quarta-feira, 11 de março de 2009

Desafios de Dilma

Marcos Coimbra
Sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi
DEU NO ESTADO DE MINAS

“O PT produziu um político conhecido nacionalmente e capaz de alcançar a presidência, mas um só. Hoje, no PT, todo mundo é, na melhor das hipóteses, igual a Dilma.”

Do modo como estão se encaminhando, parece que as eleições de 2010 vão ser as mais previsíveis do Brasil moderno. Todo mundo já sabe tudo sobre elas. No mínimo, as coisas mais importantes.

No governo, salvo se um acidente de percurso muito grave acontecer, Dilma é o nome. Há quem trabalhe com planos B e C, caso ela estanque nas pesquisas. Mas ela vai crescer.

Não é preciso ser especialista para perceber que o petismo e o eleitorado cativo de Lula, juntos, formam uma base mais que suficiente para torná-la uma candidata competitiva. São categorias que se sobrepõem, mas que guardam diferenças. Os petistas são, quase todos, eleitores de Lula e de quem quer que venha pelo PT. Os segundos são os que votaram várias vezes nele e que se dispõem a votar em quem ele indicar, sem manifestar maiores simpatias pelo partido.

Essa base é de cerca de 30% do eleitorado, nas estimativas de agora, ou seja, longe do período eleitoral. Pode ser que, medida em época mais “quente”, com as campanhas na rua, ela se mostre maior.

Essa fatia da população tende a se movimentar em direção a quem for identificado com Lula e o PT, seja Dilma, seja outra pessoa. Pode demorar, mas, um dia, ela chega lá.

O relevante é que não existe outro nome que largue melhor ou que consiga, com seus próprios atributos, abreviar esse tempo. Tendo insistido durante toda sua história em Lula, o PT produziu um político conhecido nacionalmente e capaz de alcançar a presidência, mas um só. Hoje, no PT, todo mundo é, na melhor das hipóteses, igual a Dilma.

Mas não é só o nome que conhecemos. Com pouca margem de erro, o que sua candidatura vai representar e o que ela vai dizer são pedras que se podem cantar com segurança.

Quando Lula a escolheu, foi para que o governo tivesse uma candidata cujo discurso fosse a continuidade. Sem uma biografia de maiores realizações antes de quando o assessorou, não seria nem possível, em um ano, dar-lhe outro.

Não se está aqui subestimando a densidade pessoal de sua trajetória ou a capacidade técnica que já demonstrou. Nem uma coisa, nem outra, no entanto, a habilitam a propor um projeto diferente do que foi implementado nos oito anos que passou ao lado de Lula.

Sua campanha tentará convencer os eleitores de que ela, e só ela, tem condições e vontade de prosseguir as coisas que o atual governo faz e que são aprovadas pela população. De que só ela sabe como avançar e melhorar o que Lula começou.

Dilma vai propor ao país um lulismo sem Lula. Um “terceiro mandato”, no qual Lula não vai estar de fato, mas em espírito. Votar nela, sua campanha vai dizer, é votar nele.

Se as pessoas vão acreditar nisso, é outro problema, que, no entanto, não muda a natureza da candidatura. Ela não tem como escapar da vocação de ser continuidade.

Depois que criamos a reeleição, os casos de continuidade efetiva de três mandatos se limitaram a alguns (pouquíssimos) estados e cidades. Governantes, mesmo muito populares, que ficaram oito anos e fizeram seus sucessores, indicando nomes pouco conhecidos, contam-se nos dedos (de uma das mãos). Terá havido algum que venceu adversários tão fortes quanto Serra ou Aécio, governadores de estados grandes, com larga biografia e à frente de bons governos?

Para Lula, nada parece impossível. Mas que é difícil, muito mais do que pensam alguns de seu círculo, isso é.

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