quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Inflação míngua o consumo

O aumento do custo de vida restringe o poder de compra dos brasileiros. Ainda assim, despesas das famílias evitam resultado pior da atividade

Diego Amorim, Guilherme Araújo

A demanda das famílias por produtos e serviços não garante mais o crescimento econômico do Brasil nem é suficiente para assegurar bons resultados no comércio. Divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os números do Produto Interno Bruto (PIB) do terceiro trimestre deste ano confirmam os danos provocados pela persistente inflação em 2013, que corroeu o poder de compra dos clientes e o faturamento dos comerciantes. Não à toa, o setor espera um Natal menos eufórico e um ano-novo repleto de incertezas.

Embora o consumo das famílias tenha aumentado 1% no trimestre — os gastos delas somaram R$ 764,9 bilhõe no período —, em relação aos três meses imediatamente anteriores, o avanço mais tímido desse indicador reforça que a capacidade de endividamento dos brasileiros chegou ao limite. “Estamos vivendo uma ressaca do consumo, que não para de perder força”, comentou a economista e professora da Fundação Getulio Vargas (FGV) Virene Matesco.

Como consequência do crescimento dos custos dos comerciantes, o varejo estagnou. “Venda boa não é mais garantia de faturamento. O pequeno aumento da receita foi abafado pelas despesas maiores”, disse o economista da Confederação Nacional do Comércio (CNC) Fabio Bentes. Neste ano, 75% da expansão registrada no setor é resultado do encarecimento do custo de vida, e não da alta real das vendas.

Pesquisa do Boston Consulting Group indica as consequências da combinação juros altos, crédito caro e inflação no horizonte: nos próximos 12 meses, 66% dos brasileiros pretendem gastar menos frente ao ano anterior. Na China e na Índia, outros dois importantes países do Brics, esse percentual cai para 33% e 49%, respectivamente. O mesmo levantamento aponta que somente um terço dos entrevistados no Brasil se considera seguro financeiramente.

Todos os anos, o servidor público Pedro Dourado, 48 anos, se esforça para não deixar ninguém da família sem presentes. Às vésperas de mais um Natal, enquanto percorre os corredores dos shoppings, ele se diz assustado com a alta dos preços. “Está fora do patamar do nosso salário. O crescimento da renda não acompanhou a inflação”, observou ele, ao lado da mulher, Josilene Dourado, e da filha Gabriela, 5 anos.

Renda no limite
A professora Diana Lago, 40, estava ontem de sacola nas mãos, mas só comprou o sapato para a filha Jéssica, 21, depois de muita pesquisa de preço. “Neste ano, percebi uma alta maior e estou mais atenta. Uso bastante o cartão de crédito e divido, no máximo, em quatro vezes, para não perder o controle”, contou. Com a inflação, a dona de casa diz que as compras cotidianas pesaram no bolso. “Tive de substituir alguns produtos, principalmente alimentos”, completou.

Mãe de dois filhos, Valdelice Tavares, 42, vende frutas e verduras numa feira em Samambaia. O salário do mês já está todo comprometido com o pagamento de dívidas. Para fazer as compras de fim de ano, ela dependerá do crédito. “Ganho R$ 1 mil por mês. Minha renda está no limite. Mas, mesmo assim, não posso deixar de presentear os meus filhos”, ponderou ela, que planeja parcelar as compras de Natal.

Mesmo em promoção, os preços nas vitrines continuam salgados, na avaliação da enfermeira Regina Célia dos Santos, 30, que procurava, ontem, ao lado do filho João Elias, 5 anos, as melhores oportunidades para mobiliar o apartamento novo da família. “Depois que vi o valor da cama e da mesa de jantar, percebi que foi uma boa ideia ter me planejado. Reservei um dinheiro para pagar à vista”, comemorou. Elias pediu uma bicicleta de presente de Natal. A mãe se esforçará para ajudar o Papai Noel. “Ele é um ótimo filho. Está bem na escola e merece”, justificou.

» Salário mínimo R$ 0,66 maior
A revisão do Produto Interno Bruto (PIB) de 2012, divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), altera — embora muito pouco — o salário mínimo para 2014. O valor vigente a partir de 1º de janeiro deve subir de R$ 722,90 para R$ 723,56, um leve aumento de R$ 0,66. Desde 2007, o reajuste do salário mínimo é definido com base na inflação acumulada do ano anterior e a variação do PIB de dois anos antes. Apresentado em agosto pelo Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, o Projeto de Lei Orçamentária (Ploa) previa acréscimo de 6,62% sobre o valor atual do mínimo, de R$ 678. Como o IBGE reviu o PIB do ano passado de 0,9% para 1%, a correção esperada crescer para 6,72%.

Fonte: Correio Braziliense

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