Dora Kramer
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO
Aconteceu com o PMDB, aconteceu com o PSDB e está acontecendo com o PT: premidos pelas circunstâncias de governo, por compromissos assumidos no período e o peso de um presidencialismo quase absolutista, partidos que passam pelo poder pagam por isso um pedágio caro.
Se de um lado crescem, de outro perdem vigor, identidade e capacidade de fazer as escolhas mais afinadas com a rua, não necessariamente as mais convenientes para as cúpulas.
Numa visão otimista, seria a arte de engolir sapos em nome de um projeto maior. Na percepção do que ocorre de fato, tomando como exemplo as experiências do PMDB e do PSDB, os partidos voltam à oposição perdidos, sem referência.
Depois de anos fazendo todo tipo de concessão, acostumando-se a considerar os vícios como parte do jogo, o preço pago ao exercício da governabilidade, saem do poder, no mínimo, mais cínicos, altamente compassivos e muito menos combativos.
A distância entre a expectativa que cercou o primeiro governo civil pós-ditadura e a mixórdia em que se transformou o partido fiador da Nova República dispensa maiores apresentações sobre a trajetória do PMDB.
Bateu cabeça durante um tempo sem saber se era governo ou oposição, até que decidiu ser - ao mesmo tempo e alternadamente - governo e oposição, vivendo do aluguel da legenda.
Da sua costela nasceu o PSDB, cuja chegada ao governo central ocorreu prematuramente aos seis anos de vida. Passou oito anos da Presidência de Fernando Henrique Cardoso atendendo a todas as conveniências do Palácio do Planalto.
Diante das queixas dos correligionários, o então ministro das Comunicações, Sérgio Motta, informava que a obediência era o preço que o partido deveria pagar por ter chegado ao poder.
Na coalizão formada com o PMDB e o PFL prevalecia o raciocínio de que o "dono da casa" deveria tratar bem os convidados. O apoio do partido do presidente era fava contada; o dos parceiros precisava ser constantemente conquistado.
O resultado foi um partido encolhido, tolhido e, na volta à oposição, destreinado, desagregado, sem discurso e em boa medida anestesiado para deformações correntes no âmbito da máquina governamental.
O entendimento de que a Presidência obriga partidos nos quais militam presidentes à obediência acrítica prevalece também no PT, e com muito mais força, pois o peso da liderança de Lula é infinitas vezes maior que a influência dos antecessores nos respectivos partidos.
O PT - aqui entendido em sua totalidade, não apenas na representação parlamentar - engoliu todas as mudanças, todos os pragmatismos, todos os vexames, alianças, e, mais recentemente, engoliu também a candidatura de Dilma Rousseff sem entender direito aonde quer chegar o chefe e se prepara para engolir candidaturas politicamente complicadas aos governos dos Estados.
Obedece por instinto de sobrevivência, mas esquece o dia de amanhã. Lula será para sempre ex-presidente; já o PT sairá da Presidência sem saber direito quem é.
Madame X
A apresentação das mulheres ligadas ao MST e denominações adjacentes na série de infrações cometidas à guisa de "comemoração" do Dia Internacional da Mulher, com lenços escondendo os rostos, é própria imagem da (auto) "criminalização dos movimentos sociais".
A adoção do modelo ré misteriosa demonstra plena ciência do caráter infrator do movimento.
Diferentemente do governo, o MST reconhece a ilegalidade de sua natureza. Nasceu sem personalidade jurídica para fugir do alcance da lei como entidade. Agora começa a querer dificultar identificações pessoais e, para isso, fantasia seus integrantes de bandidos.
Todas as letras
O processo de severinização que o líder do PMDB, Renan Calheiros, impõe ao Senado já é evidente.
Líder da maior bancada da Casa, usa os instrumentos de poder recém-readquiridos para distribuir testas-de-ferro no comando de comissões por onde transitam interesses cruciais: Infraestrutura, Orçamento e Constituição e Justiça.
Só não é patente, por ora, a existência no Senado de homem ou mulher com coragem para pôr os pingos nos is com todos os efes e erres.
Prepondera na Casa a consciência de que Calheiros não tem mais nada a perder, nome a zelar nem imagem a preservar.
Os mais amigos de José Sarney acrescentam a preocupação de que a associação reserve percalços que venham a impedi-lo de levar a bom termo o mandato de dois anos na presidência do Senado.
No deserto
Dia chegará em que a excomunhão deixará de impressionar, tão apartados do mundo real são certos dogmas da Igreja Católica.
Ela fala à luz de suas leis - é um direito e um dever -, mas vai falando cada vez mais sozinha - é uma escolha.
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO
Aconteceu com o PMDB, aconteceu com o PSDB e está acontecendo com o PT: premidos pelas circunstâncias de governo, por compromissos assumidos no período e o peso de um presidencialismo quase absolutista, partidos que passam pelo poder pagam por isso um pedágio caro.
Se de um lado crescem, de outro perdem vigor, identidade e capacidade de fazer as escolhas mais afinadas com a rua, não necessariamente as mais convenientes para as cúpulas.
Numa visão otimista, seria a arte de engolir sapos em nome de um projeto maior. Na percepção do que ocorre de fato, tomando como exemplo as experiências do PMDB e do PSDB, os partidos voltam à oposição perdidos, sem referência.
Depois de anos fazendo todo tipo de concessão, acostumando-se a considerar os vícios como parte do jogo, o preço pago ao exercício da governabilidade, saem do poder, no mínimo, mais cínicos, altamente compassivos e muito menos combativos.
A distância entre a expectativa que cercou o primeiro governo civil pós-ditadura e a mixórdia em que se transformou o partido fiador da Nova República dispensa maiores apresentações sobre a trajetória do PMDB.
Bateu cabeça durante um tempo sem saber se era governo ou oposição, até que decidiu ser - ao mesmo tempo e alternadamente - governo e oposição, vivendo do aluguel da legenda.
Da sua costela nasceu o PSDB, cuja chegada ao governo central ocorreu prematuramente aos seis anos de vida. Passou oito anos da Presidência de Fernando Henrique Cardoso atendendo a todas as conveniências do Palácio do Planalto.
Diante das queixas dos correligionários, o então ministro das Comunicações, Sérgio Motta, informava que a obediência era o preço que o partido deveria pagar por ter chegado ao poder.
Na coalizão formada com o PMDB e o PFL prevalecia o raciocínio de que o "dono da casa" deveria tratar bem os convidados. O apoio do partido do presidente era fava contada; o dos parceiros precisava ser constantemente conquistado.
O resultado foi um partido encolhido, tolhido e, na volta à oposição, destreinado, desagregado, sem discurso e em boa medida anestesiado para deformações correntes no âmbito da máquina governamental.
O entendimento de que a Presidência obriga partidos nos quais militam presidentes à obediência acrítica prevalece também no PT, e com muito mais força, pois o peso da liderança de Lula é infinitas vezes maior que a influência dos antecessores nos respectivos partidos.
O PT - aqui entendido em sua totalidade, não apenas na representação parlamentar - engoliu todas as mudanças, todos os pragmatismos, todos os vexames, alianças, e, mais recentemente, engoliu também a candidatura de Dilma Rousseff sem entender direito aonde quer chegar o chefe e se prepara para engolir candidaturas politicamente complicadas aos governos dos Estados.
Obedece por instinto de sobrevivência, mas esquece o dia de amanhã. Lula será para sempre ex-presidente; já o PT sairá da Presidência sem saber direito quem é.
Madame X
A apresentação das mulheres ligadas ao MST e denominações adjacentes na série de infrações cometidas à guisa de "comemoração" do Dia Internacional da Mulher, com lenços escondendo os rostos, é própria imagem da (auto) "criminalização dos movimentos sociais".
A adoção do modelo ré misteriosa demonstra plena ciência do caráter infrator do movimento.
Diferentemente do governo, o MST reconhece a ilegalidade de sua natureza. Nasceu sem personalidade jurídica para fugir do alcance da lei como entidade. Agora começa a querer dificultar identificações pessoais e, para isso, fantasia seus integrantes de bandidos.
Todas as letras
O processo de severinização que o líder do PMDB, Renan Calheiros, impõe ao Senado já é evidente.
Líder da maior bancada da Casa, usa os instrumentos de poder recém-readquiridos para distribuir testas-de-ferro no comando de comissões por onde transitam interesses cruciais: Infraestrutura, Orçamento e Constituição e Justiça.
Só não é patente, por ora, a existência no Senado de homem ou mulher com coragem para pôr os pingos nos is com todos os efes e erres.
Prepondera na Casa a consciência de que Calheiros não tem mais nada a perder, nome a zelar nem imagem a preservar.
Os mais amigos de José Sarney acrescentam a preocupação de que a associação reserve percalços que venham a impedi-lo de levar a bom termo o mandato de dois anos na presidência do Senado.
No deserto
Dia chegará em que a excomunhão deixará de impressionar, tão apartados do mundo real são certos dogmas da Igreja Católica.
Ela fala à luz de suas leis - é um direito e um dever -, mas vai falando cada vez mais sozinha - é uma escolha.
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