DEU NO JORNAL DO BRASIL
Depois de dois mandatos, o presidente Lula é daqueles que têm razões que a própria razão pode desconhecer sem precisar se explicar. É o primeiro a oferecer versões compulsórias, que não estão sendo cobradas nem enxugam dúvidas a seu respeito. Ninguém precisa lhe pedir explicações, ele mesmo se encarrega de oferecê-las, para não perder a oportunidade. Num assunto, porém, não conseguiu convencer, talvez porque também não esteja convencido. É o que pretende fazer depois que deixar de ser presidente.
Um ex-presidente não é alguém que possa se equiparar a um presidente e contar ao seu redor com pessoas dispostas a rir de suas anedotas e ouvir sem sorrir a versões guardadas para depois. Lula já deve estar cansado de se referir à variedade de ocupações a que pretende se aplicar – se este for o verbo adequado – depois de se despir do mandato presidencial. Desconte-se, porém, a diferença entre quem é e quem será depois que deixar de ser um presidente que não cabe mais em si mesmo, e de uma república que também excede as medidas de modelo austero.
Entende-se o cuidado do presidente, que era um quando chegou ao poder e agora passou perigosamente a dois. No mínimo. Depois de cumprir dois mandatos, sem perder de vista 2014, quer se refazer no que teria sido o terceiro. Um que foi e outro com o qual pretende voltar à Presidência, porque acha que o governo também se deu bem como ele. E também para terminar obra de governo que nunca terá fim.
Lula tem resistido saudavelmente mas, até quando, Catilina, ele abusará das alturas? O Brasil que Lula vê não é o mesmo aos olhos dos cidadãos que pagam impostos equivalentes a cinco meses de salários por ano. Sem falar dos aposentados que aumentam sua cota na população e perdem no que recebem: quanto mais vivem, menos ganham e mais gastam com remédios. Um dia as duas linhas vão se cruzar. Vida longa então ao ex-presidente para conferir.
A verdade é que o presidente teve suas razões, mas os cidadãos têm outras. Não é que a culpa seja de sua altura, mas o fato é que ele já bateu com a cabeça no teto em matéria de popularidade. Mais do que já alcançou, passa a ser risco para a democracia. Primeiro, porque a proeza pode vir a ser considerada supérflua, em relação ao custo astronômico das eleições. Segundo, porque ele próprio não resistirá à vertigem de se aproximar dos cem por cento de aprovação, que ele poderia querer superar com o sacrifício, não apenas da democracia mas também da aritmética, que não se limita às quatro operações.
Luiz Inácio Lula da Silva tem variado de opinião sobre qual atividade humana pretende aplicar tanta disposição de se ocupar ociosamente, desde que não lhe bloqueiem a volta ao poder pela via eleitoral (em 2014).
A pedra previsível no meio do caminho dá prioridade ao sucessor, seja ele quem for, e nesse caso seria natural, pois as águas do petismo e da social-democracia, que correm paralelas mas não se misturam eleitoralmente, só se unirão mais adiante, depois que o brasileiro incapaz de distinguir entre esquerda e direita for minoria residual na população.
O presidente precisará, rapidamente, de outra ocupação que não seja a figura do ponto, que o teatro moderno aboliu porque tirava a naturalidade dos atores quando, por um lapso de memória, precisavam ser socorridos por um cavalheiro que, com o texto na mão, de dentro do fosso no palco, soprava as frases.
Uma tragédia viraria uma farsa, como acontece, segundo Marx, à História em episódios que teimam em se repetir sem necessidade.
Depois de dois mandatos, o presidente Lula é daqueles que têm razões que a própria razão pode desconhecer sem precisar se explicar. É o primeiro a oferecer versões compulsórias, que não estão sendo cobradas nem enxugam dúvidas a seu respeito. Ninguém precisa lhe pedir explicações, ele mesmo se encarrega de oferecê-las, para não perder a oportunidade. Num assunto, porém, não conseguiu convencer, talvez porque também não esteja convencido. É o que pretende fazer depois que deixar de ser presidente.
Um ex-presidente não é alguém que possa se equiparar a um presidente e contar ao seu redor com pessoas dispostas a rir de suas anedotas e ouvir sem sorrir a versões guardadas para depois. Lula já deve estar cansado de se referir à variedade de ocupações a que pretende se aplicar – se este for o verbo adequado – depois de se despir do mandato presidencial. Desconte-se, porém, a diferença entre quem é e quem será depois que deixar de ser um presidente que não cabe mais em si mesmo, e de uma república que também excede as medidas de modelo austero.
Entende-se o cuidado do presidente, que era um quando chegou ao poder e agora passou perigosamente a dois. No mínimo. Depois de cumprir dois mandatos, sem perder de vista 2014, quer se refazer no que teria sido o terceiro. Um que foi e outro com o qual pretende voltar à Presidência, porque acha que o governo também se deu bem como ele. E também para terminar obra de governo que nunca terá fim.
Lula tem resistido saudavelmente mas, até quando, Catilina, ele abusará das alturas? O Brasil que Lula vê não é o mesmo aos olhos dos cidadãos que pagam impostos equivalentes a cinco meses de salários por ano. Sem falar dos aposentados que aumentam sua cota na população e perdem no que recebem: quanto mais vivem, menos ganham e mais gastam com remédios. Um dia as duas linhas vão se cruzar. Vida longa então ao ex-presidente para conferir.
A verdade é que o presidente teve suas razões, mas os cidadãos têm outras. Não é que a culpa seja de sua altura, mas o fato é que ele já bateu com a cabeça no teto em matéria de popularidade. Mais do que já alcançou, passa a ser risco para a democracia. Primeiro, porque a proeza pode vir a ser considerada supérflua, em relação ao custo astronômico das eleições. Segundo, porque ele próprio não resistirá à vertigem de se aproximar dos cem por cento de aprovação, que ele poderia querer superar com o sacrifício, não apenas da democracia mas também da aritmética, que não se limita às quatro operações.
Luiz Inácio Lula da Silva tem variado de opinião sobre qual atividade humana pretende aplicar tanta disposição de se ocupar ociosamente, desde que não lhe bloqueiem a volta ao poder pela via eleitoral (em 2014).
A pedra previsível no meio do caminho dá prioridade ao sucessor, seja ele quem for, e nesse caso seria natural, pois as águas do petismo e da social-democracia, que correm paralelas mas não se misturam eleitoralmente, só se unirão mais adiante, depois que o brasileiro incapaz de distinguir entre esquerda e direita for minoria residual na população.
O presidente precisará, rapidamente, de outra ocupação que não seja a figura do ponto, que o teatro moderno aboliu porque tirava a naturalidade dos atores quando, por um lapso de memória, precisavam ser socorridos por um cavalheiro que, com o texto na mão, de dentro do fosso no palco, soprava as frases.
Uma tragédia viraria uma farsa, como acontece, segundo Marx, à História em episódios que teimam em se repetir sem necessidade.
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