A Zona do Euro deve entrar em recessão novamente hoje quando for divulgado o dado do PIB do primeiro trimestre. Muito provavelmente, será negativo, pelo segundo trimestre seguido. Além disso, há aumento do desemprego, queda da produção industrial, e uma vasta inquietação popular. Até os alemães estão mandando recados para o governo de que é preciso encontrar outra política econômica que não seja exclusivamente de austeridade.
A derrota da União Democrata Cristã, partido da chanceler Angela Merkel, na Renânia do Norte-Vestfália, o estado mais populoso da Alemanha, é o mais forte recado das urnas à Merkel. Os alemães tinham motivos para serem os últimos a reclamar: o país está crescendo, e a taxa de desemprego é de 5,6%, a menor da Europa. Isso sem lembrar o passado hiperinflacionário que faz com que haja mais apoio ao controle de gastos.
É cada vez mais difícil sair do intrincado problema europeu. A projeção do FMI para a redução do déficit público na Zona do Euro mostra que só em 2015 ele voltará à casa de 1%, o que faria a dívida pública cair. Mas esse objetivo só será atingido se for cumprido o pacto fiscal de Angela Merkel e Nicolas Sarkozy.
Sarkozy está entregando o governo à oposição, que ganhou as eleições; Merkel tem tido sucessivas derrotas em eleições regionais. A Zona do Euro vê como cada vez mais provável o risco de que um dos países deixe o bloco. A Grécia não conseguiu formar governo e se houver nova eleição o provável é o fortalecimento dos partidos radicais, à direita e à esquerda. O país vive uma fragmentação política e polarização. Os gregos parecem saber o que não querem, mas não demonstram saber o que querem.
Se os gregos decidirem sair da Zona do Euro a situação do país vai piorar no curto prazo. A volta para a moeda nacional acabará provocando uma queima de ativos das famílias e das empresas porque a taxa de conversão para o dracma evidentemente não será neutra. Outro problema será o risco de inflação.
O "Financial Times" explicou a onda de queda das bolsas como resultado do medo de que não funcione a blindagem da Europa para evitar a contaminação de uma saída desordenada da Grécia do bloco. Se a blindagem não funcionar, outros países serão afetados pelo aumento da percepção de risco. O primeiro caso seria a Espanha, mas não é o único. Os títulos da Espanha e os papéis de 10 anos da Itália bateram no nível mais alto do ano, num sinal do temor dos investidores. A saída desordenada da Grécia estava sendo considerada um risco afastado, por causa da renegociação da dívida. Desde a eleição, no entanto, que mostrou a pulverização do poder político, o temor voltou.
- Se houver coalizão na Grécia será para sair da Zona do Euro e não para ficar. Na Espanha, a Comissão Europeia admitiu que o déficit do país não será reduzido como se imaginava, e na Alemanha o último governo que ainda não perdeu eleições pode estar com os dias contados - disse o economista Eduardo Velho, da Prosper Corretora.
O drama grego refletiria em todos os países europeus, em maior ou menor grau. A Fitch avisou que nesse cenário pode colocar em perspectiva negativa todos os governos do bloco, e os países que já estão em perspectiva negativa correm mais risco de serem rebaixados, como Portugal, Chipre, França, Itália, Irlanda, Eslovênia e Bélgica. A agência avalia que "a saída da Grécia quebraria um princípio fundamental que sustenta o euro: a de que a adesão à união monetária é irrevogável."
A Espanha está pagando um custo maior na sua dívida porque os credores temem a crise no sistema bancário do país, que precisará de 22 bilhões para se capitalizar. Na França, passada a euforia com a vitória de François Hollande, restará saber como ele ao mesmo tempo corrigirá seu déficit, em torno de 5%, reduzirá o endividamento de 87% do PIB, e combaterá o desemprego de 10%. Com tantas incertezas, as bolsas caíram. O Ibovespa fechou em queda de 3,2%, e sobe 1,4% este ano depois de se valorizar mais de 20% (vejam no gráfico).
- O cenário é de incerteza também no Brasil, com o câmbio em outro patamar, a inflação maior, e um cenário de juros nunca visto. O nível de atividade não deu ainda sinais de recuperação forte - afirmou Wagner Salaverry, da corretora Geração Futuro.
O dólar atravessou a barreira dos R$ 2 e provou mais uma vez que o real se desvaloriza não quando o governo quer, mas quando a incerteza no mundo aumenta. O impacto de um dólar tão forte aumenta o risco de inflação e de crescimento mais fraco, segundo projeção das instituições que são pesquisadas semanalmente pelo Banco Central.
FONTE: O GLOBO
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