Rosângela Bittar
DEU NO VALOR ECONÔMICO
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, é o que avaliam seus discípulos, está acertando todas nesta pré-campanha para eleger Dilma Rousseff sua sucessora na Presidência da República. São atribuídos, já, diretamente ao presidente, vários êxitos, entre os quais o primeiro é o seguinte: definição de um cenário de eleição plebiscitária, em 2010, o que só interessaria ao PT e às hostes governistas. Segundo raciocina um político da confiança do presidente, não interessa ao adversário enfrentar um governo com 84% de aprovação, numa disputa polarizada.
Para evitar demonstrações de arrogância, o quartel general da candidatura governista evita constatar, em público, que está escolhendo o adversário, mas no âmbito privado é o que todos admitem, no rol de êxitos da orientação de Lula. Acreditam os envolvidos na campanha que já se desenvolve, célere, sem preocupações com justificativas vazias, que o presidente, com muita habilidade, conduziu seu rebanho em direção a um cenário polarizado, plebiscitário, com uma aposta mais centrada em um dos adversários, o mais forte junto ao eleitorado, o governador de São Paulo, José Serra.
Com esta conclusão a seara governista anota mais uma vantagem para si, que é acirrar o ânimo do segundo nome do partido adversário, o do governador de Minas, Aécio Neves, provocando atritos, irritações e divisões, o que também favorece a candidata do governo.
Foi também o presidente Lula quem detonou os primeiros fatos políticos mais contundentes e diretos para levantar a candidata que escolheu. Aí estão, por exemplo, a convocação dos 5 mil prefeitos a Brasília, com telefonemas pessoais aos mais importantes, para a ministra anunciar benefícios e ser fotografada com eles. É ainda de sua lavra o convite a governadores de Estado, inclusive os que são candidatos de oposição, a pretexto de reunirem-se com ele, Lula, mas na verdade para integrarem uma mesa de negociações presidida por Dilma para divulgar e pedir colaboração para o projeto de construção de um milhão de casas populares.
A transferência, sem dor aparente, do ministério da Fazenda para a ministra Dilma do controle e divulgação deste novo projeto popular do governo, que forma uma frente de trabalho eleitoral com o PAC e o Bolsa Família, é ordem de quem está no comando. Em reuniões nos Estados, a ministra até já costumizou o programa: em comemorações com mulheres, anunciou benefícios especiais e vantagens adicionais para elas. Dilma faz viagens ao lado do presidente para inaugurações e fiscalização de obras, já se fala em organizar para ela um calendário parecido com o que Lula cumpriu na campanha da sua reeleição, que contempla uma viagem na sexta-feira, a pretexto de tratar de projeto do governo, seguida de atividade política no sábado e domingo. E, numa especulação mais avançada, menciona-se a hipótese de casar, desde logo, esta campanha com a campanha pelo governo de São Paulo, deixando Dilma mais livre como maestra dos programas populares e passando a Casa Civil para Antonio Palocci, onde o ex-ministro se reintegraria à plataforma do governo para lançar-se em ouras disputas. Um turbilhão na agenda de Dilma Rousseff.
Em mano a mano, Lula a orienta sobre a estratégia política que deve seguir, em parceria com os especialistas em marketing. Também sob seu escrutínio, funciona um grupo de políticos do seu partido para praticar ações de campanha e aconselhamento da candidata.
Foi o presidente quem convidou e designou para esta tarefa Marta Suplicy, Fernando Pimentel e João Paulo, todos ex-prefeitos com experiência na administração, treinados em mais de uma campanha eleitoral, os três sem mandato e sem cargo no governo, portanto imunes à acusação de uso da máquina pública para fins eleitorais.
Marta já organizou jantar com a cúpula do partido, em São Paulo, mais refratária às soluções políticas que não passem pelo grupo. João Paulo foi um dos anfitriões de um carnaval em Recife onde colocou a ministra em um palanque, do governo estadual, para acenar a um milhão e meio de eleitores integrantes do Galo da Madrugada. Fernando Pimentel vocalizou, em entrevista à revista "Veja", a visão interna desta candidatura, consolidando o projeto.
Disse, por exemplo, que Dilma Rousseff é a candidata, plano único, não existe plano B. Afastou, com isto, as hipóteses que o próprio PT alimentava para o caso de Dilma "não decolar": Patrus Ananias a até Aécio Neves, se saísse do PSDB e fosse para um partido da base do governo. O candidato do PSDB, segundo Pimentel, na entrevista, é Serra, e Aécio será candidato ao Senado. É o governo nominando seu adversário. Uma entrevista reveladora da estratégia do presidente Lula.
O PT, avisado que não há outra hipótese (embora ainda haja no partido quem reserve a desconfiança de que ainda pode ser o próprio Lula para aquele famoso fantasma-terceiro-mandato-sequencial) tem cumprido seu papel para esta fase: organiza encontros, conferências, visitas da ministra Brasil afora, inaugurações, com Lula ou sozinha, para se tornar conhecida, identificada com o presidente e os programas que integram a grade de maior divulgação do governo, as obras, as bolsas e, agora, as casas.
Políticos ligados ao presidente avaliam que Lula, com habilidade, está dando o tom desta campanha e impondo a ela o ritmo e velocidade adequados para a candidata e seu partido. Os rumos dados por ele podem sofrer ajustes de acordo com resultados de pesquisas de opinião, quantitativas e qualitativas. Se o acaso não criar nuvens negras neste céu de brigadeiro, acreditam políticos do PT que a ministra chega ao fim do ano com 20% da preferência do eleitorado (atualmente tem 12%, em média), e daí para uma investida forte tendo em vista a vitória no primeiro turno.
Rosângela Bittar é chefe da Redação, em Brasília. Escreve às quartas-feiras
DEU NO VALOR ECONÔMICO
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, é o que avaliam seus discípulos, está acertando todas nesta pré-campanha para eleger Dilma Rousseff sua sucessora na Presidência da República. São atribuídos, já, diretamente ao presidente, vários êxitos, entre os quais o primeiro é o seguinte: definição de um cenário de eleição plebiscitária, em 2010, o que só interessaria ao PT e às hostes governistas. Segundo raciocina um político da confiança do presidente, não interessa ao adversário enfrentar um governo com 84% de aprovação, numa disputa polarizada.
Para evitar demonstrações de arrogância, o quartel general da candidatura governista evita constatar, em público, que está escolhendo o adversário, mas no âmbito privado é o que todos admitem, no rol de êxitos da orientação de Lula. Acreditam os envolvidos na campanha que já se desenvolve, célere, sem preocupações com justificativas vazias, que o presidente, com muita habilidade, conduziu seu rebanho em direção a um cenário polarizado, plebiscitário, com uma aposta mais centrada em um dos adversários, o mais forte junto ao eleitorado, o governador de São Paulo, José Serra.
Com esta conclusão a seara governista anota mais uma vantagem para si, que é acirrar o ânimo do segundo nome do partido adversário, o do governador de Minas, Aécio Neves, provocando atritos, irritações e divisões, o que também favorece a candidata do governo.
Foi também o presidente Lula quem detonou os primeiros fatos políticos mais contundentes e diretos para levantar a candidata que escolheu. Aí estão, por exemplo, a convocação dos 5 mil prefeitos a Brasília, com telefonemas pessoais aos mais importantes, para a ministra anunciar benefícios e ser fotografada com eles. É ainda de sua lavra o convite a governadores de Estado, inclusive os que são candidatos de oposição, a pretexto de reunirem-se com ele, Lula, mas na verdade para integrarem uma mesa de negociações presidida por Dilma para divulgar e pedir colaboração para o projeto de construção de um milhão de casas populares.
A transferência, sem dor aparente, do ministério da Fazenda para a ministra Dilma do controle e divulgação deste novo projeto popular do governo, que forma uma frente de trabalho eleitoral com o PAC e o Bolsa Família, é ordem de quem está no comando. Em reuniões nos Estados, a ministra até já costumizou o programa: em comemorações com mulheres, anunciou benefícios especiais e vantagens adicionais para elas. Dilma faz viagens ao lado do presidente para inaugurações e fiscalização de obras, já se fala em organizar para ela um calendário parecido com o que Lula cumpriu na campanha da sua reeleição, que contempla uma viagem na sexta-feira, a pretexto de tratar de projeto do governo, seguida de atividade política no sábado e domingo. E, numa especulação mais avançada, menciona-se a hipótese de casar, desde logo, esta campanha com a campanha pelo governo de São Paulo, deixando Dilma mais livre como maestra dos programas populares e passando a Casa Civil para Antonio Palocci, onde o ex-ministro se reintegraria à plataforma do governo para lançar-se em ouras disputas. Um turbilhão na agenda de Dilma Rousseff.
Em mano a mano, Lula a orienta sobre a estratégia política que deve seguir, em parceria com os especialistas em marketing. Também sob seu escrutínio, funciona um grupo de políticos do seu partido para praticar ações de campanha e aconselhamento da candidata.
Foi o presidente quem convidou e designou para esta tarefa Marta Suplicy, Fernando Pimentel e João Paulo, todos ex-prefeitos com experiência na administração, treinados em mais de uma campanha eleitoral, os três sem mandato e sem cargo no governo, portanto imunes à acusação de uso da máquina pública para fins eleitorais.
Marta já organizou jantar com a cúpula do partido, em São Paulo, mais refratária às soluções políticas que não passem pelo grupo. João Paulo foi um dos anfitriões de um carnaval em Recife onde colocou a ministra em um palanque, do governo estadual, para acenar a um milhão e meio de eleitores integrantes do Galo da Madrugada. Fernando Pimentel vocalizou, em entrevista à revista "Veja", a visão interna desta candidatura, consolidando o projeto.
Disse, por exemplo, que Dilma Rousseff é a candidata, plano único, não existe plano B. Afastou, com isto, as hipóteses que o próprio PT alimentava para o caso de Dilma "não decolar": Patrus Ananias a até Aécio Neves, se saísse do PSDB e fosse para um partido da base do governo. O candidato do PSDB, segundo Pimentel, na entrevista, é Serra, e Aécio será candidato ao Senado. É o governo nominando seu adversário. Uma entrevista reveladora da estratégia do presidente Lula.
O PT, avisado que não há outra hipótese (embora ainda haja no partido quem reserve a desconfiança de que ainda pode ser o próprio Lula para aquele famoso fantasma-terceiro-mandato-sequencial) tem cumprido seu papel para esta fase: organiza encontros, conferências, visitas da ministra Brasil afora, inaugurações, com Lula ou sozinha, para se tornar conhecida, identificada com o presidente e os programas que integram a grade de maior divulgação do governo, as obras, as bolsas e, agora, as casas.
Políticos ligados ao presidente avaliam que Lula, com habilidade, está dando o tom desta campanha e impondo a ela o ritmo e velocidade adequados para a candidata e seu partido. Os rumos dados por ele podem sofrer ajustes de acordo com resultados de pesquisas de opinião, quantitativas e qualitativas. Se o acaso não criar nuvens negras neste céu de brigadeiro, acreditam políticos do PT que a ministra chega ao fim do ano com 20% da preferência do eleitorado (atualmente tem 12%, em média), e daí para uma investida forte tendo em vista a vitória no primeiro turno.
Rosângela Bittar é chefe da Redação, em Brasília. Escreve às quartas-feiras
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