Alegando baixo desempenho, a Petrobras rescindiu o contrato de R$ 846 milhões com dois consórcios que têm participação da Delta responsáveis por obras do Complexo Petroquímico do Rio.
Petrobras retira Delta do Comperj e novo dono demite 800 funcionários
Estatal diz que rescisão se deu por conta do baixo desempenho da empresa
Fábio Vasconcelos
RIO E SÃO PAULO - Acusada de envolvimento com o grupo liderado pelo bicheiro Carlinhos Cachoeira, a Delta Construções teve ontem uma forte baixa nos seus negócios. A Petrobras confirmou que rescindiu o contrato de R$ 846 milhões que matinha com os dois consórcios nos quais a empreiteira participava e que eram responsáveis pelas obras de parte do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj). O rompimento do negócio levou a J&F Holding, que passou a administrar ontem a Delta, a dispensar 800 funcionários - 500 operários e 300 técnicos. Os contratos eram com os Consórcios Itaboraí - URE e Itaboraí - HDT, compostos pelas empresas Delta, TKK Engenharia Ltda e a Projectus Consultoria Ltda.
A Petrobras explicou, em nota, que a rescisão se deve ao baixo desempenho da empresa na construção da Unidade Industrial de Tratamento, Recuperação e Armazenamento de Enxofre (URE) e da Unidade de Hidrotratamento de Nafta (HDT). Os dois contratos foram assinados no fim de 2010. Pelo primeiro, o consórcio receberia R$ 532 milhões, enquanto a construção e instalação da HDT renderia R$ 311 milhões. Apesar da decisão anunciada na sexta-feira à empreiteira, a Petrobras manteve o contrato assinado, em 2009, com a Delta no valor de R$ 129 milhões para as obras da segunda etapa de reforma e modernização da Unidade de Tratamento de Águas Ácidas da Reduc. O projeto deve ser concluído em junho.
A Petrobras acrescentou ainda que, com a saída dos dois consórcios, "está estudando a melhor solução para evitar impactos no cronograma do Comperj". Um funcionário de uma das empresas ouvido pelo GLOBO contou ontem que, ao chegar para trabalhar, em Itaboraí, foi orientado a retornar outro dia para acertar questões trabalhistas, já que os dois consórcios tinham sido dispensados. Esse mesmo profissional contou que, a partir de hoje, os consórcios terão que retirar as máquinas do Comperj.
A J&F Holding afirmou que recebeu com surpresa a informação sobre a rescisão do contrato e informou que vai apurar o ocorrido para tomar as devidas providências. A holding ainda se comprometeu a manter o esforço para preservar os cerca de 30 mil empregos da Delta Construções em outras obras da empreiteira em todo o país. O engenheiro civil e administrador de empresas Humberto Junqueira de Farias assumiu ontem o cargo de presidente da empreiteira, em um esforço, segundo uma fonte da J&F Holding, para evitar que o impacto das denúncias de supostas irregularidades em contratos com órgãos públicos prejudique os negócios da construtora.
Desde que veio à tona o envolvimento de diretores da Delta Construções com o bicheiro Carlinhos Cachoeira, a empresa desistiu de participar de outros importantes consórcios no Rio. O primeiro deles, no valor de R$ 859 milhões, foi o de reforma do Maracanã que dividia com a Norberto Odebrecht e a Andrade Gutierrez. Dias depois, a Delta desistiu também das obras do Transcarioca - corredor exclusivo de ônibus que vai ligar a Barra à Ilha do Governador, passando pela Penha. O projeto é de R$ 800 milhões.
Com a prefeitura do Rio, a Delta Construções desistiu de continuar as obras do Morar Carioca orçadas em R$ 109 milhões.
A relação da Delta com Carlinhos Cachoeira surgiu após interceptações telefônicas da PF revelarem conversas do ex-diretor regional da empresa no Centro-Oeste, Cláudio Abreu, com o bicheiro. Para a PF, Abreu era sócio oculto de Cachoeira e a sede da Delta em Goiânia era usada para reuniões do grupo do bicheiro.
FONTE: O GLOBO
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