DEU EM O GLOBO
Os discursos nas convenções do PT e do PSDB, no fim de semana passado, revelam com clareza qual será o tom da campanha presidencial daqui para a frente, quando já temos candidatos oficiais e não simples pré-candidatos, como a esdrúxula legislação eleitoral definia até então. De um lado, a candidata oficial, Dilma Rousseff, transformada pelo próprio Lula em sua "laranja" eleitoral; de outro, o tucano José Serra atacando o PT, a falta de experiência da adversária, mas só se referindo a Lula de maneira indireta.
O presidente Lula vai explicitando sua estratégia à medida que a campanha vai chegando ao ponto crítico, que é a propaganda eleitoral de rádio e televisão.
Acho que não chegará a tanto, mas ele parece disposto a ir à televisão dizer ao eleitorado, qual um Enéas redivivo: "Meu nome é Dilma".
É interessante como Lula se lamenta em público por não ter podido disputar um terceiro mandato consecutivo, e o grau de autoelogio que utiliza quando se refere a ele.
Ainda não chegou a se referir a ele mesmo na terceira pessoa, como faz Pelé, mas está perto: "Vai ser a primeira eleição, desde que voltou (sic) as eleições diretas para presidente, que o meu nome não vai estar na cédula. Vai haver um vazio naquela cédula. E, para que esse vazio seja preenchido, eu mudei de nome e vou colocar Dilma lá na cédula. E aí as pessoas vão votar".
É um raciocínio linear de quem está com a autoestima em alta, e por enquanto vai vendo ser cumprido à risca quase tudo o que pretendia.
Nesse raciocínio, a política não entra, o que talvez seja a sua grande falha.
Digo "quase tudo" porque, até o momento, o tucano Serra está conseguindo escapar da armadilha de transformar a eleição em um plebiscito entre os anos Lula e os de FH.
A eleição está polarizada entre PT e PSDB, e Lula é o centro da disputa, mas não em comparação ao super adversário FH, e, sim, ao seu vezo centralizador.
O candidato do PSDB, José Serra, subiu o tom contra o PT no discurso na convenção em que foi indicado candidato oficial dos tucanos, mas arriscou uma crítica indireta a Lula, até agora inatacável.
Na fase em que ainda tentava se ligar a Lula no imaginário do eleitor, Serra chegou a dizer que Lula está "acima do bem e do mal", um exagero que nem mesmo o mais fanático de seus seguidores havia tido a coragem de assumir.
Mas esses foram outros tempos, quando ainda havia esperança entre os tucanos de que o eleitorado de Lula não embarcaria na candidatura de Dilma como está embarcando.
Serra, no sábado, decidiu avançar nas críticas: "Acredito que o Estado deve subordinar-se à sociedade, e não ao governante da hora, ou a um partido. O tempo dos chefes de governo que acreditavam personificar o Estado ficou para trás há mais de 300 anos. Luís XIV achava que o Estado era ele. Nas democracias e no Brasil, não há lugar para "Luíses" assim".
O nosso Luís não concorda, e continua falando como se o Estado fosse ele.
A luta da oposição parece estar centrada na tentativa de mostrar ao eleitorado que o Lula que não disputa a Presidência não é a mesma coisa que Dilma, apesar da garantia de Lula.
Até mesmo na convenção do PSDB paulista, que lançou Geraldo Alckmin a governador, o assunto apareceu.
Na análise dos principais líderes do PSDB, tanto lá, um estado "tucano", quanto em Minas, um estado que ainda está em busca de uma definição partidária, a eleição deste ano está mais fácil para os tucanos do que em 2006, porque Lula não é candidato.
Alckmin, por exemplo, fez questão de reforçar em seu discurso: "Lula não é candidato, está certo? Ele não está na campanha este ano".
Outra estratégia tucana ficou clara na convenção paulista, quando Alckmin atacou a falta de experiência de Dilma, chamada de "paraquedista" por Serra: "Quem pega carona e vai na garupa não guia, não breca, não acelera, não conduz. José Serra será nosso comandante", afirmou.
Dizendo-se "soldado de Serra", Alckmin tentou ainda desfazer a má impressão de que não está se empenhando o suficiente na campanha presidencial.
O ex-governador de Minas Aécio Neves, que comanda a campanha do PSDB mineiro na tentativa de eleger Antonio Anastasia seu sucessor em condições semelhantes às de Lula em relação a Dilma, esteve também presente na convenção tucana para mostrar a unidade do partido.
Ele também considera que a ausência de Lula facilita a possibilidade de vitória de Serra no estado, que deu duas vitórias seguidas a Lula nas eleições presidenciais de 2002 e 2006.
Certa vez, Aécio chegou a dizer que Lula era tão benquisto em Minas que, em certas regiões, os eleitores, se tivessem que escolher, poderiam deixar de votar nele para votar em Lula.
Este ano, o eleitorado mineiro vai ter, portanto, dois cabos eleitorais fortes a tentar induzir seu voto. Há indicações de que a imposição da candidatura de Hélio Costa, do PMDB, em detrimento do ex-prefeito Fernando Pimentel, não teve boa acolhida entre os eleitores petistas, o que pode prejudicar a campanha do partido em Minas.
O empate entre os dois candidatos demonstra que as questões regionais serão fundamentais na definição da vitória.
Por isso, até o final do mês, quando termina o prazo para as convenções regionais, as pressões serão grandes.
Um exemplo disso é o PP, partido que faz parte da base aliada do governo, mas tende a ficar neutro na disputa presidencial.
Há informações de que o governo está pressionando muito os setores regionais do partido que estão com a candidatura oficial para realizarem uma convenção, na tentativa de aprovar a formalização do apoio.
Mas as seções de Minas e as do Sul do país, que estão comprometidas com a candidatura de José Serra, estão trabalhando para adiar ao máximo a realização da convenção, para esfriar o ânimo dos "dilmistas".
Mesmo sem estar na telinha da máquina de votar, Lula continua sendo o principal ator dessa campanha presidencial, para o bem e para o mal.
Os discursos nas convenções do PT e do PSDB, no fim de semana passado, revelam com clareza qual será o tom da campanha presidencial daqui para a frente, quando já temos candidatos oficiais e não simples pré-candidatos, como a esdrúxula legislação eleitoral definia até então. De um lado, a candidata oficial, Dilma Rousseff, transformada pelo próprio Lula em sua "laranja" eleitoral; de outro, o tucano José Serra atacando o PT, a falta de experiência da adversária, mas só se referindo a Lula de maneira indireta.
O presidente Lula vai explicitando sua estratégia à medida que a campanha vai chegando ao ponto crítico, que é a propaganda eleitoral de rádio e televisão.
Acho que não chegará a tanto, mas ele parece disposto a ir à televisão dizer ao eleitorado, qual um Enéas redivivo: "Meu nome é Dilma".
É interessante como Lula se lamenta em público por não ter podido disputar um terceiro mandato consecutivo, e o grau de autoelogio que utiliza quando se refere a ele.
Ainda não chegou a se referir a ele mesmo na terceira pessoa, como faz Pelé, mas está perto: "Vai ser a primeira eleição, desde que voltou (sic) as eleições diretas para presidente, que o meu nome não vai estar na cédula. Vai haver um vazio naquela cédula. E, para que esse vazio seja preenchido, eu mudei de nome e vou colocar Dilma lá na cédula. E aí as pessoas vão votar".
É um raciocínio linear de quem está com a autoestima em alta, e por enquanto vai vendo ser cumprido à risca quase tudo o que pretendia.
Nesse raciocínio, a política não entra, o que talvez seja a sua grande falha.
Digo "quase tudo" porque, até o momento, o tucano Serra está conseguindo escapar da armadilha de transformar a eleição em um plebiscito entre os anos Lula e os de FH.
A eleição está polarizada entre PT e PSDB, e Lula é o centro da disputa, mas não em comparação ao super adversário FH, e, sim, ao seu vezo centralizador.
O candidato do PSDB, José Serra, subiu o tom contra o PT no discurso na convenção em que foi indicado candidato oficial dos tucanos, mas arriscou uma crítica indireta a Lula, até agora inatacável.
Na fase em que ainda tentava se ligar a Lula no imaginário do eleitor, Serra chegou a dizer que Lula está "acima do bem e do mal", um exagero que nem mesmo o mais fanático de seus seguidores havia tido a coragem de assumir.
Mas esses foram outros tempos, quando ainda havia esperança entre os tucanos de que o eleitorado de Lula não embarcaria na candidatura de Dilma como está embarcando.
Serra, no sábado, decidiu avançar nas críticas: "Acredito que o Estado deve subordinar-se à sociedade, e não ao governante da hora, ou a um partido. O tempo dos chefes de governo que acreditavam personificar o Estado ficou para trás há mais de 300 anos. Luís XIV achava que o Estado era ele. Nas democracias e no Brasil, não há lugar para "Luíses" assim".
O nosso Luís não concorda, e continua falando como se o Estado fosse ele.
A luta da oposição parece estar centrada na tentativa de mostrar ao eleitorado que o Lula que não disputa a Presidência não é a mesma coisa que Dilma, apesar da garantia de Lula.
Até mesmo na convenção do PSDB paulista, que lançou Geraldo Alckmin a governador, o assunto apareceu.
Na análise dos principais líderes do PSDB, tanto lá, um estado "tucano", quanto em Minas, um estado que ainda está em busca de uma definição partidária, a eleição deste ano está mais fácil para os tucanos do que em 2006, porque Lula não é candidato.
Alckmin, por exemplo, fez questão de reforçar em seu discurso: "Lula não é candidato, está certo? Ele não está na campanha este ano".
Outra estratégia tucana ficou clara na convenção paulista, quando Alckmin atacou a falta de experiência de Dilma, chamada de "paraquedista" por Serra: "Quem pega carona e vai na garupa não guia, não breca, não acelera, não conduz. José Serra será nosso comandante", afirmou.
Dizendo-se "soldado de Serra", Alckmin tentou ainda desfazer a má impressão de que não está se empenhando o suficiente na campanha presidencial.
O ex-governador de Minas Aécio Neves, que comanda a campanha do PSDB mineiro na tentativa de eleger Antonio Anastasia seu sucessor em condições semelhantes às de Lula em relação a Dilma, esteve também presente na convenção tucana para mostrar a unidade do partido.
Ele também considera que a ausência de Lula facilita a possibilidade de vitória de Serra no estado, que deu duas vitórias seguidas a Lula nas eleições presidenciais de 2002 e 2006.
Certa vez, Aécio chegou a dizer que Lula era tão benquisto em Minas que, em certas regiões, os eleitores, se tivessem que escolher, poderiam deixar de votar nele para votar em Lula.
Este ano, o eleitorado mineiro vai ter, portanto, dois cabos eleitorais fortes a tentar induzir seu voto. Há indicações de que a imposição da candidatura de Hélio Costa, do PMDB, em detrimento do ex-prefeito Fernando Pimentel, não teve boa acolhida entre os eleitores petistas, o que pode prejudicar a campanha do partido em Minas.
O empate entre os dois candidatos demonstra que as questões regionais serão fundamentais na definição da vitória.
Por isso, até o final do mês, quando termina o prazo para as convenções regionais, as pressões serão grandes.
Um exemplo disso é o PP, partido que faz parte da base aliada do governo, mas tende a ficar neutro na disputa presidencial.
Há informações de que o governo está pressionando muito os setores regionais do partido que estão com a candidatura oficial para realizarem uma convenção, na tentativa de aprovar a formalização do apoio.
Mas as seções de Minas e as do Sul do país, que estão comprometidas com a candidatura de José Serra, estão trabalhando para adiar ao máximo a realização da convenção, para esfriar o ânimo dos "dilmistas".
Mesmo sem estar na telinha da máquina de votar, Lula continua sendo o principal ator dessa campanha presidencial, para o bem e para o mal.
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