DEU EM O ESTADO DE S. PAULO
Criticado, banco faz exigências para liberar mais crédito para empresa da família Batista
David Friedlander
Bombardeado com críticas por ter colocado cerca de R$ 10 bilhões no frigorífico JBS, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) está fazendo exigências para liberar mais um aporte bilionário para a família Batista. Ela pediu ao banco R$ 3 bilhões para criar a maior fábrica de celulose do mundo - a Eldorado Brasil. Só que, desta vez, o BNDES impôs uma condição: quer que a família coloque no negócio, por meio de uma fusão, a empresa de reflorestamento Florestal, da qual os Batista também são sócios.
A decisão do banco, comunicada meses atrás, pegou os donos do JBS de surpresa. Eles esperavam que o BNDES aprovasse o financiamento até o fim de junho. Em vez disso, a área técnica do banco apareceu com a nova exigência. A fusão com a Florestal serviria para verticalizar a Eldorado, que passaria a ter controle sobre toda cadeia de produção, do plantio de eucalipto à fabricação de celulose.
Pelo plano original dos Batista, as duas empresas seriam independentes. Assim, a Eldorado compraria madeira da Florestal, como qualquer outro cliente. Além da família Batista, a Florestal tem como sócios o empresário Mário Celso Lopes e os fundos de pensão Petros (dos funcionários da Petrobrás) e Funcef (Caixa Econômica Federal). A Eldorado pertence à família Batista (75%) e a Mário Celso (25%).
Procurado, o BNDES afirmou, por meio de sua assessoria de imprensa, que não pode comentar operações em fase de avaliação. A Petros e a Funcef não quiseram se pronunciar. E a direção da Eldorado, procurada várias vezes, não deu retorno.
Pressão. Segundo fontes envolvidas no processo, desde que souberam da decisão do BNDES, os donos da Eldorado passaram a pressionar a Petros e a Funcef, que têm juntas 49% da Florestal, para que aprovem rapidamente a operação de fusão.
Os Batista estão com pressa, porque já iniciaram as obras de terraplenagem da fábrica de celulose na cidade de Três Lagoas (MS) e encomendaram parte do equipamento. Ao todo, a fábrica deverá custar R$ 4,8 bilhões e terá capacidade para produzir 1,5 milhão de toneladas de celulose por ano.
Os donos da empresa esperam inaugurar a fábrica em 2012, mas o processo de fusão pode atrapalhar esse plano. Para ganhar tempo, eles chegaram a oferecer ao BNDES, no lugar da fusão, um documento garantindo que toda produção da Florestal seria vendida para a Eldorado. A área técnica do banco insistiu na fusão.
Como os últimos empreendimentos de peso financiados pelo BNDES no setor, como o da Suzano e o da Fibria, previam fábricas integradas, aceitar um modelo diferente poderia dar margem a novas críticas sobre o relacionamento entre o banco e a família Batista, controladora do JBS. Plantar suas próprias florestas torna o projeto mais seguro, porque dá ao fabricante segurança no abastecimento e maior controle sobre o preço da matéria-prima.
Dúvidas. A família Batista e os fundos de pensão da Petrobrás e da Caixa já se conhecem há algum tempo. Petros e Funcef são sócias da JBS e, no ano passado, tornaram-se parceiras dos Batista e de Mário Celso também na Florestal. Compraram 49% da empresa de reflorestamento, por R$ 550 milhões. Apesar do histórico, os fundos ainda teriam dúvidas sobre a conveniência da fusão, segundo fontes ligadas às entidades.
Como o projeto da Eldorado prevê investimentos totais de R$ 4,8 bilhões e a Florestal está avaliada em R$ 1 bilhão, a fusão das duas forçaria os fundos a escolher entre diluir sua participação na nova empresa ou colocar mais dinheiro para manter relevância acionária.
Além disso, recentemente funcionários da Petros e da Funcef teriam reclamado de problemas de governança nos negócios dos Batista. Entre outras queixas, a de que "eles decidem muita coisa sozinhos, mudam de ideia sem ouvir ninguém", diz uma fonte ligada às fundações.
Nas duas últimas semanas, representantes da Eldorado tiveram reuniões de trabalho com técnicos da Petros e da Funcef, que pediram mais informações sobre o projeto para poder tomar uma posição.
Até sexta-feira, as fundações ainda não tinham batido o martelo sobre a fusão. Nem os bancos de investimento para assessorar empresas e fundos na operação foram contratados. "Provavelmente essa fusão vai sair, porque existe uma decisão política já tomada para isso. Mas será preciso melhorar o relacionamento", afirma uma fonte que acompanha o processo.
Criticado, banco faz exigências para liberar mais crédito para empresa da família Batista
David Friedlander
Bombardeado com críticas por ter colocado cerca de R$ 10 bilhões no frigorífico JBS, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) está fazendo exigências para liberar mais um aporte bilionário para a família Batista. Ela pediu ao banco R$ 3 bilhões para criar a maior fábrica de celulose do mundo - a Eldorado Brasil. Só que, desta vez, o BNDES impôs uma condição: quer que a família coloque no negócio, por meio de uma fusão, a empresa de reflorestamento Florestal, da qual os Batista também são sócios.
A decisão do banco, comunicada meses atrás, pegou os donos do JBS de surpresa. Eles esperavam que o BNDES aprovasse o financiamento até o fim de junho. Em vez disso, a área técnica do banco apareceu com a nova exigência. A fusão com a Florestal serviria para verticalizar a Eldorado, que passaria a ter controle sobre toda cadeia de produção, do plantio de eucalipto à fabricação de celulose.
Pelo plano original dos Batista, as duas empresas seriam independentes. Assim, a Eldorado compraria madeira da Florestal, como qualquer outro cliente. Além da família Batista, a Florestal tem como sócios o empresário Mário Celso Lopes e os fundos de pensão Petros (dos funcionários da Petrobrás) e Funcef (Caixa Econômica Federal). A Eldorado pertence à família Batista (75%) e a Mário Celso (25%).
Procurado, o BNDES afirmou, por meio de sua assessoria de imprensa, que não pode comentar operações em fase de avaliação. A Petros e a Funcef não quiseram se pronunciar. E a direção da Eldorado, procurada várias vezes, não deu retorno.
Pressão. Segundo fontes envolvidas no processo, desde que souberam da decisão do BNDES, os donos da Eldorado passaram a pressionar a Petros e a Funcef, que têm juntas 49% da Florestal, para que aprovem rapidamente a operação de fusão.
Os Batista estão com pressa, porque já iniciaram as obras de terraplenagem da fábrica de celulose na cidade de Três Lagoas (MS) e encomendaram parte do equipamento. Ao todo, a fábrica deverá custar R$ 4,8 bilhões e terá capacidade para produzir 1,5 milhão de toneladas de celulose por ano.
Os donos da empresa esperam inaugurar a fábrica em 2012, mas o processo de fusão pode atrapalhar esse plano. Para ganhar tempo, eles chegaram a oferecer ao BNDES, no lugar da fusão, um documento garantindo que toda produção da Florestal seria vendida para a Eldorado. A área técnica do banco insistiu na fusão.
Como os últimos empreendimentos de peso financiados pelo BNDES no setor, como o da Suzano e o da Fibria, previam fábricas integradas, aceitar um modelo diferente poderia dar margem a novas críticas sobre o relacionamento entre o banco e a família Batista, controladora do JBS. Plantar suas próprias florestas torna o projeto mais seguro, porque dá ao fabricante segurança no abastecimento e maior controle sobre o preço da matéria-prima.
Dúvidas. A família Batista e os fundos de pensão da Petrobrás e da Caixa já se conhecem há algum tempo. Petros e Funcef são sócias da JBS e, no ano passado, tornaram-se parceiras dos Batista e de Mário Celso também na Florestal. Compraram 49% da empresa de reflorestamento, por R$ 550 milhões. Apesar do histórico, os fundos ainda teriam dúvidas sobre a conveniência da fusão, segundo fontes ligadas às entidades.
Como o projeto da Eldorado prevê investimentos totais de R$ 4,8 bilhões e a Florestal está avaliada em R$ 1 bilhão, a fusão das duas forçaria os fundos a escolher entre diluir sua participação na nova empresa ou colocar mais dinheiro para manter relevância acionária.
Além disso, recentemente funcionários da Petros e da Funcef teriam reclamado de problemas de governança nos negócios dos Batista. Entre outras queixas, a de que "eles decidem muita coisa sozinhos, mudam de ideia sem ouvir ninguém", diz uma fonte ligada às fundações.
Nas duas últimas semanas, representantes da Eldorado tiveram reuniões de trabalho com técnicos da Petros e da Funcef, que pediram mais informações sobre o projeto para poder tomar uma posição.
Até sexta-feira, as fundações ainda não tinham batido o martelo sobre a fusão. Nem os bancos de investimento para assessorar empresas e fundos na operação foram contratados. "Provavelmente essa fusão vai sair, porque existe uma decisão política já tomada para isso. Mas será preciso melhorar o relacionamento", afirma uma fonte que acompanha o processo.
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