Gilmar Mendes, do Supremo, acusa o ex-presidente de pressioná-lo para atrasar o julgamento do escândalo, marcado para este ano; petista nega
Mariângela Gallucci, Fábio Fabrini, Vera Rosa e Júlio Cesar Lima
BRASÍLIA - O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pressionou o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, para adiar o julgamento do mensalão. Segundo reportagem da revista Veja, a conversa teria ocorrido no escritório de advocacia do ex-ministro da Defesa Nelson Jobim.
Questionado pelo Estado, durante evento ontem em Curitiba (PR), Mendes não quis dar declarações, mas confirmou o conteúdo da reportagem e salientou que nem ele nem os outros ministros do Supremo se sentem intimidados pelo ex-presidente. A expectativa é de que o STF julgue a ação no segundo semestre.
De acordo com a revista, Lula teria comentado que o julgamento agora seria "inconveniente" e feito uma oferta velada. Em troca do apoio ao adiamento, Mendes poderia ter proteção na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPI) do Cachoeira.
O ministro do STF é próximo do senador Demóstenes Torres (ex-DEM, sem partido-GO) e há rumores sobre um encontro dos dois em Berlim, supostamente pago por Carlinhos Cachoeira. Lula teria perguntado sobre a viagem e comentado que tem controle sobre a CPI.
Lula teria dito que uma decisão este ano seria muito influenciada pelo processo eleitoral. Porém, haveria uma vantagem extra no adiamento: em 2013, os ministros Carlos Ayres Britto (atual presidente do STF) e Cezar Peluso, considerados propensos à condenação, estarão aposentados.
Procurada, a assessoria de Lula negou a conversa e afirmou que ele nunca interferiu no processo, muito menos pressionou ministros do STF a adiar o julgamento, embora considere o mensalão "uma farsa". Jobim foi na mesma linha. "O quê? De forma nenhuma, não se falou nada disso", reagiu. "O Lula fez uma visita para mim, o Gilmar estava lá. Não houve conversa sobre o mensalão." Jobim disse, sem entrar em detalhes, que na conversa foram tratadas apenas questões "genéricas", "institucionais".
Alvo. Ayres Britto, porém, disse ao Estado que Gilmar Mendes lhe relatou a conversa que teve com Lula, informando sobre "essa história que está na Veja" e que ele "conversou com Lula sobre o mensalão". Ele mesmo correu o risco de ser alvo de investida semelhante. A revista relata que num almoço no Palácio da Alvorada, o ex-presidente teria perguntado sobre um amigo comum, o jurista Celso Antonio Bandeira de Mello, e dito que precisavam tomar um vinho juntos.
Ayres Britto confessou ao Estado que, ao ouvir o relato de Mendes, "acendeu a luz amarela". Mas, depois, concluiu que não havia motivo para preocupação. "A não ser que interpretasse que Lula pretenderia me cooptar por intermédio de Celso Antonio. Mas eu não interpretei assim. Acho que Lula não faria isso porque em nove anos nunca fez. E eu não me prestaria a isso."
Na avaliação de Ayres Britto, não há possibilidade de os ministros do Supremo serem pressionados por causa do julgamento do mensalão. Veja informa ainda que Lula teria dito a Mendes que procuraria o ex-ministro do STF Sepúlveda Pertence para que ele ajudasse a convencer a ministra Cármen Lúcia a adiar o julgamento para 2013. Pertence negou. "Não fui procurado e não creio que o ex-presidente Lula pretendesse falar alguma coisa comigo a esse respeito."
FONTE: O ESTADO DE S. PAULO
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