Enquanto governos e partidos reagem politicamente (e atabalhoadamente) à grande maioria dos manifestantes, os órgãos de inteligência se esforçam para mapear as minorias violentas.
Eles identificaram um modo de ação comum nas várias capitais, semelhante ao da cartilha "agitprop" (agitação e propaganda): radicais conduzem a massa para alvos sensíveis e, ali, partem para o ataque, com panos na cabeça, coquetéis molotov, paus e pedras, ganhando mais evidência do que a maioria. Atraem os flashes e ocupam os espaços na mídia, agora até na internacional.
Homens de inteligência trabalham minuciosamente em fotos e imagens tanto divulgadas pela internet, TVs, jornais e revistas quanto produzidas por seus próprios agentes.
Querem identificar os líderes das depredações: quem são, de onde são e por onde têm andado, rastreando a eventual presença de algum, ou alguns deles, em mais de uma capital. Depois, a peneira: separar quais são bandidos comuns, quais têm motivação política, quais premeditaram o vandalismo e quais aderiram no calor do quebra-quebra, num processo conhecido como "perda de personalidade": no meio da massa de arruaceiros, o garoto normal, tranquilo, se transforma subitamente num deles.
A pergunta básica dos órgãos de segurança foi potencializada pela provocação do primeiro-ministro da Turquia, Tayyip Erdogan, ao declarar que os dois países são alvos de "conspiração internacional": os quebra-quebras foram espontâneos? Ou têm um cérebro por trás, a serviço de interesses ainda escamoteados?
OK, é dever de governos, instituições e sistemas de defesa saber onde o país pisa hoje e para onde caminha amanhã, mas parece uma perda de tempo antiquada, fora de lugar, querer achar ideologias e infiltrações externas em revoltas que têm apoio da maioria dos brasileiros e motivações claríssimas. Todo mundo já sabe perfeitamente por que surgiram e por que ganharam tal dimensão.
Fonte: Folha de S. Paulo
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