Vinicius Torres Freire
DEU NA FOLHA DE S. PAULO
PIB deu notícias ruins novas; além de crédito raro, queda na indústria e na exportação, há consumidores em choque
PESSIMISMO NÃO é coisa que se espera de autoridades que se dispõem a tratar do desempenho da economia em público. Mas parecer estuporado ou estupidificado é contraproducente até para o patrimônio político de quem propaga eufemismos e otimismos abilolados. Para o público medianamente informado, há o risco de que autoridades torcendo nas arquibancadas do PIB pareçam alienadas ou desvairadas. Ontem, dava vontade de dizer, parafraseando a torcida do Corinthians, "ali tem um bando de loucos". Ou de espertos do avesso.
O ministro fulano "admite" que será "difícil" crescer 4% em 2009. Já começa a ficar difícil crescer 0,4%, um décimo disso. Segundo os dados sobre o PIB divulgados ontem pelo IBGE, se a economia ficar estagnada até o final do ano, o PIB na verdade vai encolher 1,5%, coisa que se viu por aqui pela última vez nos tempos sombrios de Fernando Collor.
Por ora é exagero dizer que a economia ficará estagnada nos quatro trimestres de 2009. Mas é provável que o país não cresça nada já neste primeiro trimestre. Nada em relação ao desastre do trimestre final de 2008, quando o PIB encolheu 3,6% (ante o trimestre anterior). Isto é, trata-se de tragédia multiplicada.
Os primeiros indicadores de fevereiro relativos ao desempenho da indústria apontam para um resultado tão ruim como os de novembro, dezembro e janeiro. Se comparados aos dados de fevereiro de 2008, sugerem tombos semelhantes aos que vimos em dezembro e janeiro, retrações de mais de 10%, por baixo. É o que antecipam dados como tráfego de caminhões pesados, consumo de energia e produção das montadoras.
Como previsões baseadas em estatísticas são apenas uma amostra geral do estado da produção das fábricas, ancoradas no comportamento passado da indústria, pode ser que exista algum coelho escondido nesse mato (um coelho magro, nas matas amazônicas). Mas, pelo andar da carruagem, a indústria deve estagnar no trimestre (em relação ao trimestre final de 2009).Não houve notícia boa nos dados do PIB divulgados ontem. Seria bom que fossem apenas notícias ruins e velhas, mas tivemos ainda novidades lamentáveis. O "consumo das famílias" (o consumo privado, afora empresas) caiu 2% em relação ao trimestre final de 2008. Isso com a massa salarial ainda crescente. E é bem improvável que a massa salarial continue a crescer. O desemprego apenas começou a aumentar. Embora horrível, a queda do investimento era esperada.
A baixa antecipada do consumo das famílias completa um trio de calafrios. As concessões de novos empréstimos pelos bancos vinha caindo, as exportações continuam caindo ao ritmo chocante de mais de 20% (em relação a 2008) e, agora, os consumidores parecem ainda mais chocados do que o previsto (por medo do futuro, por desemprego, por falta de crédito etc.). E o crédito não deve melhorar com desemprego e inadimplência crescendo e o mundo ainda em transe. O juro para o consumidor ficará ainda nas alturas. O comércio mundial ainda definha.
O mercado dava ontem de lambuja um corte de 1,25 ponto na Selic. Se o Banco Central cortar menos, estará pedindo para o mercado "maneirar". E estará pedindo encrenca.
DEU NA FOLHA DE S. PAULO
PIB deu notícias ruins novas; além de crédito raro, queda na indústria e na exportação, há consumidores em choque
PESSIMISMO NÃO é coisa que se espera de autoridades que se dispõem a tratar do desempenho da economia em público. Mas parecer estuporado ou estupidificado é contraproducente até para o patrimônio político de quem propaga eufemismos e otimismos abilolados. Para o público medianamente informado, há o risco de que autoridades torcendo nas arquibancadas do PIB pareçam alienadas ou desvairadas. Ontem, dava vontade de dizer, parafraseando a torcida do Corinthians, "ali tem um bando de loucos". Ou de espertos do avesso.
O ministro fulano "admite" que será "difícil" crescer 4% em 2009. Já começa a ficar difícil crescer 0,4%, um décimo disso. Segundo os dados sobre o PIB divulgados ontem pelo IBGE, se a economia ficar estagnada até o final do ano, o PIB na verdade vai encolher 1,5%, coisa que se viu por aqui pela última vez nos tempos sombrios de Fernando Collor.
Por ora é exagero dizer que a economia ficará estagnada nos quatro trimestres de 2009. Mas é provável que o país não cresça nada já neste primeiro trimestre. Nada em relação ao desastre do trimestre final de 2008, quando o PIB encolheu 3,6% (ante o trimestre anterior). Isto é, trata-se de tragédia multiplicada.
Os primeiros indicadores de fevereiro relativos ao desempenho da indústria apontam para um resultado tão ruim como os de novembro, dezembro e janeiro. Se comparados aos dados de fevereiro de 2008, sugerem tombos semelhantes aos que vimos em dezembro e janeiro, retrações de mais de 10%, por baixo. É o que antecipam dados como tráfego de caminhões pesados, consumo de energia e produção das montadoras.
Como previsões baseadas em estatísticas são apenas uma amostra geral do estado da produção das fábricas, ancoradas no comportamento passado da indústria, pode ser que exista algum coelho escondido nesse mato (um coelho magro, nas matas amazônicas). Mas, pelo andar da carruagem, a indústria deve estagnar no trimestre (em relação ao trimestre final de 2009).Não houve notícia boa nos dados do PIB divulgados ontem. Seria bom que fossem apenas notícias ruins e velhas, mas tivemos ainda novidades lamentáveis. O "consumo das famílias" (o consumo privado, afora empresas) caiu 2% em relação ao trimestre final de 2008. Isso com a massa salarial ainda crescente. E é bem improvável que a massa salarial continue a crescer. O desemprego apenas começou a aumentar. Embora horrível, a queda do investimento era esperada.
A baixa antecipada do consumo das famílias completa um trio de calafrios. As concessões de novos empréstimos pelos bancos vinha caindo, as exportações continuam caindo ao ritmo chocante de mais de 20% (em relação a 2008) e, agora, os consumidores parecem ainda mais chocados do que o previsto (por medo do futuro, por desemprego, por falta de crédito etc.). E o crédito não deve melhorar com desemprego e inadimplência crescendo e o mundo ainda em transe. O juro para o consumidor ficará ainda nas alturas. O comércio mundial ainda definha.
O mercado dava ontem de lambuja um corte de 1,25 ponto na Selic. Se o Banco Central cortar menos, estará pedindo para o mercado "maneirar". E estará pedindo encrenca.
Nenhum comentário:
Postar um comentário