Jurandir é único sobrevivente da família de líder comunista e pode ir à Justiça
A família de Gregório Bezerra (1900-1982), líder comunista e ex-deputado federal pelo PCB, jamais recebeu qualquer reparação econômica da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça, ao contrário de contemporâneos famosos como Luiz Carlos Prestes - com quem dividiu cela no Presídio Frei Caneca -, Miguel Arraes, Carlos Lamarca e Carlos Marighella. Em novembro de 2007, a família conseguiu que ele recebesse da comissão o título de anistiado político, mas sem direito a indenização.
O único filho vivo de Bezerra, Jurandir, também perseguido político no regime militar, vive em um conjunto habitacional, na Grande Recife, com o salário de servidor aposentado da prefeitura da capital pernambucana. "Não digo quanto ganho para não ofender sua sensibilidade", brincou. Jurandir prepara-se para recorrer à comissão pedindo indenização. Se não for atendido, entrará na Justiça.
O presidente da comissão, Paulo Abrão, disse que o pedido de reparação não foi atendido porque a Lei 10.559 veda o pagamento a sucessores, a não ser que sejam dependentes do perseguido político. "Infelizmente, nem o Gregório, que tinha todo o direito de ser ressarcido pelo que sofreu, nem sua viúva fizeram o pedido. Quanto ao recurso, a família perdeu o prazo." Mesmo assim, afirmou que vai esperar o recurso para analisá-lo.
AGRESSÃO
Personagem da chamada Intentona Comunista de 1935, quando, como sargento do Exército, sublevou-se em apoio a Prestes, Bezerra foi um dos mais conhecidos líderes comunistas brasileiros.
Em 1964, foi preso novamente ao apoiar o então governador Miguel Arraes (1916-2005), derrubado pelos militares em 1964 e anistiado na semana passada. Depois do golpe, fugiu para Pernambuco. Acabou preso e foi levado para um quartel, onde teve os pés queimados por uma solução ácida. A seguir, o coronel do Exército Darcy Ursmar Villocq Viana amarrou uma corda em seu pescoço e o agrediu em plena Rua 17 de Agosto. Só de calção, Bezerra, já sexagenário, levou golpes de barra de ferro, socos e pontapés dos soldados.
Em entrevista ao Estado em 1979, o oficial admitiu ter agredido, mas não torturado Bezerra. O líder político só foi libertado em 1969, com outros 14 presos políticos, ao ser trocado pelo embaixador dos Estados Unidos, Charles Burke Elbrick, sequestrado por guerrilheiros.
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