domingo, 27 de maio de 2012

José Álvaro Moisés, cientista político da USP: As legendas deixaram de ser uma referência

Diretor do Núcleo de Pesquisa de Políticas Públicas da Universidade de São Paulo (USP), José Álvaro Moisés estuda a percepção dos brasileiros em relação às instituições desde os anos 80. Autor e organizador de mais de uma dezena de livros sobre o tema, o professor de Ciência Política da USP conta que a descrença nas agremiações nem sempre prevaleceu.

Zero Hora – Por que o nível de confiança nos partidos é tão baixo?

José Álvaro Moisés – As pessoas têm uma percepção muito forte de que os partidos e os políticos, em geral, não cumprem bem suas funções. Não representam a população e, muitas vezes, só querem atender os próprios interesses.

ZH – Sempre foi assim no Brasil?

Moisés – Os partidos tiveram uma imagem mais positiva sempre que se iniciavam novos regimes, principalmente em 1945 e em meados dos anos 1980. Nessa última fase, havia uma expectativa de que eles completariam a passagem para o regime democrático e atenderiam às reivindicações da população. Isso foi maior em relação ao PT, que, com o mensalão, sofreu uma queda. Mesmo assim, os petistas ainda têm a maior preferência, mas nunca ultrapassam os 12%. São índices relativamente baixos. Os outros partidos, como o PMDB e o PSDB, têm 2, 3, 4%.

ZH – Por que a pessoas perderam a confiança nas legendas?

Moisés – À medida que os partidos chegaram ao poder, ficaram mais pragmáticos, perderam de vista seus programas e conteúdos ideológicos. Além disso, tanto os de esquerda quanto de direita migraram para o centro. Qual é, hoje, a grande diferença entre PT e DEM ou entre PMDB e PSDB? Da parte do eleitor, eles deixaram de ser vistos como uma referência.

ZH – O excesso de partidos no país contribuiu para isso?

Moisés – Quando você tem um número muito grande, em que muitos deles se assemelham, tende a confundir os eleitores. As pessoas passam a ver o político A e B e não mais o partido.

ZH – Qual é a solução?

Moisés – Sou favorável que se estabeleça no Brasil a cláusula de barreira. A cláusula determina que o partido deve ter um percentual mínimo de votos em um número significativo de Estados para estar representado no Congresso e ter direito ao fundo partidário e tempo de TV. Acredito que, no Brasil, o partido deveria ter 5% dos votos em pelo menos nove Estados. Com isso, diminuiria drasticamente o número de partidos. Provavelmente, teríamos apenas seis ou sete e, ao mesmo tempo, haveria uma busca por diferenciação. Fora isso, os líderes partidários precisam dar o exemplo. Têm de mostrar a capacidade que seu partido tem de atender os interesses públicos, e não particulares.

FONTE: ZERO HORA (RS)

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