanha, ele acha que isso pode ajudar sim.

— Temos que aproveitar né? (risos). Mas tenho um reccall de uma vida inteira defendendo o Brasil dentro das quadras. Agora quero continuar defendendo em outras quadras — brinca Giovani.
Depois de acertar a candidatura de Giovani Gávio, Aécio investe em Giba para oficializar a candidatura.

— Estamos formando um timaço! Se tudo der errado, marcamos um jogo dos veteranos com a meninada — disse Aécio.

As razões do mau humor no voto empresarial

Letícia Casado – Valor Econômico

SÃO PAULO - O camarão com catupiry já tinha chegado à mesa de um restaurante na zona sul de São Paulo quando o vice-presidente de uma grande seguradora fez sua fezinha para 2014. "O maior gol é levar a eleição para o segundo turno. Não queremos a reeleição de Dilma. Se o Brasil perder a Copa a frustração vai se voltar contra o governo".

Ao longo dos últimos dois meses, o Valor ouviu 20 executivos sobre suas expectativas em relação à sucessão presidencial. A torcida contrária à reeleição da presidente Dilma Rousseff contamina as expectativas de três dos entrevistados em relação à Copa do Mundo - além do vice-presidente da seguradora, um diretor de empresa de serviços financeiros e o presidente de uma construtora. Um deles chega a dizer que é preferível a vitória da Argentina à de Dilma.

Sob a condição de anonimato, 12 presidentes, três vice-presidentes e cinco diretores de empresas sediadas no Brasil em São Paulo, Rio, Paraná, Ceará e Pernambuco expuseram as razões de seu azedume com a presidente. As empresas são de setores tão diversos quanto alimentos, vestuário e calçados, siderurgia e mineração, tecnologia, energia, higiene e beleza, infraestrutura, seguros, construção civil, indústria automobilística, varejo e atacado, segurança, hotelaria, financeiro e eletroeletrônico. Algumas lideram seus mercados.

Apenas três presidentes disseram que um eventual segundo mandato de Dilma pode ser melhor do que o primeiro, sendo que, destes, dois criticaram sua gestão. Para o presidente de uma empresa de tecnologia, "o governo Dilma teve muitos erros e equipe ruim, mas o segundo mandato pode ser melhor". Para o de uma empresa de energia, as reformas estruturais foram portergadas, mas Dilma é quem tem mais chance de fazê-las: "Não é a agenda de primeiro mandato, mas pode ser do segundo".

O caráter confidencial das conversas permitiu a eles fazer revelações e reclamar da gestão Dilma, em contraposição à postura adotada em público. Muitas das queixas vêm de setores com desempenho forte nos últimos três anos.

O executivo de uma multinacional do setor automobilístico diz que sua empresa planejava trazer executivos de uma fornecedora estrangeira para a Copa, mas a direção da fornecedora vetou o convite alegando que eles correriam risco.

O medo começou a ser disseminado na própria empresa automobilística. Este executivo diz que, durante a greve da Polícia Militar na Bahia, em abril, um gerente enviou mensagem a filiais do grupo em outros países para os funcionários evitassem viajar ao Brasil.

"Ninguém quer sair da fábrica à noite com medo da violência. Liberamos funcionários três horas antes", diz o executivo, que se queixa de desvantagem comparativa em relação a outros países: "Tem que ter escolta no transporte de carga e carro blindado para executivo".

A insatisfação, no entanto, excede Copa e segurança pública. Este executivo, que representa um dos setores mais beneficiados pelas desonerações fiscais do atual governo, diz que faltou uma política que englobasse a cadeia produtiva e não apenas a ponta, como, segundo ele, foi a redução do Imposto Sobre Produtos Industrializados (IPI). "Preciso de mais recurso e inteligência para operar no Brasil do que colegas de outros países para ter o mesmo resultado."

Segundo ele, fabricantes da cadeia automobilística levaram um documento com demandas ao governo federal; de 30 tópicos, "um ou dois foram atendidos". "E 2014 é ano de total indefinição." Para outro executivo do setor, manter os números de 2013 "já é vitória".

Companhias de vários setores refazem planos para 2014. O presidente de uma empresa de infraestrutura determinou o represamento de verbas para o estudo prospectivo de um leilão, pois não está claro o que o governo federal vai fazer na região Norte. Há duas opções, ferrovia ou rodovia. Para ele, é possível que o projeto esteja parado esperando o aval de Dilma.

O setor de infraestrutura foi contemplado na gestão Dilma com a criação da Empresa de Planejamento e Logística (EPL), estatal com a meta de centralizar a gestão de projetos e tornar o sistema brasileiro multimodal e menos dependente da malha rodoviária. A EPL organiza concessões rodoviárias, ferroviárias, de portos e aeroportos à iniciativa privada. Apenas em rodovias o programa prevê leiloar nove lotes que somam 7 mil quilômetros, sendo que 5 mil já foram licitados em seis lotes.

Mas, para o executivo de infraestrutura, essas iniciativas não são suficientes: "A EPL não decolou por causa da interferência do Palácio do Planalto na elaboração de projetos". Em 2013, algumas licitações precisaram ser ajustadas, um leilão foi cancelado e, pressionado, o governo federal aumentou a taxa interna de retorno (TIR) dos projetos, tamanho foi o embate com a iniciativa privada, que contestou o teto imposto nos editais.

A indefinição no cenário eleitoral e a Copa do Mundo também seguram os investimentos em novos negócios, segundo presidente de uma empresa do setor de hotelaria. De acordo com o Fórum de Operadores Hoteleiros do Brasil (Fohb), órgão que representa o setor, a receita por quarto disponível cresceu 5,3% entre 2012 e 2013.

"A preocupação dos empresários com a economia está voltada para 2015", disse o vice-presidente de uma indústria eletroeletrônica. A posição foi endossada por outros oito entrevistados, para os quais o próximo ano será "de ajuste", "preocupante", "incógnita" e "mais difícil". Para este vice-presidente, "2014 não vai ser nenhum desastre" e deve empatar com os resultados de 2013. "Em 2008, aprendemos com a crise que o problema é ficar estocado. Muita gente aprendeu a se proteger financeiramente, a não ter fluxo de caixa tão justo e ficar mais líquido."

A perspectiva de estagnação de resultados este ano fez a companhia aumentar o ritmo de avaliação das vendas - antes feita a cada três meses, passou para dois. "A gente faz mais pesquisa, olha mais lojas. Se o assunto de segunda-feira era 'como está o faturamento', agora é 'como foi o varejo no fim de semana'", diz o vice-presidente.

Os executivos convergem na crítica de que o eleito vai trabalhar com esqueletos deixados pelo PT como o represamento de tarifas de energia e combustível. Há quem compare o Brasil a Venezuela e Argentina, dizendo que o país terá economia similar em dez anos.

Dezenove entrevistados dizem querer mudanças na política econômica. Apenas um, de siderurgia e mineração, diz que o país passa por quase pleno emprego e é preciso ser realista, "pois o cenário interno depende do externo".

A próxima gestão, dizem nove entrevistados, terá que buscar reformas tributária, política e trabalhista, e reduzir gastos públicos. Os desafios são maiores do que em 2010 quando o país cresceu 7,5%. O cenário internacional piorou e a retomada da economia depende da realização dessas reformas, que foram postergadas. "Foram feitas apenas algumas iniciativas, cirúrgicas, neste governo", diz o presidente de uma empresa de energia.

O setor elétrico enfrentou embates com o governo federal pela maneira que se deu a redução na conta de luz. O governo promulgou em 2012 a Medida Provisória 579, que propunha renovação antecipada da concessão de geradoras e transmissoras de energia em contratos que venceriam até 2017. Mas a fórmula atingiu a remuneração das empresas nos novos contratos; algumas geradoras não renovaram a concessão e a energia vendida no mercado livre ficou mais cara. Para não repassar a diferença ao consumidor, o governo fez empréstimos subsidiados às geradoras.

O presidente de uma construtora diz que seu setor foi beneficiado com o PT na Presidência: "A construção civil passou oito anos sem política de financiamento para moradia nos governos do PSDB". "Mas nada vem de graça", acrescenta, ao queixar-se de que faltam produto e mão de obra no setor. Existe um descompasso na produção: em 2010 e 2011 a indústria atingiu o pico e a demanda caiu, e a falta de sintonia gera, por exemplo, dificuldade em receber os elevadores dos prédios, cita o empresário. As encomendas são feitas no início da obra, mas no fim ainda não foram entregues. Para o empresário, faltou política para a cadeia produtiva, e a solução é "mudar a administração do Brasil para evitar o caos".

Para os entrevistados, deve-se esperar menos do modelo de crescimento baseado no consumo. Até quem atua na área diz que o próximo presidente deve mirar em outras agendas. Um fabricante de alimentos diz que o setor freou investimentos nos últimos dois anos.

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva se assessorava melhor do que Dilma; Henrique Meirelles, ex-presidente do Banco Central, e Luiz Fernando Furlan, ex-ministro do Desenvolvimento, foram citados várias vezes como bons gestores. Com exceção do atual ministro dos Transportes, César Borges, nenhum ministro de Dilma foi elogiado.

"O governo federal trouxe para o Executivo pessoas sem experiência de mercado, e o ministério não pode só ter técnicos. Tem que ter um banqueiro na Fazenda. E alguém de mercado nos ministérios setoriais. O César Borges deu outro tom quando assumiu os Transportes", diz o executivo da área de infraestrutura. "Existe a necessidade de aumentar o pipeline de projetos. E não é preciso inventar nada, muitas instituições têm estudos sobre a necessidade logística do país. CNI [Confederação Nacional da Indústria], CNA [Confederação Nacional da Agricultura] já apontaram os projetos prioritários, basta escolher uma cartilha e seguir."

As convicções pessoais também aparecem nas conversas: alguns simplesmente não gostam do PT e dizem que o partido trabalha em cima de um "projeto de poder". O presidente de uma empresa de vestuário e calçados com forte presença no consumidor de baixa renda diz que não vota no PT e um dos motivos é "a famigerada Bolsa Família, que não tirou ninguém da pobreza". Sua empresa tem operação no interior do Nordeste e dificuldades para contratar porque "o cara quer trabalhar por seis meses e continuar no Bolsa Família".

Em relatório sobre o varejo no Brasil divulgado em 15 de maio, o banco HSBC alerta sobre os riscos de um período prolongado de queda no consumo das famílias e o impacto que isso pode ter nos resultados das companhias do setor. "Acreditamos que uma gestão robusta fará diferença no lucro líquido [das empresas], considerando a perspectiva obscura para o ano."

Entre os otimistas está o presidente de uma empresa de tecnologia, para quem Dilma vai "se desprender da política" em eventual segundo mandato. "Bateu onda de pessimismo nos colegas, mais do que a realidade se mostra."

Ele diz que as vendas do setor foram fortes nos últimos anos e "não tem um empresário quebrando", discurso na linha daquele adotado pelo ex-presidente Lula. Desde 2013, a venda de computadores, notebooks e tablets é estimulada pelo programa Minha Casa Melhor, do governo federal, que financia móveis e eletrodomésticos a juros baixos para beneficiários do Minha Casa, Minha Vida.

Outro presidente de empresa, do setor de siderurgia e mineração, defende o Pronatec, programa federal de ensino técnico, uma das bandeiras da gestão Dilma que serão defendidas na campanha eleitoral. Ele diz que a adesão de 6 milhões de pessoas ao Pronatec favorece sua empresa, que recebe gente mais preparada para trabalhar.

Nenhum dos 20 entrevistados, nem mesmo em off, disse duvidar da idoneidade da presidente.

Projeto de Aécio que muda o Bolsa Família passa em comissão

• Proposta mantém por seis meses repasses a quem ultrapassar teto de renda previsto

Gabriela Guerreiro – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - A Comissão de Assuntos Sociais do Senado aprovou nesta quarta-feira (28) projeto do senador Aécio Neves (PSDB-MG) que mantém o pagamento do Bolsa Família por seis meses para chefes de família que ultrapassarem a faixa de renda prevista pelo programa. O pagamento vale para os casos em que o beneficiário conquistar um emprego com carteira assinada.

Pré-candidato do PSDB à Presidência, Aécio mobilizou senadores da oposição e conquistou apoio de aliados da presidente Dilma Rousseff para aprovar o projeto, que é de sua autoria e passou por 10 votos a 9. O PT pressionou contra a aprovação da proposta, mas, com a adesão de governistas à matéria, acabou derrotado na comissão.

O projeto segue para votação na Comissão de Direitos Humanos do Senado, onde será analisado em caráter terminativo. Se for aprovado, vai diretamente para a Câmara.

Na prática, o texto permitirá a permanência no programa de famílias que, com a atividade remunerada, perdiam as condições de extrema miséria. E determina a revisão, a cada dois anos, das regras para a entrada das famílias.

"O incrível, o inaceitável é que o PT não quer nenhum avanço em um programa tão importante como esse porque prefere ter um programa para chamar de seu. O discurso do PT de defesa dos pobres é incoerente com a sua prática, porque hoje votou contra os beneficiários do Bolsa Família", afirmou Aécio.

A ministra Tereza Campello (Desenvolvimento Social) afirmou que estava estarrecida: "Nos preocupa que, no período eleitoral, medidas acabem sendo tomadas de forma açodada, atabalhoada e leviana e acabem prejudicando um programa tão bem-sucedido. De fato nos preocupa que essas medidas sejam tomadas às vésperas das eleições. O Bolsa Família tem 11 anos. Onde estava o senador Aécio Neves nesses 11 anos que não tratou do Bolsa Família?", questionou.

Mudança no Bolsa Família

Amanda Almeida – Correio Braziliense

Sob protesto do Executivo, a Comissão de Assuntos Sociais do Senado aprovou ontem projeto do pré-candidato do PSDB à Presidência, senador Aécio Neves (MG), que altera regra do Bolsa Família, uma das principais bandeiras eleitorais da gestão petista. A proposta mantém o pagamento do programa por seis meses para chefes de família que ultrapassarem a faixa de renda limite.

"Em alguns casos, quando essa revisão é feita e ocorre o desligamento (do trabalho) desse cidadão, ele se sente desestimulado a ir para o mercado de trabalho, se desligar do programa e, amanhã, se não dar certo no novo emprego, (ter de) entrar na fila novamente (para receber o Bolsa Família)", defendeu Aécio.

A ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Tereza Campello, criticou o projeto. "Nos preocupa que, no período eleitoral, medidas acabem sendo tomadas de forma açodada, atabalhoada e leviana."

Eduardo Campos busca marcar diferenças para Aécio Neves

• Pré-candidato do PSB tenta se firmar como terceira via entre PT e PSDB

Maria Lima – O Globo

BRASÍLIA - A lua de mel que estava sendo vivida entre os dois principais candidatos da oposição, Eduardo Campos e Aécio Neves, acabou. O distanciamento dos dois nas pesquisas de intenção de votos do último mês levou a uma reorientação de rumos por parte da campanha de Campos, que, em conversas informais, não poupa críticas ácidas à campanha de Aécio e até diz que o tucano perde no segundo turno.

A mudança de humor teve como marco inicial o episódio do fórum de empresários em Comandatuba, onde Aécio irritou Campos e sua vice Marina ao insinuar que os dois estariam ao lado dele em 2015. Os socialistas consideram que o empresário João Dória, organizador do evento, armou uma situação para beneficiar Aécio perante os empresários, dando ao tucano o dobro de tempo que o recebido por Campos. A insatisfação ficou clara em um desabafo que Campos fez recentemente a interlocutores considerando a atitude de Aécio “uma deselegância sem tamanho”.

De olho em eleitor de Lula
Agora, Campos tem como frente de ataque se diferenciar de Aécio ressaltando avanços dos governos Lula e FHC e focando suas críticas apenas na presidente Dilma. O propósito do afastamento de Aécio tem um objetivo maior: firmar a imagem de terceira via, com projetos diferentes, para conquistar não apenas tradicionais adversários do governo, mas parte dos 15 milhões de votos de eleitores, segundo estimativas dos socialistas, que reconhecem conquistas do governo Lula, mas que não são petistas. Campos considera que, ao exaltar sua parceria com o ex-presidente, do qual foi ministro, não terá como ser contaminado pelo voto antilulista. E minimiza o ataque dos petistas que o chamam nas redes sociais de “traíra”, por ter rompido com Dilma.

Eleições 2014
Campos tem se dedicado intensamente a analisar pesquisas feitas pelos marqueteiros Diego Brandy e Antônio Lavareda. Nessas avaliações, o ex-governador considera que vai começar a deslanchar e até passar Aécio, quando, nas pesquisas, aparecer como mais bem colocado que o tucano num eventual segundo turno. Mas a estimativa é que isso só ocorra a duas semanas das eleições, após um mês de programa eleitoral na TV. Assessores citam que isso ocorreu em sua primeira eleição em Pernambuco, em 2006. E sua prioridade, na campanha, é viajar para cidades do interior do Nordeste e de São Paulo.

Tucano evita ataques
Os socialistas apostam que serão beneficiados em São Paulo por um suposto ressentimento de José Serra e Geraldo Alckmin com Aécio. Segundo um integrante do PSB, Alckmin teria ido 14 vezes a Minas Gerais como candidato a presidente em 2006 e em nenhuma Aécio estava presente.

Já Aécio tem evitado dar qualquer declaração que melindre Campos, mesmo depois da decisão do PSB de romper o acordo em Minas Gerais e lançar a candidatura do deputado Júlio Delgado ao governo do estado para enfrentar o tucano Pimenta da Veiga. O tucano diz que respeita e vai continuar respeitando Eduardo Campos.

No PSDB, o afastamento de Campos só tem uma explicação: o crescimento de Aécio nas pesquisas e a necessidade de o socialista tentar se distanciar para marcar um projeto próprio, de olho nos votos da esquerda não dilmista. Sobre o acontecimento em Comandatuba, Aécio tem dito que foi mal interpretado por Campos e Marina. Em conversas reservadas, o tucano comenta que, como Campos tinha dito que queria afastar as raposas políticas, ele precisaria de apoio do PSDB para governar, caso eleito.

Dora Kramer: Depois daquela nota

• Se não tivesse jogado texto de Graça no lixo, Dilma não precisaria agora obstruir CPI

- O Estado de S. Paulo

E a nota redigida pela presidente da Petrobrás, Graça Foster, rasgada pela presidente Dilma Rousseff e substituída por uma resposta escrita de próprio punho ao Estado sobre a compra da refinaria de Pasadena, no Texas? Nunca mais se falou nela. Ficou esquecida na lata de lixo em que foi jogada num rompante, cujo custo revelou-se altíssimo.

Na perspectiva das consequências geradas pelo gesto nesses últimos mais de dois meses, seria interessante revisitar o texto original. Segundo consta, dizia que o assunto estava sendo examinado pelas instâncias competentes (Tribunal de Contas da União, Polícia Federal e Ministério Público, além da própria Petrobrás) e que a posição do governo já havia sido explicitada por ela e pelo antecessor, Sergio Gabrielli, em audiências no Congresso.

De fato, ambos haviam ido ao Parlamento para tratar do tema e dito, em suma, que à época a compra tinha sido considerada um bom negócio. Nenhum dos dois fez qualquer referência a decisões tomadas com base de informações incompletas e era nessa moldura que se enquadrava o texto sugerido por Graça Foster e rejeitado por Dilma. Se aceito, a coisa provavelmente teria ficado por aí.

Agora, todo o esforço do governo na CPI de faz de conta montada no Senado tem sido para reparar o dano político causado pela equivocada avaliação da presidente de que, transferindo a responsabilidade para um "parecer técnica e juridicamente falho", estaria matando o mal pela raiz e se precavendo de prejuízo maior durante a campanha eleitoral.

Com aquela atitude a presidente não pretendia - como sugeriram alguns aliados para tentar salvar a situação - enfrentar a questão na base da firmeza e da transparência. Essa foi a versão escolhida para tentar reduzir o tamanho da ferida produzida pelo tiro no pé.

E como é possível afirmar que a intenção da presidente não era a melhor? Pela reação da própria presidente. Se o motor do impulso fosse o desvendar da verdade, Dilma não estaria hoje dedicando-se à tarefa de fazer o diabo para impedir o Congresso de mostrar à nação o que vai pela Petrobrás.

De maduro. Não procedem as recentes especulações sobre a possibilidade de a escolha do vice na chapa de Aécio Neves ficar para depois da convenção do PSDB marcada para o próximo dia 14. O senador por enquanto ainda faz mistério, mas pretende antes disso anunciar a decisão.
Inclusive porque, se não o fizer, entrará no chamado processo "indecisório", cuja marca reforça a imagem do tucano eternamente refugiado no muro.

Agora foi. Há no PMDB o sentimento de que foi um equívoco marcar a convenção para o dia 10 de junho. Será a primeira e, no entanto, a mais polêmica. Entre os convencionais contrários à renovação da aliança com o PT viceja o arrependimento.

A avaliação é a de que houve precipitação, pois até o fim do mês, quando termina o prazo para as definições partidárias, muita coisa poderia acontecer. E, no momento, o clima que já esteve pior para o lado do governo melhorou depois que Lula entrou nas negociações de bastidor para conter insatisfações ao custo até de alguns interesses do PT.

Filhotes. Protocolar no jantar oferecido a ela pelo PMDB, a presidente Dilma Rousseff não teria como fugir de desejar "boa sorte" aos filhos de Jader Barbalho, Romero Jucá, Renan Calheiros e Edison Lobão, candidatos aos governos dos Estados onde os pais têm seus feudos.

Já os respectivos eleitorados não estão obrigados a seguir liturgias. Livres para se guiar pela sabedoria popular: quem sai aos seus não degenera. Para o bem e para o mal.

Merval Pereira: Padrão Brasil

- O Globo

Ao tentar rebater as críticas aos aeroportos brasileiros afirmando que eles não são “padrão Fifa” mas sim “padrão Brasil”, a presidente Dilma mais uma vez escorregou no improviso (dando de barato que não foi uma “sacada genial” de seus marqueteiros) e, sem querer, chancelou o “padrão Brasil” como definição de produto de má qualidade.

Até hoje produtos “made in China” carregam consigo a desconfiança do consumidor, enquanto os “made in Japan” já conseguiram ser um atestado de qualidade. Os aeroportos “made in Brasil” definitivamente não são sinônimo de coisa boa, pelo menos enquanto não entram em funcionamento os novos terminais que deveriam estar prontos para a Copa do Mundo de futebol.

O Brasil, como Nação, perdeu uma grande oportunidade de se mostrar ao mundo como capacitado a realizar grandes eventos como uma Copa do Mundo ou as Olimpíadas. Só havia uma razão para o governo brasileiro batalhar por essa realização, e por isso a China realizou as Olimpíadas de 2008, a África do Sul realizou a Copa do Mundo de futebol em 2010 e a Rússia vai ser a sede da Copa de 2018.

Todos esses países que formam os BRICS têm como objetivo ganhar espaço político no mundo multipolar, e o Brasil estava no caminho certo ao pleitear a Copa e as Olimpíadas quase ao mesmo tempo. Mas perdeu sua grande chance ao não se dedicar à organização e ao planejamento desses eventos planetários com a prioridade devida. Valeu mais para o governo Lula ganhar a disputa pela realização deles do que a realização em si.

Resta agora torcer para que, mesmo dentro de condições mínimas, corra tudo bem nesse próximo mês. Mas o que o mundo está vendo nesses momentos pré-Copa não faz bem à imagem do país.
Até índios dando flechadas em plena Esplanada dos Ministérios em Brasília apareceram nas televisões internacionais, reforçando estereótipos. A questão é que grupos oportunistas que querem aproveitar a Copa para fazer chantagem, fazem greves, pedem aumentos abusivos, interrompem o trânsito.

Mesmo um grupo pequeno consegue hoje em dia interromper o trânsito nas grandes metrópoles, parando as cidades. E há ainda grupos minoritários de vândalos, ou grupos de Black-blocs, que fazem uma campanha contra a Copa que absolutamente não envolve a maioria do povo.

O sentimento geral é de crítica ao governo, que não cumpriu o que prometeu, que atrasou tudo, que mostrou ineficiência. As pessoas suspeitam de que houve muita corrupção nas obras da Copa, mas todas essas são críticas específicas, ninguém é maluco a essa altura de achar que o melhor é que tenha Copa.

Pode-se até achar não deveria ter Copa, que o governo deveria, em vez de ter batalhado para sediá-la, não ter colocado isso na sua pauta, não deveria ser um objetivo prioritário para um país pobre, necessitado de muitas coisas. Mas já que fez, não há sentido em querer boicotar a Copa, é coisa de minorias.

Misturar política com Copa do Mundo, e aproveitar a situação para tirar proveito próprio ou político, é atitude criticável. Mas o governo também precisaria atuar com mais decisão desde sempre, no relacionamento com os chamados “movimentos sociais”, para evitar os abusos que estão acontecendo hoje.

Agora, diante da realidade que o populismo não conseguiu controlar, é preciso montar esquemas de segurança menos falhos, cumprir pelo menos a sua parte agora, já que a parte dos chamados legados da Copa está prejudicada pelos atrasos nas obras.

Pelo menos agora o governo tem que montar um esquema para garantir a segurança das pessoas e das delegações, dos mandatários que vêm ver os jogos. Mais uma demonstração de ineficiência do esquema oficial foi vista na saída da delegação brasileira para Teresópolis, quando professores em greve chegaram a atacar o ônibus com os jogadores da seleção brasileira dentro.

Não importa se a culpa é do governo federal ou dos governos estaduais e até municipais, esse “inferno” de várias esferas de poder que o secretário-geral da Fifa Jerôme Valcker experimentou. O fato é que o país perdeu uma grande chance de se mostrar ao mundo como uma potência emergente devido a seus próprios defeitos, turbinados pelo populismo no poder.

A constatação não decorre de complexo de vira-lata, mas, ao contrário, da rejeição da fantasia marqueteira de um governo que vende um país que não existe em vez de tentar mudar sua realidade. E que agora, depois do leite derramado, quer usar o patriotismo como refúgio de seus próprios erros.

Eliane Cantanhêde : Tá quente, tá gelado

- Folha de S. Paulo

Nessa loucura pré-Copa, só estava faltando isso: índios enfrentando a polícia com arco e flecha e flechando a perna de um PM, bem no centro da capital da República. Agora, não falta mais.

Poderia ser engraçado, mas, convenhamos, não é. Os 500 mil estrangeiros esperados e os milhões que ficarão em casa devem estar imaginando: que país é este? Ou confirmando o que já imaginavam.

Muitos devem estar esperando, ou visualizando, vacas comendo capim nos centros urbanos e carroças desengonçadas trafegando nas vias públicas, entre mendigos e crianças esfomeadas. E devem estar com medo de dengue, sarampo e outras doenças transmissíveis. Ei! E a capital não é Buenos Aires!

Até aqui, não há como esconder: a propaganda do Brasil no exterior é péssima. Protestos por toda a parte, greves das mais variadas categorias, milhões de cidadãos e cidadãs mofando em pontos de rua à espera dos ônibus que não chegam. E atrasos, improvisações, jeitinhos, aeroportos com goteiras, estádios cercados de lixo e de entulho de obras.

Daqui da janela da sucursal da Folha em Brasília, vê-se um longo passeio sendo construído às pressas para o estádio Mané Garrincha. Demoraram seis anos para descobrir que precisava de um passeio ali? Ou sabiam desde o início e deixaram para fazer aos 45 do segundo tempo?

Dilma, olímpica, se ocupa em recolher o apoio, ora da cúpula do PTB, ora da direção do PP, ora dos líderes do PMDB, enquanto a Copa, as convenções partidárias oficiais e os chefes de Estado de mais de dez países não vêm, inclusive os presidentes e primeiros-ministros dos Brics, que vão se reunir em Fortaleza.

O Planalto em clima de eleição, o país em clima de Copa. Ops! De protesto, porque, de Copa mesmo, não é. Dos cerca de 300 carros no estacionamento fora do prédio, quantos tinham a bandeira do Brasil nesta quarta (28/5), a duas semanas dos jogos? Nenhum. O clima está gelado.

Almir Pazzianotto Pinto*: O paradoxo trabalhista

- O Estado de S. Paulo

Décadas de debates em torno da reforma trabalhista, nos quais se entrechocam defensores da modernização e paladinos do atraso, deixam de discutir aspecto fundamental da questão: o direito positivo tem como principal objetivo imprimir segurança às relações sociais. É inaceitável, portanto, legislação que, por ser ardilosa e confusa, fomenta demandas.

No centro da pendência encontra-se a velha Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). Quem a defende não pode deixar de reconhecer que estamos diante de texto arcaico, da época da locomotiva a lenha, dos teares manuais, dos arados a tração animal, da precária rede elétrica, da ausência de estradas pavimentadas, da falta de automóveis, ônibus, tratores e outras comodidades do gênero.

Em 1954, decorridos dez anos de vida da CLT, o Relatório Anual ao Congresso, elaborado pelo presidente Getúlio Vargas, descreveu com nitidez o subdesenvolvimento industrial, comercial, financeiro, logístico. Note-se que o Brasil atravessava um período de crescimento. O aumento médio da renda per capita era de 8,2% ao ano e o nível de atividade econômica mantinha-se alto, sustentado por expansão do consumo de 7,5%, e 12,4% dos investimentos, dizia aquele documento.

Cuidadosa leitura revelaria país em expansão, mas pobre em aço, petróleo, carvão, eletricidade, ferrovias, rodovias, aeroportos. Faltou confessar que o Brasil continuava a ser subdesenvolvido, litorâneo, rural, analfabeto, doente.

Com o passar do tempo, entremeando períodos bons e maus, regimes democráticos e ditaduras, o País evoluiu. O planeta, por sua vez, conheceu extremas alterações. Terminou a guerra fria, foi contida a corrida militarista, desapareceu a ditadura comunista, a economia, em clima de liberdade, globalizou-se. Na área da saúde os avanços foram surpreendentes. No terreno tecnológico nos beneficiamos da informatização. Comunicações nacionais e internacionais instantâneas são feitas pela internet, via iPhones e smartphones. Compramos com cartões de crédito. Crianças e jovens de variadas camadas sociais aprendem o uso de tablets, notebooks, câmeras digitais. A manufatura deu lugar a computadores e robôs. Gigantescos navios e fantásticas aeronaves cruzam oceanos e continentes orientados por satélites, em viagens turísticas, de negócios ou conduzindo matérias-primas e produtos industrializados.

No Brasil, entretanto, a legislação trabalhista petrificou. Integrada por normas constitucionais, CLT, leis esparsas, decretos, portarias e jurisprudência que avança sobre o espaço do Legislativo, ao invés de trazer segurança, converteu-se em manancial de conflitos. Surgiu o fantasma do passivo oculto, representado por ações imprevisíveis que aterrorizam empregadores.

Vamos aos números retirados do Relatório Anual do Tribunal Superior do Trabalho (TST). Entre 1941 e 2013 deram entrada na Justiça do Trabalho 73,5 milhões de feitos. No curto período compreendido entre 2000 e 2013 nada menos que 33,6 milhões foram ajuizados. Em 2010 as Varas do Trabalho receberam 2,8 milhões de reclamações; em 2011, 3 milhões; em 2012, 3,271 milhões. Causas trabalhistas acumulam-se, sobretudo, nas Varas do Trabalho localizadas nos Estados de São Paulo, do Rio de Janeiro, de Minas Gerais, do Paraná, de Santa Catarina, do Rio Grande do Sul. Pequenos municípios, cujas atividades econômicas são inexpressivas, engrossam estatísticas com milhares de ações.

De 2011 a 2013 fluíram pelos canais de 1.533 Varas do Trabalho R$ 54.649,379.638,68, drenados de micro e pequenas, médias e grandes empresas, estatais ou de economia mista, entidades filantrópicas e culturais.

Conheço a área trabalhista. Fui advogado de sindicatos, secretário e ministro do trabalho, ministro do TST - tribunal que com muita honra presidi. Numerosos conflitos seriam resolvidos rápida e objetivamente se não estivessem reprimidos o arbitramento e as comissões de conciliação prévia, reservando-se a juízes do Trabalho matérias de alta indagação e complexidade.

Insistimos na intervenção exclusiva do Judiciário, cujos resultados estão nas estatísticas. Demência, disse alguém, é insistir em obter resultados positivos pelos mesmos caminhos que conduziram ao fracasso.

O Brasil passa por agudo período de desindustrialização. O desemprego ronda jovens e adultos, homens e mulheres. A indústria não consegue competir, no terreno da produtividade, com países que até a metade do século passado eram muito atrasados. A China alçou-se à posição de potência nos anos 1980, após séculos de paralisação e oito décadas de regime comunista - já nos deixou para trás. A Coreia do Sul padeceu a invasão da Coreia do Norte na década de 1950. Boa parte da juventude foi sacrificada nos campos de batalha. Apesar do conflito, hoje somos importadores de investimentos e produtos coreanos. Adquirimos, também, nos mercados japonês, alemão, francês, mexicano. Nada na Argentina, por se encontrar pior do que nós.

O paradoxo é surrealista. Na opinião dos arautos da CLT, temos a melhor legislação do universo. Como entender, então, o que se passa na Justiça do Trabalho? Por mais que labutem magistrados e servidores, proliferam os litígios e aumenta o resíduo de processos à espera de sentença ou execução. Entre os cem maiores devedores, segundo relação divulgada pelo TST, ao lado de empresas falidas se acham sociedades de economia mista, estatais, bancos, onde empregos são disputados por milhares de candidatos.

Deixamos de ser atraentes a investimentos internos e externos. Convertemo-nos em zona incerta e perigosa. Ou mudamos rapidamente de rumos, por meio das reformas, ou estamos condenados a ser como Cuba e Venezuela: governo forte, economia em pedaços.

*Advogado, foi ministro do Trabalho e presidente do Tribunal Superior do Trabalho

Jarbas de Holanda: As incertezas

• As incertezas sobre a Copa

• As incertezas sobre alianças

• Mais pressões sobre a economia

Essas incertezas – a respeito do conteúdo e da escala das manifestações de rua, pacíficas e violentas, contra os gastos públicos para a Copa da Fifa, ou utilizando-as para exacerbar demandas salariais - constituirão uma variável significativa do cenário político à frente, antes e durante a realização do megaevento. Influenciando e somando-se a outras condicionantes das pré-campanhas eleitorais no período: novas pesquisas; a sequência da ofensiva publicitária da presidente/candidata (com o uso de fartos recursos de estatais) e a capacidade dos oposicionistas de neutralizá-la, ou não; a viabilidade ou não, ainda, de efetiva apuração parlamentar dos negócios suspeitos e vultosos prejuízos da Petrobras, por meio de uma CPI mista do Senado e da Câmara; a montagem das alianças nacionais e nos palanques dos estados, com a confirmação ou a reversão da tendência de isola-mento do PT nesses palanques.

Quanto às manifestações de rua, sua amplitude poderá ser bem restringida se prevalecerem as ações violentas dos black-blocks ou a eles atribuídas. Já quanto aos efeitos eleitorais, a candidata governista – ausente dos jogos para evitar vaias – tratará de capitalizar uma vitória final de nossa seleção, com duvidosos resultados favoráveis e, sem essa vitória, sofrerá o desgaste de forte reforço da cobrança de obras e serviços prometidos e não entregues, bem como da condenação dos vultosos gastos feitos para os estádios.

E quanto a outra das variáveis de incertezas inicialmente indicadas, a relativa à montagem de alianças nos estados, cabe assinalar as tensões emergentes entre as campanhas dos oposicionistas Aécio Neves e Eduardo Campos. A deste buscando nos estados do Centro/Sul afirmar-se como terceira via na disputa presidencial. Tensões assim resumidas em artigo do jornalista Merval Pereira, no Globo de domingo último: “Parece inevitável que o PSB marque um distanciamento crítico em relação ao PSDB para se tornar uma alternativa real à polarização entre petistas e tucanos. Na tentativa de preservar um acordo para o segundo turno, é possível que Lula poupe Campos de sua língua ferina. O senador Aécio Neves vai exercitando um dos dons mais característicos da política mineira, a paciência. Não partirá dele qualquer gesto de rompimento com Campos, mesmo porque está convencido de que quem vai para o segundo turno é ele, e precisará do apoio do PSB para derrotar Dilma”. Mais um trecho do artigo: “O que pode pe-sar a mão no PSB é a influência de uma esquerda próxima ao petismo, cujo representante mais importante é o vice-presidente Roberto Amaral, ex-ministro de Lula, que nunca viu com bons olhos a aproximação com os tucanos”.

Economia – Simultaneamente às incertezas do cenário político, a economia – sobretudo as contas públicas – seguirá exposta às pressões do vale tudo eleitoral no Palácio do Planalto. Com a manutenção do represamento dos preços de energia, de combustíveis e de tarifas de transporte público; a destinação de mais verbas para os programas assistencialistas; o lançamento de projetos de obras e serviços de todo tipo no Nordeste e na periferia das metrópoles do Centro/Sul; e o empenho – conforme diretivas do ex-presidente Lula – para re-composição de relações de Dilma com empresários de grande porte, inclusive tendo em vista o financiamento de campanha. Tudo isso num contexto de persistência da pressão inflacionária, de projeções do mercado de um PIB de 2014 entre 1,5% e 1% e de piora da balança comercial. Fatores que acentuam o pessimismo dos investidores, internos e externos, sobre o comportamento da economia este ano e o legado de descontrole fiscal e outros problemas graves que serão transferidos para o próximo governo.

Jarbas de Holanda é jornalista