Merval Pereira
DEU EM O GLOBO
NOVA YORK. Com a subida de tom verificada na campanha presidencial a partir deste fim de semana, é previsível que o debate desta noite, na Universidade de Belmont, em Nashville, no Tennessee, seja mais agressivo do que o anterior. Os dois candidatos foram "na jugular" do adversário, na definição de um político. A agressividade com que os republicanos retomaram críticas e acusações que vêm sendo exploradas desde o início da campanha contra Barack Obama tem a ver com o crescimento nas pesquisas do candidato democrata desde que eclodiu a crise financeira em Wall Street. Do lado democrata, um filmete relembrando um escândalo financeiro ligado a John McCain está sendo espalhado pela internet.
Coube à candidata a vice Sarah Palin, uma espécie de franco-atiradora política, reiniciar os ataques explorando a relação passada de Obama com o ex-pastor radical reverendo Jeremiah Wright, ou com William Ayers, professor de Chicago que participou de um grupo terrorista nos anos 60 do século passado, na luta contra a guerra do Vietnã.
Obama e Ayers, anos depois, conheceram-se em Chicago trabalhando com comunidades carentes, mas Obama sempre repeliu os métodos usados por ele.
Palin disse que considerava perigoso um político que, por achar que os Estados Unidos precisam ser mudados, não se incomodava de se aproximar até de um terrorista. E que as relações dele com o pastor Wright "deveriam ser mais discutidas".
Ao mesmo tempo, uma propaganda oficial da campanha republicana diz que é "desonrosa" a declaração de Obama de que as tropas americanas "matam civis e queimam casas" no Afeganistão, e chama de "arriscado" apoiar um político "liberal" - que, nos Estados Unidos, significa ser de esquerda - que tem votado sempre contra o financiamento das tropas americanas.
Acontece que mesmo as análises menos favoráveis a Barack Obama, como a do marqueteiro Karl Rove em seu site, indicam que ele já pode até mesmo ter atingido o número mágico de 270 delegados no Colégio Eleitoral.
De acordo com as últimas pesquisas, Obama está liderando em estados cruciais como Ohio, onde historicamente os republicanos que são eleitos vencem; na Pensilvânia e Minnesota, dois estados em que John Kerry venceu e onde McCain está se empenhando para reverter o quadro.
Segundo o "New York Times", em nove estados em que Bush venceu a última eleição os democratas estão com chances de reverter o quadro: Colorado, Flórida, Indiana, Montana, Nevada, Novo México, Carolina do Norte, Ohio e Virginia.
A maior parte das mudanças está claramente relacionada à situação econômica, e as críticas que Obama tem feito às posições de McCain, ligando-o sempre que pode à gestão do governo Bush, têm surtido um efeito devastador na campanha republicana.
A reação agressiva que a campanha democrata teve foi também uma novidade, fazendo supor que Barack Obama possa ter uma atuação mais vibrante no debate de hoje à noite.
Já no fim de semana a campanha democrata enviou milhões de mensagens pela internet com um link para o site KeatingEcomics.com, onde está sendo exibido um filmete de 13 minutos, desde o meio-dia de ontem, relembrando o caso da Lincoln Savings & Loan Association, que quebrou devido a uma série de procedimentos irregulares em 1989.
A idéia é difundir a noção de que essa cruzada a favor da regulamentação do sistema financeiro não corresponde à atuação parlamentar do senador McCain.
A investigação do comitê de ética do Senado levou a que cinco senadores, entre eles McCain, fossem acusados de tentar interferir no processo aberto pelo Federal Home Loan Bank Board, sendo que McCain foi advertido, no início dos anos 1990, por ter agido "de maneira imprudente" no episódio, e outros senadores foram censurados publicamente.
Os senadores, que ficaram conhecidos como "os Keating Five" ("Os cinco de Keating") chegaram a ir a uma reunião em que a questão foi discutida com os investigadores, pressionando para que as investigações não prosseguissem, a ponto de um deles ter dito que eles não deveriam insistir, pois o caso seria encaminhado à Justiça.
No inquérito do comitê de ética, cujos trechos das audiências estão no filmete de campanha de Obama, os senadores são acusados de terem se vendido ao banqueiro.
O senador McCain, embora não tenha sido punido com rigor pelo Comitê, foi o único que recebeu diretamente vantagens do banqueiro, além, é claro, do financiamento de campanha que todos os outros também receberam.
McCain era amigo pessoal de Charles Keating, e usava sua casa nas Bahamas para passar férias, e se deslocava no avião privado do banqueiro. Além disso, sua mulher, Cindy, tinha sociedade com Keating em um shopping center. McCain foi obrigado pelo Senado a pagar as viagens de avião.
Com o ataque direto às posições de política econômica de seu adversário republicano, Obama quer mostrá-lo muito mais próximo da política do atual governo do que ele pretende, e o acusa de não ter aprendido as lições do episódio.
Por sua vez, revivendo as acusações de que Obama é um esquerdista ligado a radicais de diversos calibres, McCain e Palin exploram o único filão que parece lhes restar: incutir o medo entre os eleitores, num momento em que o país passa por uma crise financeira que está claramente atingindo a auto-estima da sociedade.
DEU EM O GLOBO
NOVA YORK. Com a subida de tom verificada na campanha presidencial a partir deste fim de semana, é previsível que o debate desta noite, na Universidade de Belmont, em Nashville, no Tennessee, seja mais agressivo do que o anterior. Os dois candidatos foram "na jugular" do adversário, na definição de um político. A agressividade com que os republicanos retomaram críticas e acusações que vêm sendo exploradas desde o início da campanha contra Barack Obama tem a ver com o crescimento nas pesquisas do candidato democrata desde que eclodiu a crise financeira em Wall Street. Do lado democrata, um filmete relembrando um escândalo financeiro ligado a John McCain está sendo espalhado pela internet.
Coube à candidata a vice Sarah Palin, uma espécie de franco-atiradora política, reiniciar os ataques explorando a relação passada de Obama com o ex-pastor radical reverendo Jeremiah Wright, ou com William Ayers, professor de Chicago que participou de um grupo terrorista nos anos 60 do século passado, na luta contra a guerra do Vietnã.
Obama e Ayers, anos depois, conheceram-se em Chicago trabalhando com comunidades carentes, mas Obama sempre repeliu os métodos usados por ele.
Palin disse que considerava perigoso um político que, por achar que os Estados Unidos precisam ser mudados, não se incomodava de se aproximar até de um terrorista. E que as relações dele com o pastor Wright "deveriam ser mais discutidas".
Ao mesmo tempo, uma propaganda oficial da campanha republicana diz que é "desonrosa" a declaração de Obama de que as tropas americanas "matam civis e queimam casas" no Afeganistão, e chama de "arriscado" apoiar um político "liberal" - que, nos Estados Unidos, significa ser de esquerda - que tem votado sempre contra o financiamento das tropas americanas.
Acontece que mesmo as análises menos favoráveis a Barack Obama, como a do marqueteiro Karl Rove em seu site, indicam que ele já pode até mesmo ter atingido o número mágico de 270 delegados no Colégio Eleitoral.
De acordo com as últimas pesquisas, Obama está liderando em estados cruciais como Ohio, onde historicamente os republicanos que são eleitos vencem; na Pensilvânia e Minnesota, dois estados em que John Kerry venceu e onde McCain está se empenhando para reverter o quadro.
Segundo o "New York Times", em nove estados em que Bush venceu a última eleição os democratas estão com chances de reverter o quadro: Colorado, Flórida, Indiana, Montana, Nevada, Novo México, Carolina do Norte, Ohio e Virginia.
A maior parte das mudanças está claramente relacionada à situação econômica, e as críticas que Obama tem feito às posições de McCain, ligando-o sempre que pode à gestão do governo Bush, têm surtido um efeito devastador na campanha republicana.
A reação agressiva que a campanha democrata teve foi também uma novidade, fazendo supor que Barack Obama possa ter uma atuação mais vibrante no debate de hoje à noite.
Já no fim de semana a campanha democrata enviou milhões de mensagens pela internet com um link para o site KeatingEcomics.com, onde está sendo exibido um filmete de 13 minutos, desde o meio-dia de ontem, relembrando o caso da Lincoln Savings & Loan Association, que quebrou devido a uma série de procedimentos irregulares em 1989.
A idéia é difundir a noção de que essa cruzada a favor da regulamentação do sistema financeiro não corresponde à atuação parlamentar do senador McCain.
A investigação do comitê de ética do Senado levou a que cinco senadores, entre eles McCain, fossem acusados de tentar interferir no processo aberto pelo Federal Home Loan Bank Board, sendo que McCain foi advertido, no início dos anos 1990, por ter agido "de maneira imprudente" no episódio, e outros senadores foram censurados publicamente.
Os senadores, que ficaram conhecidos como "os Keating Five" ("Os cinco de Keating") chegaram a ir a uma reunião em que a questão foi discutida com os investigadores, pressionando para que as investigações não prosseguissem, a ponto de um deles ter dito que eles não deveriam insistir, pois o caso seria encaminhado à Justiça.
No inquérito do comitê de ética, cujos trechos das audiências estão no filmete de campanha de Obama, os senadores são acusados de terem se vendido ao banqueiro.
O senador McCain, embora não tenha sido punido com rigor pelo Comitê, foi o único que recebeu diretamente vantagens do banqueiro, além, é claro, do financiamento de campanha que todos os outros também receberam.
McCain era amigo pessoal de Charles Keating, e usava sua casa nas Bahamas para passar férias, e se deslocava no avião privado do banqueiro. Além disso, sua mulher, Cindy, tinha sociedade com Keating em um shopping center. McCain foi obrigado pelo Senado a pagar as viagens de avião.
Com o ataque direto às posições de política econômica de seu adversário republicano, Obama quer mostrá-lo muito mais próximo da política do atual governo do que ele pretende, e o acusa de não ter aprendido as lições do episódio.
Por sua vez, revivendo as acusações de que Obama é um esquerdista ligado a radicais de diversos calibres, McCain e Palin exploram o único filão que parece lhes restar: incutir o medo entre os eleitores, num momento em que o país passa por uma crise financeira que está claramente atingindo a auto-estima da sociedade.
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