DEU EM O GLOBO
Confirmação de que pai de candidato foi envenenado durante a ditadura militar pode afetar favoritismo de concorrente direitista
Cristina Azevedo Enviada especial • SANTIAGO
Numa capela privada no bairro de Santo Domingo, em Santiago, a família do general Augusto Pinochet se reúne hoje de manhã numa missa pelos três anos da morte do ex-ditador. Os fatos ocorridos durante sua ditadura, no entanto, continuam vivos e afetam a primeira campanha presidencial realizada desde seu sepultamento. Até então morna, a campanha esquentou com a reabertura do processo sobre a morte, em 1982, do ex-presidente Eduardo Frei Montalva, pai do atual candidato da coalizão de governo à Presidência. O fato se tornou combustível da campanha na qual a Concertação tenta assegurar um bom resultado no próximo domingo e melhorar suas chances no segundo turno.
Desgastada por 20 anos no poder e por uma escolha de candidato que desagradou aos integrantes mais à esquerda da coalizão, a Concertação utilizou a homenagem a Frei Montalva para dar uma demonstração de unidade.
Entre as centenas de pessoas presentes, estavam ministros de governo e os líderes dos quatro partidos da coalizão — o Partido Democrata Cristão (PDC), o Partido pela Democracia (PPD), o Partido Radical Social-Democrata (PRSD) e o Partido Socialista — reunidos em torno do senador e candidato Eduardo Frei, também ele um ex-presidente. Carmen Frei disse que as pessoas que assassinaram seu pai “estão andando pelas ruas”.
— Os fatos trouxeram à memória o assassinato de Frei Montalva. Seus efeitos não serão imediatos, mas se farão sentir no segundo turno quando (o direitista Sebastián) Piñera irá buscar apoio para alcançar mais da metade dos votos e vencer. Onde vai buscar esse apoio? Nos eleitores mais à direita do PDC, mas estes são freístas e não vão querer votar agora numa pessoa que trabalhou com o regime militar — observou Leonardo Aradena, advogado de direitos humanos que trabalha com a Anistia Internacional.
Segundo a pesquisa divulgada ontem pelo Centro de Estudos da Realidade Contemporânea (Cerc), Piñera abriu vantagem em relação a Frei, e este em relação ao terceiro colocado, o independente Marco Enríquez-Ominani. Piñerateria 44,1%; Frei, 31%; e Ominami, 17,7%. No segundo turno, a diferença seria maior: Piñera com 49%, Frei com 32%.
Mas as pesquisas são anteriores à revelação de que o pai do senador do PDC foi envenenado, o que pode mudar o cenário. Frei deixou clara sua posição: — Represento as forças políticas que lutaram para que a democracia voltasse, pelos direitos humanos.
A presidente Michelle Bachelet elogiou ontem a investigação do juiz, dizendo que a “justiça tarda mas não falha”. Já Ominami, filho de um guerrilheiro também assassinado pela ditadura Pinochet, lembrou que viveu drama semelhante.
— Sei o que é perder um pai. Conheço essa dor e o que vivi por 35 anos — declarou ele.
Piñera promete investigar caso
Piñera primeiro acusou o governo de usar os direitos humanos com propósitos eleitorais, mas ontem mudou o discurso. O candidato — um bilionário que foi derrotado por Bachelet nas urnas — afirmou que, se for eleito, fará com que o caso seja investigado “até as últimas consequências”: Para Carlos Huneus, diretor do Cerc, o tema direitos humanos entrou definitivamente na campanha. Frei já vinha abordando o tema, prometendo lutar contra a Lei de Anistia, que abrange crimes cometidos entre 1973 e 1978. A Corte Suprema tem levado os processos adiante, dizendo que o direito internacional tem prevalência.
No entanto, os processos são lentos.
— Embora Bachelet também tenha perdido o pai, esse não foi um tema forte na eleição passada. O tema dos direitos humanos entrou agora na campanha, pois o caso Frei Montalva foi muito dramático — disse Huneus.
Política e cultura, segundo uma opção democrática, constitucionalista, reformista, plural.
quinta-feira, 10 de dezembro de 2009
Fantasmas da Era Pinochet mobilizam eleição no Chile
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