Ainda não será na sessão desta noite que o TSE decidirá se o PSD tem ou não direito a recursos do fundo partidário e a tempo proporcional à bancada no horário de propaganda eleitoral gratuita no rádio e na televisão. O ministro José Dias Toffoli, que pediu vistas ao processo na sessão de 24 de abril, está viajando e não voltará a tempo de apresentar seu parecer. Principal arquiteto da sigla, o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, se diz "supertranquilo", apesar do atraso. "Todos já encaminharam seus acordos de tevê", diz
O julgamento está 2 x 1 em favor da pretensão do PSD. Kassab diz não ter dúvidas de que o voto favorável do relator do processo será majoritário, ao final do julgamento, assim como a disputa pela Prefeitura de São Paulo "vai polarizar" entre José Serra, o candidato do PSDB, e o PT do ex-ministro da Educação Fernando Haddad. O prefeito duvida da eficácia do discurso sobre a necessidade da troca de guarda geracional que permeia a disputa paulistana.
Essa é uma novidade na pré-campanha de São Paulo. A menos de cinco meses da eleição, há um processo natural de acomodação de forças em São Paulo, muito embora nem sempre os movimentos de bastidor sejam reconhecidos publicamente pelos dirigentes partidário. À esquerda, a força gravitacional do PT começa a se fazer sentir entre as siglas.
Sem entusiasmo, PCdoB e PSB apoiarão Haddad
O PCdoB decidiu canalizar seus esforços e recursos na eleição de três prefeitos de capitais, Porto Alegre (RS), Florianópolis (SC) e Fortaleza (CE), campanhas em que efetivamente dispõe de condições de vitória. Na prática, isso significa que o partido, em São Paulo, apoiará o candidato do PT, Fernando Haddad, o que é mais provável, ou Gabriel Chalita, do PMDB. O problema dos comunistas, agora, é como descartar a candidatura de Netinho de Paula, sem queimar uma liderança que bem ou mal lhes assegura algo em torno de 8% dos votos num grande colégio eleitoral como o de São Paulo, o maior do país.
Segundo pesquisa Ibope divulgada semana passada, o ex-vereador Netinho de Paula está com 8% das intenções de voto, bem à frente de Haddad (3%) e com ligeira vantagem em relação a Soninha Francine (PPS) e Chalita, com 7% e 6%, respectivamente, e atrás somente do líder José Serra (31%) e do segundo colocado, Celso Russomano (PRB), com 16% de apoio entre os eleitores paulistanos. Pragmático, o PCdoB avaliou que não tem como enfrentar máquinas bem mais azeitadas e poderosas como o governo estadual, a prefeitura municipal (ambos formalmente com José Serra) e o PT, que terá pelo menos 25% dos votos, na eleição de outubro, sem falar na incógnita representada por Chalita, o dândi candidato do PMDB.
Para otimizar os recursos do partido, o PCdoB elegeu suas prioridades nas três disputas em que seus candidatos lideram ou estão em situação de empate técnico com outros partidos competitivos - na capital gaúcha, a deputada Manuela D'Ávila, a deputada Ângela Albino, na vizinha Florianópolis e o senador Inácio Arruda, na capital do Ceará. Eventualmente o esforço partidário pode migrar para cidades como Salvador (BA) ou Goiânia (GO), se os candidatos da sigla transformarem-se de promessa em possibilidade real de vitória. Por enquanto, essas são as três capitais eleitas e entre elas não está São Paulo de Netinho de Paula.
A dúvida do PCdoB é quem apoiar já no primeiro turno da eleição. O partido é um aliado mais que tradicional do PT, mas sua nomenclatura considera Haddad um candidato pesado, difícil de ser carregado, um erro de Lula, muito embora a lógica da renovação seja acertada, no entendimento dos comunistas. A opção seria Gabriel Chalita, candidato que pode ter o apoio, velado mas efetivo, de uma das três máquinas estaduais, caso o imponderável aconteça e a candidatura José Serra faça água. O mais provável é que o PCdoB apoie Fernando Haddad. É grande a dificuldade de o partido cortar o cordão umbilical que o liga ao PT de São Paulo.
Haddad também terá o apoio do PSB, apesar da oposição dos dirigentes da seção local. Eduardo Campos não ficará contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A situação do governador de Pernambuco e presidente nacional do PSB em relação a Lula é parecida com a do prefeito Gilberto Kassab diante da candidatura tucana de José Serra. Kassab não tinha como dizer não a quem o fez prefeito de São Paulo; Campos era o governador mais influente do Nordeste à época de Lula na Presidência da República. Em 2014 pode ser o candidato a vice numa chapa encabeçada por Lula ou Dilma. Ele também é uma alternativa ao PT do ponto de vista dos outros aliados do governo e até de parte da oposição, cada dia mais cética sobre a candidatura do senador Aécio Neves (MG).
Nem o PCdoB nem o PSB comungam da avaliação de José Dirceu, segundo a qual a aprovação popular de Lula e da presidente Dilma Rousseff significa que os brasileiros querem a continuidade do PT no Palácio do Planalto, depois de 2014. "Não é bem assim", exclamou dirigente de um desses dois tradicionais aliados do Partido dos Trabalhadores, enquanto lia o texto no qual José Dirceu afirma ser de 89% o percentual dos brasileiros que defendem o continuísmo petista (a soma dos 32% dedicados à reeleição de Dilma com os 57% dos eleitores que disseram apoiar a volta de Lula, segundo o Datafolha).
Kassab acha que a disputa ficará entre Serra e Haddad porque o tucano lidera e o PT terá 25% dos votos mesmo se tudo der errado na campanha de Haddad. "Mas o Serra é o favorito", diz. "Essa história de que é velho não pega. Ninguém gosta de chamar de velho o pai de 70 anos".
Em conversa recente com dirigentes partidários, o presidente do Senado, José Sarney, fez comentários sobre a pré-candidatura presidencial de Aécio Neves (PSDB): "Houve uma época em que meus filhos não queriam largar a juventude", disse o ex-presidente, segundo um desses dirigentes. Para Sarney, o mesmo parece ocorrer com o senador mineiro. Seu diagnóstico: Aécio é uma "liderança apagada" no Senado.
FONTE: VALOR ECONÔMICO
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