Fernanda Pires
SANTOS - Ao discursar para prefeitos paulistas reunidos em Santos, no litoral, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) criticou ontem a concentração de impostos na União sem a "justa" divisão de recursos com os municípios. Ele condenou a "voracidade tributária" por parte do governo federal, numa saraivada de críticas à propaganda oficial do Planalto. Aécio é pré-candidato à Presidência da República.
A plateia era composta por mais 600 prefeitos paulistas - a maioria dos quais tucanos. Aécio chegou ao evento ao lado do governador Geraldo Alckmin (PSDB), adiantando a ida originalmente programada para hoje. Em princípio, o senador participaria do congresso no mesmo dia que Eduardo Campos (PSB), governador de Pernambuco e também pré-candidato ao Palácio do Planalto.
"É necessária uma refundação da Federação para que os municípios recebam as receitas programadas", disse Aécio. "Hoje vivemos quase um Estado unitário no Brasil."
O senador classificou os cortes de impostos que vêm sendo promovidos pelo governo Dilma, como as reduções do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), como "bondades setoriais" realizadas com o chapéu dos Estados e municípios, que perderiam em arrecadação de ICMS.
Ao comentar os ciclos de centralização de poder na União, desde a Proclamação da República, Aécio chamou de "revolução" a ditadura militar de 1964.
"Veio a Revolução de 64, novo período de grande concentração de poder nas mãos da União, apesar de ter sido um período em que foram criadas políticas compensatórias para regiões menos desenvolvidas".
O termo "revolução", geralmente usado por militares e considerado por historiadores um eufemismo para designar os duros tempos de repressão política, rendeu uma explicação de Aécio à imprensa. "É ditadura, revolução, ditadura, regime autoritário, que todos lutamos muito para que fosse vencido. Uma ditadura que não queremos que se repita mais".
Instado a comentar a volta do PR ao comando do Ministério dos Transportes com a nomeação do ex-governador baiano César Borges, após a presidente Dilma Rousseff tirar Alfredo Nascimento da Pasta por suspeita de corrupção, o tucano afirmou que "aquele discurso na verdade era sem consistência".
Após a fala do senador, foi a vez de Alckmin. Antes de anunciar medidas de incentivos a cidades paulistas, como fizera no mês passado, o governador - pré-candidato à reeleição - apresentou Aécio com "um grande estadista". Disse que o correligionário é "um líder do federalismo, do municipalismo, da boa gestão". Alckmin também engrossou as críticas ao instinto arrecadatório da União, citando a destinação de 1% do Pasep da arrecadação de municípios e Estados ao governo central.
O senador negou que tenha adiantado a ida ao evento para evitar o encontro com o governador de Pernambuco. "Encontro com o Eduardo todo o dia, mais do que vocês imaginam".
Questionado pelo Valor se não achava intrigante o deputado federal Márcio França (PSB) estar cotado para ser candidato a vice de Alckmin na tentativa de reeleição do governador, Aécio afirmou que não entra na política local. "O Geraldo saberá fazer as boas escolhas, como sempre fez."
França é o presidente do PSB de São Paulo e responsável por coordenar a agenda de eventos de Eduardo Campos no Estado.
Fonte: Valor Econômico
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