Os políticos também. Pelo menos, a maioria, quando percebe que está em queda ou “a perigo”, trata logo de criar um fato para sair do epicentro do redemoinho. Tudo o que se viu até agora nos Três Poderes, essa semana, foi no sentido de cada um salvar a própria pele contra a onda provocada pelos passos do gigante acordado chamado Brasil.
O Supremo Tribunal Federal (STF) mandou prender o deputado Natan Donadon, do PMDB de Rondônia; os congressistas derrubaram a PEC 37, que limitava os poderes de investigação do Ministério Público; e aprovaram, na Câmara, a destinação de royalties do petróleo para educação e saúde. E o Poder Executivo, além de mais recursos para áreas prioritárias, prometeu acelerar obras e acenou com o plebiscito para proceder a reforma política.
Esse plebiscito ocupou todo o dia de Dilma ontem. Pela primeira vez, em dois anos e meio de governo, a classe política não pode reclamar de convites para reunião com a presidente. De concreto, ela recebeu uma sinalização positiva de todos para a realização do plebiscito que decidirá quais pontos devem balizar uma reforma política. Mas, até aqui, isso não quer dizer muita coisa em termos práticos.
O plebiscito não sairá tão rápido quanto planejou Dilma. Mas, no geral, como já foi dito aqui, ocupa o Congresso, fazendo com que ela ganhe tempo para cuidar de outros assuntos, como a economia e os serviços públicos, objetos de uma reunião ministerial que deve ocorrer ainda neste sábado. E, ainda mais, se o plebiscito demorar ou ficar para o ano que vem, junto com as eleições, a presidente sempre poderá dizer que fez a parte dela e a culpa é... do Congresso (sempre ele!).
Enquanto isso, no Congresso...
Ocorre que, assim como Dilma, os congressistas também estão empenhados em dar o melhor de si no jogo da sobrevivência. E se, mais à frente, tiverem que escolher entre preservar a presidente ou a si mesmos, eles não hesitarão em adotar a máxima do gato. Conforme você leitor pode ler hoje aqui, no Correio, o presidente em exercício do PTB, Benito Gama, levantou a tese dos cinco anos de mandato sem reeleição, proposta, aliás, já defendida pelo presidente do PSDB, Aécio Neves.
Embora ambos tenham ressalvado que nada disso valeria para 2014 — contaria apenas para as eleições de 2016 em diante —, certamente esquentará o debate jurídico e, por si só, é capaz de ofuscar outros pontos a serem levantados em um plebiscito para a reforma política. Para completar, fica impossível tratar do tema descolado da figura presidencial da hora, ou seja, a presidente Dilma.
No embalo dessa tese, há outros que todos dizem hoje não temer, mas não querem, caso do chamado ato revogatório: Quem, na metade do mandato eletivo, não cumprir aquilo que prometeu pode receber legalmente um cartão vermelho do eleitor — para usar a linguagem futebolística que, no Brasil, não cai de moda.
Nesse clima de quase aversão aos partidos, que surgiu nas manifestações, há quem diga que virá o voto facultativo e a tal candidatura avulsa, onde um cidadão pode ser candidato sem necessariamente ser filiado a nenhuma sigla partidária, reforçando a chamada democracia direta.
Por conta dessas propostas, existe quem considere a sugestão do plebiscito um tiro no pé da classe política. Portanto, não se surpreenda, leitor, se logo ali, a reforma política terminar de novo decantada, no fundo do copo. Afinal, até o momento, há mais dúvidas do que certezas sobre o tema.
E no Planalto...
É fato que, com a proposta do plebiscito, a presidente Dilma Rousseff conseguiu até aqui mudar o foco das discussões políticas no Congresso Nacional, jogando uma agenda fora dos temas polêmicos, como emenda 29, que fixa mais recursos para a saúde e o fim do fator previdenciário. Entretanto, ainda não atingiu o objetivo de travar a cadeira giratória dos manifestantes na direção do Congresso Nacional. Até porque, na noite de quarta-feira, em Brasília, uma das palavras de ordem que ecoava no gramado era “Ei, Dilma! Vai consultar no SUS”. Ou seja, a agenda das ruas é outra. Se for para os eleitores opinarem sobre a reforma política, precisarão primeiro conhecer o que é cada sistema, e não se tem hoje a menor idéia de quem exporia as propostas na tevê.
Fonte: Correio Braziliense
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