O presidente do Supremo não admite candidatura, ainda
O instituto de pesquisa Datafolha, pela segunda vez em um ano, apresentou o nome do presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, ao escrutínio do eleitorado. A resposta foi uma avalanche de intenções de voto: 15% no Brasil, 20% em São Paulo, empate real no segundo turno no maior colégio eleitoral, 41 a 40, e empate técnico 44 a 38, no segundo turno, no Rio. Na pesquisa de dezembro do ano passada ele recebeu 10% das intenções de voto. Um crescimento e tanto, um sucesso para um magistrado que não é político, não faz campanha, não é candidato - ainda - e está tecnicamente mergulhado em um assunto que lhe rende a má vontade dos políticos e, principalmente, da legenda que comanda o país e de seus dirigentes com capacidade de amplificação da voz. Por último, mas não menos estridentes, tem contra si os filiados a duas notórias organizações de classe que o elegeram como inimigo e não perdem oportunidades para o demonstrar.
À medida que vão surgindo esses cenários eleitorais favoráveis, sem contar que 66% do eleitorado pede mudanças das ações do próximo governo com relação ao atual, é possível encontrar sentido na desconsideração a Joaquim Barbosa, presidente de um poder, magistrado que reúne em si uma simbologia importante para a história brasileira. Está claro que os líderes das campanhas contra o presidente do Supremo temem sobretudo a transformação das intenções de voto em voto, o êxito eleitoral. E fica evidente a descrença dos concorrentes na informação de que Joaquim Barbosa não é candidato a qualquer cargo, em qualquer tempo, em qualquer lugar - ainda.
Impressionante como se dá, à luz do dia, a transformação do juiz da Suprema Corte em alvo político, triturado pelos profissionais da propaganda negativa, enquanto faz seu trabalho, hercúleo, que durou oito anos, no julgamento da Ação Penal 470, o mensalão.
Mas Joaquim Barbosa, ultimamente, vem apresentando nuances de temperamento e mais ainda de comportamento. O ponto de inflexão, anote-se, foi a discussão em que atribuiu a manobras do colega Ricardo Lewandowski o caráter de chicanas protelatórias do fim do julgamento e aplicação das penas do mensalão. Percebido o exagero e a ofensa, decidiu, na ocasião, se desculpar. Foi o que fez e, em seguida, concentrou-se.
Mesmo nessa fase silenciosa não deixou de ser assediado Brasil afora por taxistas, camareiras de hotel, policiais que lhe fazem a segurança, estudantes, senhoras e senhores brasileiros, imprensa estrangeira, e por aí afora. A discrição e o silêncio, porém, passaram a distingui-lo, afastando-o até dos embates mais acalorados em plenário do STF e no Conselho Nacional de Justiça, mesmo em outros assuntos que não a famosa ação penal.
O atual momento da ação, de aplicação das sentenças, uma atribuição pessoal sua, com as prisões dos políticos e empresários, já encontrou-o em outro estado de espírito, embora seus detratores tenham insistido em um ou outro desentendimento entre juízes brasilienses executores dos mandados de prisão, e a insuficiência de informação e competência de advogados de defesa, como equívocos propositais para aparecer de caçador de corruptos no feriadão da República.
Ao seu redor apenas contabilizam-se os fatos que desmentem as versões, nada mais é autorizado. Joaquim vetou espetacularização nas prisões, pedindo urbanidade e respeito aos direitos dos presos, comentam. Joaquim mandou que se apresentassem em Brasília porque o processo foi julgado em Brasília para, a partir daí, verificar onde lhes convinha cumprir a pena, informam. Os mandados de prisão são expedidos à medida que o procurador-geral determina, há uma cadeia de ações na execução das sentenças, alegam.
Mas ele mesmo não reage a nada. Melhor de saúde, definiu um foco e seguiu adiante, o de encerrar o seu trabalho da melhor forma possível. A futura fase do mensalão, de julgamento dos embargos infringentes, já não será mais com ele.
Assim o encontrou a atual pesquisa Datafolha. Quando apareceu bem situado na primeira enquete que o incluiu entre os possíveis candidatos a presidente - e só tinha 10% à época -, e pressionado a comentar o bom resultado, o ministro saiu dizendo que não era candidato naquele momento, mas não saberia dizer nada sobre o futuro. Desta vez nem isso falou. O juiz sabe que não pode ceder às provocações de qualquer espécie, principalmente às que misturam a crítica às suas ações na execução das sentenças do mensalão com os temores sobre o que fará com tão generosos índices de intenção de voto.
Joaquim Barbosa não falará sobre eleições, não confirmará candidatura, não responderá aos que lhe informam que nenhum partido o quer. Realmente, os partidos, por aqui, estão em plenas condições de desprezar um potencial candidato com 15% dos votos no Brasil e 20% em São Paulo.
Assim, calado estava o presidente do Supremo antes da pesquisa, calado permanecerá. Porém não se vai aqui cair na tentação de dizer o óbvio, que tudo realmente aponta para a oportunidade única de uma candidatura do ministro Joaquim Barbosa, seja a presidente, seja a cargos em São Paulo, no Rio ou em Brasília. Isso é fato. Mas o presidente do Supremo, hoje menos emoção e mais estratégia, não se sente impelido a confirmar ou negar nada. Tirou a questão do seu radar e seus eleitores só vão saber o que fará quando colocar um ponto final no mensalão. A data está próxima.
Os publicitários de campanha acham que Joaquim Barbosa é puro marketing, faz tudo de caso pensado tendo em vista seu interesse em candidatar-se em qualquer tempo. Ele não se interessa em desfazer a má impressão. O PT e seus aliados também veem em todas as suas decisões a marca do oportunismo eleitoral. Ele também não aceita dar entrevistas para responder a nenhum ataque deste tipo. Uma rede de TV estrangeira viajou a Brasília para conversar com ele sobre o assunto e não foi recebida. Cancelou um pedido de entrevista do "El País" e de outros notáveis. No Brasil, não está falando com ninguém. Primeiro a obrigação. Depois é depois.
Fonte: Valor Econômico
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