Presidente disse que não vai levar em conta sugestão de demitir o ministro e
acrescentou que "em hipótese alguma" será influenciada pela opinião
da revista
Tânia Monteiro, Lisandra Paraguassu, Iuri Dantas
BRASÍLIA - A presidente Dilma Rousseff e um de seus ministros mais próximos
defenderam ontem publicamente a permanência do economista Guido Mantega à
frente do Ministério da Fazenda e criticaram a prestigiada revista inglesa
"The Economist" por sugerir que ele deveria deixar o cargo. Tanto a
presidente quanto o ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, trataram o
editorial da revista como uma afronta à soberania e uma interferência em
assuntos internos.
"Nós todos aqui somos a favor da liberdade de imprensa. Então não tem
nenhum senão a dizer sobre o direito de qualquer revista ou jornal falar o que
quiser", afirmou Dilma a jornalistas, ao deixar a reunião de cúpula do
Mercosul. "Só quero me manifestar que, em hipótese alguma, o governo
brasileiro eleito pelo voto direto vai ser influenciado pela opinião de uma
revista que não seja brasileira."
Assídua leitora de jornais e revistas, nacionais e estrangeiras, Dilma
criticou a postura da revista inglesa conhecida por defender ideais liberais e
pouca interferência do Estado na economia. "Eu nunca vi nenhum jornal
propor a queda de um ministro. Estamos crescendo a 0,6% neste trimestre. Nós
vamos crescer mais no próximo. Então a resposta é: de maneira alguma eu levarei
em consideração essa, digamos, sugestão. Não vou levar."
Em sua edição desta semana, a Economist aponta justamente a mão pesada do
Estado brasileiro como um dos fatores para o fraco desempenho econômico neste
ano e o fato de Mantega esperar o dobro de crescimento de julho a setembro.
Dilma chega a ser descrita como a "intrometida em chefe" na economia.
Depois de crescer 7,5% no último ano do governo Luiz Inácio Lula da Silva, o
Produto Interno Bruto (PIB) desacelerou e pode avançar menos de 1% neste ano.
Precipitação. Pimentel bateu na mesma tecla que a presidente, de quem é
amigo há décadas. "No dia em que a Economist nomear ministro no Brasil,
deixaremos de ser uma República", afirmou, antes de participar do primeiro
Fórum Empresarial do Mercosul. Em resposta às críticas da revista, Pimentel
disse que o governo está construindo as bases da retomada do crescimento do
País.
Ele estimou, ainda, que o desempenho da economia brasileira vai superar a
média mundial no ano que vem. Segundo o Ministério da Fazenda, o PIB nacional
vai crescer 4% em 2013. "A Economist foi um pouco precipitada",
complementou.
O ministro defendeu a interferência do governo no mercado de moedas.
"Toda vez que o mercado agir claramente contra a taxa de câmbio, o governo
vai intervir para impedir que isso prejudique a competitividade", disse
Pimentel, confirmando a postura criticada pela Economist. "Mas o câmbio
continua flutuante."
Demonstrando irritação, Dilma também criticou a situação econômica do Reino
Unido, que, apesar da crise, cresceu 1% no terceiro trimestre, acima da taxa
brasileira de 0,6%. "Vocês não sabem que a situação deles é pior que a
nossa? Pelo amor de Deus, desde 2008", disse a presidente. "Não temos
crise de dívida soberana. A nossa relação dívida/PIB é de 35% e a inflação está
sob controle."
Fonte: O Estado de S. Paulo
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