Chico Otavio e Sergio Duran
DEU EM O GLOBO
Candidato do PV anuncia que vai articular a sociedade para tocar projetos paralelos, como ajudar no combate à dengue
O reconhecimento da derrota e outras frases de praxe praticamente não apareceram. Na primeira entrevista após a derrota para Eduardo Paes (PMDB), concedida na noite de ontem em Copacabana, Fernando Gabeira (PV) preferiu falar do futuro. De olho nos 1,64 milhão de eleitores que votaram no "43" (49,17% do total), ele anunciou que pretende liderar uma espécie de governo paralelo, contando com a mobilização da sociedade organizada e da iniciativa privada para enfrentar os problemas da cidade.
- Não terei nas mãos o governo, mas poderei articular a sociedade e a iniciativa privada para que consigamos algum resultado - disse.
Em discurso que mais lembrava o de um candidato vitorioso, prometeu que a primeira mobilização das forças que o apoiaram na campanha será contra a dengue, envolvendo até hospitais privados.
- Pretendo colocar todos os recursos que foram um pouco ironizados por aí, mas que são importantes, como um programa de computador produzido no Rio e usado em Fortaleza, e também uma base aérea de levantamento que possa nos dar com precisão os pontos a serem atacados.
A entrevista de Gabeira foi marcada pela emoção. Ele entrou no hotel reservado pela campanha abraçado à mulher, Neila Tavares, e a uma das filhas, Maya, que chorava. No pronunciamento, foi interrompido várias vezes por aplausos de uma militância que, no fim da coletiva, cantou o jingle da campanha.
O candidato do PV lamentou a apreensão de merenda escolar supostamente usada por adversários da boca-de-urna. Indagado se pretende, no seu projeto para a cidade, estabelecer parcerias com a prefeitura, respondeu que tudo depende do grau de confiança nos novos gestores:
- Não posso trabalhar com o governo antes que tenha confiança de que não se usa merenda escolar numa boca-de-urna - lamentou.
Gabeira disse que, diante da conjuntura econômica, Paes terá problemas:
- A situação orçamentária será delicada. Ele entra no momento em que o governo federal, no qual pretende se apoiar, prepara cortes no orçamento e a crise internacional começa a entrar aqui.
Críticas a "luta política suja"
Gabeira votou na Escola Municipal Pedro Ernesto, na Lagoa, aonde chegou às 8h20m, a bordo do Gabeirão - como chama o jipe da campanha. O candidato, que usava um chapéu panamá, enfrentou no caminho um batalhão de jornalistas, que se acotovelaram para registrar imagens e ouvi-lo sobre a disputa voto a voto, comparada por ele a uma corrida de cavalos.
- É uma disputa apertada, como uma corrida de cavalos. Como eu tenho nariz grande, quem sabe eu chego na frente - disse, confiante na vitória.
O candidato do PV achava que o fiel da balança seriam os votos dos indecisos e os dos eleitores da Zona Sul que votaram nulo no primeiro turno e poderiam escolhê-lo no segundo. A confiança na vitória contrastava com a preocupação com fraudes. A notícia de que mesários poderiam votar no lugar de eleitores ausentes foi manifestada pelo candidato.
Gabeira estava acompanhado das filhas, Maya e Tami, e do vice da chapa, Luiz Paulo Corrêa da Rocha (PSDB), que votou depois, numa escola no Engenho de Dentro. De lá, o candidato do PV começou uma carreata que durou cerca de três horas por bairros da Zona Norte. No caminho, cumprimentava eleitores que o saudavam.
Os apertos de mão e gritos de apoio foram mais intensos quando retornou à Zona Sul, no início da tarde. Em Ipanema, onde saltou do jipe para tomar um suco, foi alvo de tietagem explícita e ganhou um broche de uma eleitora, "para dar sorte". Foi aplaudido ao chegar a um restaurante no Leme para almoçar. Ao deixar o local, criticou o adversário pela utilização na campanha de Paes, de sacolas de um projeto dos governos estadual e federal.
- Estão tirando merenda das crianças para fazer luta política suja. Lamento que ainda tenhamos adversários com esse nível, com a visão de que não importa você usar merenda de crianças, o que importa é que você se eleja - criticou. - Isso faz parte de um grande defeito da esquerda que está com eles, do século passado, que sempre disse que os fins justificam os meios. Minha posição de esquerda do século XXI é de que os fins não justificam os meios.
Mais cedo, o candidato lembrara o seu passado de militante da esquerda durante o governo militar. Ele reconhecera ter sido um erro o seqüestro do embaixador americano durante a ditadura.
- A própria filha do embaixador me ligou e expressou simpatia pela minha candidatura. Nesses 40 anos, minha posição mudou radicalmente. Consideramos o seqüestro uma forma de luta abominável, que não deve ser usada nunca.
Outros temas foram abordados pelo candidato ao longo do dia. Ele cobrou do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que reveja a forma de financiamento de campanha, permitindo também doações pela internet. Segundo Gabeira, sua campanha custou R$4 milhões, entre grandes e pequenas doações. Estas geraram custos que poderiam ser reduzidos, caso fossem captadas através da rede.
- O dia em que o TSE reconhecer que estamos no século XXI, reconhecer a internet e admitir a captação de recursos pela rede, não vamos precisar dos grandes empresários, exceto se avaliarmos que isso é necessário - disse.
Gabeira afirmou que a cidade do Rio usou sua candidatura para mandar uma mensagem de mudança.
- O Rio sempre reserva surpresas nas eleições, sempre manda uma mensagem para o país. Aqui é onde se formam os primeiros indicativos de mudança. O Rio usou minha candidatura para mandar uma mensagem, mostrando que quer uma política mais sintonizada com os direitos coletivos, e não centrada na formação de riquezas particulares e pequenas quadrilhas. A cidade do Rio saiu vitoriosa com esta eleição. Antes, eram máquinas contra máquinas na disputa e hoje há uma vontade de lutar contra máquinas e fortunas - discursou Gabeira do alto do banco de pedra.
DEU EM O GLOBO
Candidato do PV anuncia que vai articular a sociedade para tocar projetos paralelos, como ajudar no combate à dengue
O reconhecimento da derrota e outras frases de praxe praticamente não apareceram. Na primeira entrevista após a derrota para Eduardo Paes (PMDB), concedida na noite de ontem em Copacabana, Fernando Gabeira (PV) preferiu falar do futuro. De olho nos 1,64 milhão de eleitores que votaram no "43" (49,17% do total), ele anunciou que pretende liderar uma espécie de governo paralelo, contando com a mobilização da sociedade organizada e da iniciativa privada para enfrentar os problemas da cidade.
- Não terei nas mãos o governo, mas poderei articular a sociedade e a iniciativa privada para que consigamos algum resultado - disse.
Em discurso que mais lembrava o de um candidato vitorioso, prometeu que a primeira mobilização das forças que o apoiaram na campanha será contra a dengue, envolvendo até hospitais privados.
- Pretendo colocar todos os recursos que foram um pouco ironizados por aí, mas que são importantes, como um programa de computador produzido no Rio e usado em Fortaleza, e também uma base aérea de levantamento que possa nos dar com precisão os pontos a serem atacados.
A entrevista de Gabeira foi marcada pela emoção. Ele entrou no hotel reservado pela campanha abraçado à mulher, Neila Tavares, e a uma das filhas, Maya, que chorava. No pronunciamento, foi interrompido várias vezes por aplausos de uma militância que, no fim da coletiva, cantou o jingle da campanha.
O candidato do PV lamentou a apreensão de merenda escolar supostamente usada por adversários da boca-de-urna. Indagado se pretende, no seu projeto para a cidade, estabelecer parcerias com a prefeitura, respondeu que tudo depende do grau de confiança nos novos gestores:
- Não posso trabalhar com o governo antes que tenha confiança de que não se usa merenda escolar numa boca-de-urna - lamentou.
Gabeira disse que, diante da conjuntura econômica, Paes terá problemas:
- A situação orçamentária será delicada. Ele entra no momento em que o governo federal, no qual pretende se apoiar, prepara cortes no orçamento e a crise internacional começa a entrar aqui.
Críticas a "luta política suja"
Gabeira votou na Escola Municipal Pedro Ernesto, na Lagoa, aonde chegou às 8h20m, a bordo do Gabeirão - como chama o jipe da campanha. O candidato, que usava um chapéu panamá, enfrentou no caminho um batalhão de jornalistas, que se acotovelaram para registrar imagens e ouvi-lo sobre a disputa voto a voto, comparada por ele a uma corrida de cavalos.
- É uma disputa apertada, como uma corrida de cavalos. Como eu tenho nariz grande, quem sabe eu chego na frente - disse, confiante na vitória.
O candidato do PV achava que o fiel da balança seriam os votos dos indecisos e os dos eleitores da Zona Sul que votaram nulo no primeiro turno e poderiam escolhê-lo no segundo. A confiança na vitória contrastava com a preocupação com fraudes. A notícia de que mesários poderiam votar no lugar de eleitores ausentes foi manifestada pelo candidato.
Gabeira estava acompanhado das filhas, Maya e Tami, e do vice da chapa, Luiz Paulo Corrêa da Rocha (PSDB), que votou depois, numa escola no Engenho de Dentro. De lá, o candidato do PV começou uma carreata que durou cerca de três horas por bairros da Zona Norte. No caminho, cumprimentava eleitores que o saudavam.
Os apertos de mão e gritos de apoio foram mais intensos quando retornou à Zona Sul, no início da tarde. Em Ipanema, onde saltou do jipe para tomar um suco, foi alvo de tietagem explícita e ganhou um broche de uma eleitora, "para dar sorte". Foi aplaudido ao chegar a um restaurante no Leme para almoçar. Ao deixar o local, criticou o adversário pela utilização na campanha de Paes, de sacolas de um projeto dos governos estadual e federal.
- Estão tirando merenda das crianças para fazer luta política suja. Lamento que ainda tenhamos adversários com esse nível, com a visão de que não importa você usar merenda de crianças, o que importa é que você se eleja - criticou. - Isso faz parte de um grande defeito da esquerda que está com eles, do século passado, que sempre disse que os fins justificam os meios. Minha posição de esquerda do século XXI é de que os fins não justificam os meios.
Mais cedo, o candidato lembrara o seu passado de militante da esquerda durante o governo militar. Ele reconhecera ter sido um erro o seqüestro do embaixador americano durante a ditadura.
- A própria filha do embaixador me ligou e expressou simpatia pela minha candidatura. Nesses 40 anos, minha posição mudou radicalmente. Consideramos o seqüestro uma forma de luta abominável, que não deve ser usada nunca.
Outros temas foram abordados pelo candidato ao longo do dia. Ele cobrou do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que reveja a forma de financiamento de campanha, permitindo também doações pela internet. Segundo Gabeira, sua campanha custou R$4 milhões, entre grandes e pequenas doações. Estas geraram custos que poderiam ser reduzidos, caso fossem captadas através da rede.
- O dia em que o TSE reconhecer que estamos no século XXI, reconhecer a internet e admitir a captação de recursos pela rede, não vamos precisar dos grandes empresários, exceto se avaliarmos que isso é necessário - disse.
Gabeira afirmou que a cidade do Rio usou sua candidatura para mandar uma mensagem de mudança.
- O Rio sempre reserva surpresas nas eleições, sempre manda uma mensagem para o país. Aqui é onde se formam os primeiros indicativos de mudança. O Rio usou minha candidatura para mandar uma mensagem, mostrando que quer uma política mais sintonizada com os direitos coletivos, e não centrada na formação de riquezas particulares e pequenas quadrilhas. A cidade do Rio saiu vitoriosa com esta eleição. Antes, eram máquinas contra máquinas na disputa e hoje há uma vontade de lutar contra máquinas e fortunas - discursou Gabeira do alto do banco de pedra.
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