As urgências da área do euro estão crescendo de maneira assustadora. Não se trata apenas de providenciar socorro para economias incapacitadas de honrar seus compromissos externos ou bancários - casos da Grécia, de Portugal e da Irlanda.
Trata-se, agora, também de impedir séria deterioração das finanças de países bem maiores - como Espanha e, eventualmente, Itália. E, assim, de evitar quebradeira sistêmica dos bancos na Europa, caso algum país seja obrigado a deixar o bloco, como parece provável acontecer com a Grécia.
A saída do euro exigiria troca de moedas. Fiquemos com o caso da Grécia. Como nenhum cliente de banco grego quer dormir com aplicações em euros e acordar com aplicações em dracmas, a corrida aos saques já começou e se intensificará quando a troca de moedas for iminente - se, antes disso, o governo já não tiver decretado feriado bancário.
Esse movimento não se limitará à Grécia. O avanço aos ativos dos bancos já começou em outros países, sobretudo na Espanha. O Bankia, tido há alguns meses como saudável, já precisou de injeção de 10 bilhões de euros. Outras instituições financeiras espanholas precisam de pelo menos 60 bilhões de euros para enfrentar o desassossego dos clientes.
É claro que um ajuste a ser feito com mais crescimento econômico fica mais fácil. Isso é como o trânsito. É bem melhor passar de uma faixa da pista para outra se o trânsito está andando normalmente. Mas tente fazer a mesma coisa quando tudo está emperrado.
Mais crescimento econômico apenas ajudaria a arrumação, quando ela começar. Para que o euro ganhe consistência, é preciso mudar muita coisa.
Não basta existir um banco central forte e independente mais um conjunto de tratados feitos com promessas, até agora não cumpridas, de equilíbrios orçamentários. É necessário arrumar um fundo de socorro (hoje pequeno demais para as necessidades) para ser usado em caso de incapacidade de um país pagar seus compromissos. E é preciso o que até agora não foi possível: montar um sistema federativo na área do euro com um Tesouro comum, bancos em escala regional (e não mais nacional) e uma autoridade central com poder para arrecadar e distribuir recursos. Até agora, todas as tentativas nessa direção foram sumariamente barradas por alguns Parlamentos.
A única proposta que prevê algum grau de federalização é a da criação do eurobônus, que, de algum modo, criaria um sistema de compartilhamento financeiro. Mas, como se sabe, os vetos sumários de Alemanha, Suécia, Áustria e Finlândia o tornam impossível - ao menos por enquanto.
A novidade é que a zona do euro se aproxima de uma situação de ou vai ou racha. Quando de sua criação, os pais do euro, principalmente o então chanceler da Alemanha, Helmut Kohl, e o presidente da França à época, François Mitterrand, foram avisados de que, sem consistência no núcleo da moeda, mais cedo ou mais tarde viria a crise. Mas eles optaram por ir em frente assim mesmo, no pressuposto de que um dia se criariam as condições políticas para a montagem da unidade fiscal e política dentro do bloco. Esse momento chegou. É pegar ou largar.
FONTE: O ESTADO DE S. PAULO
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