quarta-feira, 11 de março de 2009

Via Campesina volta a invadir prédio público

Letícia Lins
DEU EM O GLOBO


Em Pernambuco, mulheres ocupam Companhia de Desenvolvimento do São Francisco, além de fornecedora de energia
RECIFE e PORTO ALEGRE. Um dia depois de protagonizarem atos de vandalismo em protestos pelo país, mulheres da Via Campesina, organização ligada ao Movimento Sem Terra (MST), voltaram a invadir prédio público ontem. Na véspera, elas quebraram vidraças ao invadir a sede do Ministério da Agricultura, em Brasília. Ontem, ocuparam escritórios da Companhia de Desenvolvimento do Rio São Francisco (Codevasf), em Petrolina, Pernambuco, para protestar contra o agronegócio.

Em Petrolândia (PE), cerca de 250 manifestantes ocuparam a sede da Neoenergia, a companhia de abastecimento de energia do estado, que foi privatizada. O protesto seria contra os altos preços cobrados pela empresa. No fim da tarde, a Codevasf e a empresa de energia foram desocupadas. As sem-terra divulgaram manifesto reclamando que "a água do Rio São Francisco devem ser do povo, e não de empresas internacionais".

A região, a cerca de 700 quilômetros de Recife, é conhecida como a Califórnia brasileira, devido ao cultivo irrigado de frutos para exportação. As lavradoras reclamaram que o governo irriga perímetros para a iniciativa privada, enquanto pequenos produtores vivem no meio da caatinga sem acesso à água.

No Sul, 500 armas brancas apreendidas em assentamento Em Porto Alegre, cerca de 900 mulheres integrantes de movimentos ligados à Via Campesina fizeram uma caminhada no Centro, causando engarrafamentos em várias avenidas. O grupo passou pela frente do Palácio da Justiça, na Praça da Matriz e seguiu até o Palácio Piratini, sede do governo do estado.

Em Candiota (RS), a Brigada Militar fez uma operação no acesso do assentamento Conquista do Paraíso e apreendeu cerca 500 objetos que estavam com mulheres ligadas à Via Campesina. Foram recolhidos foices, facões e escudos, dentre outros materiais. Segundo o subcomandante da Brigada Militar, coronel Lauro Binsfeld, não houve resistência. As mesmas mulheres participaram anteontem da invasão à Estância Aroeira (antiga Fazenda Ana Paula), de propriedade da Votorantim Celulose e Papel. O assentamento é vizinho da área invadida, e é acessado por estradas vicinais.

Em Brasília, militantes da Via Campesina participam de um protesto em frente ao Supremo Tribunal Federal (STF). Segundo a coordenadora nacional do movimento, Rosana Fernandes, foi um repúdio contra declarações do presidente do STF, ministro Gilmar Mendes, que cobrou ação do Ministério Público para apurar o repasse de recursos públicos ao MST.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que à noite participaria de congresso da Confederação Nacional de Trabalhadores na Agricultura (Contag), acabou não comparecendo. O evento reuniu 1.500 pessoas. Em discurso, o deputado federal Beto Alquerque (PSB-RS), vice-líder do governo, alegou que Lula estava no Planalto com a equipe econômica e, por isso, não poderia participar. Ele não fez referência aos protestos da véspera.

Chefe do Incra em Recife denuncia invasão e ameaças

Em Pernambuco, o superintendente da autarquia em Recife, Abelardo Siqueira, denunciou à PF que tem sofrido ameaças. A antessala do seu gabinete foi invadida por cinco homens encapuzados, em 3 de março. No momento da invasão, o superintendente estava na Procuradoria Geral de Justiça do estado, para reunião com o ouvidor do Incra, Gercino Silva, para discutir meios de reduzir a violência no campo. Os encapuzados gritaram palavras de baixo calão e afirmaram que iam "pegar" o superintendente. Também disseram que iam voltar.

Dez dias antes, um confronto acabou com quatro seguranças mortos em uma fazenda de São Joaquim do Monte, a 137 quilômetros de Recife. Abelardo não soube dizer se a invasão está relacionada ao caso.

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